Da França em sobressalto ao furacão PNS no parlamento

Regresso de Pedro Nuno Santos ao lugar de deputado, relatório preliminar da CPI na TAP e crispação no PSD em redor de Miranda Sarmento agitaram parlamento, numa semana que arrancou com França ainda a ferro e fogo devido à morte de Nahel e que fechou com o governo português a sofrer a 13.ª baixa em 15 meses.
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Sábado, 1 de julho

O ataque à casa de um autarca em L"Hay-les-Roses, que provocou ferimentos na sua mulher e num dos filhos, e a continuidade dos tumultos em várias cidades de França (foram detidas mais de 700 pessoas na noite de sábado), marcaram o dia em que se realizaram as cerimónias fúnebres de Nahel, o adolescente francês de 17 anos, de origem argelina, morto a tiro pela polícia em Nanterre. Após cinco dias que deixaram a França em alerta, a avó de Nahel pediu o fim dos protestos violentos, apelando "às pessoas que estão a destruir" para deixarem de usar o neto "como pretexto". A repressão das autoridades, o racismo e sentimento antiemigração e as fracas condições de vida para quem cresce em bairros periféricos têm estado em destaque na agenda política francesa e a morte de Nahel voltou a acender o rastilho. Segundo o Instituto de Estatística de França, 5,2 milhões de pessoas (8% da população do país) habitam em bairros sociais e 56,9% das crianças que lá vivem estão em situação de pobreza enquanto no restante país essa taxa é de 21,2%. Dados avançados pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin, na terça-feira evidenciam bem como os protestos alastraram entre as gerações mais novas: a idade média dos 3200 detidos à data era de apenas 17 anos.

Domingo, 2 de julho

Portugal partia como uma das seleções favoritas à conquista do Europeu de sub-21, título que ainda não soma no palmarés (foi finalista em 1994, 2015 e 2021), mas os pergaminhos caíram por terra. Domingo, acabou eliminado do torneio, nos quartos de final, ao perder frente a Inglaterra por 1-0, e o resultado significou também o adeus a uma vaga nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Além da onda de lesões que varreu a equipa (entre outros, ficou sem o capitão Fábio Vieira já durante o estágio), a não convocação de jogadores elegíveis para esta seleção como Gonçalo Ramos, António Silva, Gonçalo Inácio e Vitinha (todos eles envolvidos nos trabalhos da equipa A) também acabou por condicionar as reais ambições portuguesas na prova. "Na verdade, em termos da qualidade que esta seleção de sub-21 costuma apresentar, não o conseguimos fazer. Só muito pontualmente. Isso é algo concreto, palpável e até mensurável em alguns aspetos. Houve coisas que conseguimos colocar em campo, mas a qualidade não foi uma delas", afirmou o selecionador Rui Jorge.

Segunda-feira, 3 de julho

"Tem feito um trabalho excecional à frente da bancada" do PSD. O elogio feito por Luís Montenegro, na segunda-feira, a Miranda Sarmento surge perante o aumento da crispação nas hostes sociais-democratas em relação à atividade do líder parlamentar, como deu conta ao DN uma fonte do partido na semana passada: "Há vozes [no parlamento] que o contestam? Há. Há desconforto? Há. Há desacertos? Há. Há desagrados? Há. Há mau ambiente? Há". A este juntaram-se outros testemunhos que atestaram um ambiente de fim de ciclo em que a prioridade passará por preparar uma "saída limpa" para o coordenador do último programa eleitoral e autor da moção de estratégia de Montenegro. Dias após a publicação do DN, o Observador noticiou um alegado conflito de interesses, denunciado sob anonimato por deputados do PSD, que envolvia Miranda Sarmento e a sua mulher, médica no Santa Maria, e que teria motivado a retirada de um requerimento para audição urgente da Administração do hospital e de Diogo Ayres de Campos, diretor exonerado do departamento de Obstetrícia. Desta vez, Miranda Sarmento reagiria. Sem meias palavras. "Que haja deputados que entendem que não sou um bom líder parlamentar, que não tenho perfil político e que outros seriam melhores, é algo que posso aceitar, sem qualquer problema (...). Que o façam nos jornais, a coberto do anonimato, parece-me de uma profunda cobardia que só prejudica o PSD", escreveu em mensagem aos deputados do partido, acrescentando que o envolvimento da sua mulher, que "nunca teve nada a ver com a política", é algo "baixo, reles e indigno". A "saída limpa" está a complicar-se. E muito.

Terça-feira, 4 de julho

O regresso de um deputado à Assembleia da República está longe de ser um acontecimento nacional, mas no caso de Pedro Nuno Santos (PNS) já se sabia que tudo ia ser diferente. Sob forte aparato mediático, o antigo ministro das Infraestruturas, figura central no funcionamento da extinta geringonça, retomou o seu lugar de parlamentar e foi acolhido como uma popstar (como destacou o DN), distribuindo abraços, beijos, cumprimentos e sorrisos e deixando claro que, ao contrário do que disse, não será apenas "um entre 230 deputados". O desempenho na comissão de inquérito à TAP não feriu em nada o futuro político de PNS, tendo-o até reforçado como foi sugerido por vários comentadores, e quando se discutir a sucessão de António Costa como secretário-geral do PS haverá toda uma corrente no partido pronta a apoiar o ex-líder da JS - Alexandra Leitão, se entretanto não ganhar outro tipo de ambições, é um dos rostos mais visíveis dessa ala socialista e já se assumiu como "pedro nunista". "Neste momento", disse o próprio, PNS não é "candidato a nada", mas da última fila da bancada parlamentar (onde ficou sentado) terá tempo e oportunidade para reforçar alianças internas e ir trilhando um caminho que, tudo indica, o vai conduzir, mais cedo ou mais tarde, a uma candidatura à liderança socialista. Os holofotes mediáticos estão-lhe apontados e PNS mostrou mais uma vez, nesta terça-feira, que sabe bem como retirar proveito disso.

Quarta-feira, 5 de julho

O relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, elaborado pela deputada socialista Ana Paula Bernardo, foi comentado por praticamente todos agentes políticos, com duas notáveis exceções: o primeiro-ministro, que apenas se revelou "tranquilo e descansado" reservando uma posição para depois das conclusões finais; e o Presidente da República, que neste dia teve de ser hospitalizado após sofrer um desmaio e, ao ter alta, dirigindo-se aos jornalistas, sobre o dossier TAP disse apenas: "Não querem que a minha tensão suba outra vez, pois não?". Já os partidos da oposição não pouparam adjetivos para classificar o conteúdo do documento que, na prática, não censura qualquer medida tomada por Pedro Nuno Santos quando teve a tutela da TAP (entre elas, a autorização do pagamento da indemnização a Alexandra Reis, que acabou por motivar a abertura da CPI e a demissão do ministro) ou por João Galamba na gestão do diferendo com o adjunto Frederico Pinheiro (a responsabilidade de avaliar a intervenção do SIS é toda remetida para o Ministério Público). "Uma vergonha democrática e sem valor nenhum" (Luís Montenegro, PSD) e "um relatório que não teria sido muito diferente se tivesse sido escrito por João Galamba ou o próprio PM" (Pedro Filipe Soares, BE) foram algumas das reações.

Quinta-feira, 6 de julho

Foi um dia de festa no Estádio da Luz, onde milhares de adeptos receberam em euforia o novo reforço da equipa, Di María, que aos 35 anos volta à casa que o projetou no futebol europeu trazendo agora consigo o título de campeão do Mundo conquistado em dezembro pela Argentina (o plantel de Roger Schmidt tem ainda em Otamendi outro vencedor do mais apetecido troféu de seleções). Às 19.04, horário escolhido de propósito pela ligação ao ano de fundação do clube, o antigo jogador de Real Madrid, Manchester United, Paris SG e Juventus não perdeu tempo em animar ainda mais os adeptos encarnados que marcaram presença no largo onde está a estátua de Eusébio para uma apresentação "fora da caixa" no futebol português. "Tinha o sonho de voltar a casa, sentir-me feliz de novo. Escolhi com o coração", afirmou o novo camisola 11 do Benfica, ao lado do presidente Rui Costa, 13 anos depois de ter deixado Lisboa com mais de 120 jogos, 15 golos, um campeonato nacional e duas Taças da Liga de águia ao peito. Quinta-feira foi o segundo dia de trabalho de pré-época dos campeões nacionais com vista à temporada 2023-24. Para já, além de Di María, está também garantido outro reforço sonante, o turco Orkun Kökçü, camisola 10, contratado ao Feyenoord por 25 milhões de euros (mais cinco por objetivos). O clube continua no mercado e com mais poder de investimento que os rivais diretos parte na dianteira para a revalidação do título.

Sexta-feira, 7 de julho

Num par de horas, Marco Capitão Ferreira tornou-se a 13.ª baixa do XXIII Governo Constitucional (que leva apenas um ano e três meses em funções) e, logo de seguida, foi constituído arguido no processo Tempestade Perfeita, que investiga os gastos de 3,2 milhões de euros para reconverter o antigo Hospital de Belém num centro de apoio à covid-19 quando o orçamento inicial da obra era de apenas 750 mil euros. O agora ex-secretário de Estado da Defesa, já exonerado pelo Presidente da República, é suspeito de corrupção e participação económica em negócio, tendo sido alvo de buscas (que também se estenderam ao ministério) na segunda operação deste processo que já contabiliza 20 arguidos. A sucessão de casos a envolver Capitão Ferreira, que o DN vem noticiando desde a primeira hora, principalmente quando presidia à IdD - Portugal Defence (holding estatal das indústrias da Defesa), já faziam do jurista um dos governantes mais expostos às críticas da oposição, mas sair do governo sob suspeitas de corrupção é algo que compromete não só o visado mas também quem o escolheu para o cargo quando todo o histórico já aconselhava a não o fazer.

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