Da eterna crise no SNS a uma Madragoa "como o Dartacão"

Na semana em que Lisboa recuperou as suas festas populares - um momento de "libertação", como lhe chamou Marcelo -, a ministra da Saúde, Marta Temido, regressou aos holofotes políticos devido à falta de médicos no SNS. Um problema crónico e sem solução à vista se não for feito um investimento sério na contratação e remuneração dos profissionais.
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Sábado, 11 de junho

O DN publicou no sábado a primeira de quatro reportagens (que pode ler aqui: dia 1 - dia 2 - dia 3 - dia 4), assinadas pela jornalista Ana Mafalda Inácio, em que se procurou saber como é que o Algarve se está a preparar, ao nível dos cuidados de saúde, para um verão que, já se percebeu, será de lotação esgotada. Os problemas podem antecipar-se e as soluções podem ser identificadas com tempo mas no momento de as aplicar, invariavelmente, esbarra-se na raiz de todos os males: a falta de profissionais de saúde. Uma situação que não é exclusiva do Algarve, como bem se viu esta semana com o encerramento de serviços de urgência de ginecologia e obstetrícia de vários hospitais públicos (bastou um fim-de-semana prolongado para condicionar tudo o que era escalas, para mais com menos tarefeiros disponíveis para estas datas). Nos dias seguintes, o governo viu-se encostado à parede. Começou por revelar, segunda-feira, um plano de contingência para o verão, para somente dois dias depois vir prometer aumentos aos médicos em serviço de urgência, anunciar uma nova comissão de acompanhamento e admitir, até, pedir apoio ao setor privado. Certo é que formar mais médicos e enfermeiros não chega para resolver a questão. De que serve ter mais alunos a concluírem os cursos se depois não há vagas suficientes no SNS? E se não lhes são oferecidas condições materiais e perspetivas de carreira mais aliciantes, como é que pode travar a saída destes profissionais para o privado? Se se quer um SNS que dê uma resposta eficaz à população, sem evidentes desigualdades geográficas, é necessário começar por um investimento financeiro sério na contratação e remuneração dos profissionais. Tudo o resto será como tratar uma fratura exposta recorrendo apenas a pomadas e pensos rápidos.

Domingo, 12 de junho

A noite de Santo António voltou a ser de alegria para os lisboetas e seus visitantes, depois de dois anos marcados pelas restrições pandémicas que privaram a cidade das suas festas populares. O regresso fez-se com estrondo: ruas cheias de gente, muita animação, música, sardinhas assadas no pão e poucas, muito poucas, máscaras a cobrir o rosto. Marcelo Rebelo de Sousa foi um dos que esteve presente e explicou porque não quis perder o momento: "Este ano é muito especial, é um ano de desconfinamento. (...) Sente-se que há uma alegria, há uma confraternização, uma libertação, eu queria partilhá-la". Para a festa ser completa, não faltaram os tradicionais casamentos de Santo António nem as marchas populares, que desta vez coroaram a Madragoa. O título já lhe fugia desde 1994 e foi recebido com euforia num bairro onde, mesmo enfrentando os desafios da gentrificação, a ideia de ser "tudo uma família" ainda vai fazendo caminho: "Somos como o Dartacão, um por todos e todo por um!", contou uma das moradoras à reportagem do DN.

Segunda-feira, 13 de junho

Refeito do estado "adoentado" - Marcelo dixit - que o afastou das comemorações do 10 de Junho, António Costa deslocou-se a Londres para reunir com o homólogo britânico, Boris Johnson. O encontro em Downing Street demorou pouco mais de 45 minutos e dele resultou a assinatura de uma declaração conjunta que, nas palavras do primeiro-ministro português, vem reforçar a cooperação bilateral em áreas que vão da Defesa aos impostos comerciais, passando pela investigação criminal, educação, tecnologia, energias renováveis e proteção dos direitos da comunidade emigrante portuguesa e britânica. A ocasião também serviu para vincar os laços que unem Portugal e Reino Unido. O documento original do Tratado de Tagilde (uma freguesia de Vizela), assinado a 10 de julho de 1372, foi retirado temporariamente dos Arquivos Nacionais britânicos para que Boris o pudesse apresentar a Costa. A mais velha aliança diplomática do mundo está prestes a atingir 650 anos. Mas com o Brexit foi preciso encontrar novas formas para a manter atual e dinâmica.

Terça-feira, 14 de junho

Sem surpresa, com o desconfinamento generalizado o consumo e a oferta de droga na União Europeia voltaram a aumentar, sendo que os principais mercados de tráfico também estão tendencialmente a mudar, transferindo-se de plataformas mais obscuras na darknet (mais monitorizadas pelas autoridades policiais) para outras de maior alcance como são as redes sociais e aplicações de mensagens instantâneas. Os dados constam do último relatório do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência, conhecido na terça-feira, onde se constata ainda, por exemplo, que a droga mais consumida continua a ser a canábis (79 milhões de europeus admitem que o fazem ou fizeram), a qual é apresentada num número cada vez maior de produtos que vão desde extratos a artigos comestíveis (alguns com níveis de THC muito elevados, logo mais perigosos). A produção de drogas sintéticas da Europa, tendo sido observado recentemente o envolvimento de grupos criminosos mexicanos, e os indicadores sobre o aumento do consumo de cocaína na forma de crack, principalmente em comunidades mais vulneráveis, são duas das tendências atuais que mais preocupam as autoridades.

Quarta-feira, 15 de junho

A recuperação do turismo, setor vital para a economia portuguesa, está a acontecer mais rápido do que se esperava, sobretudo à conta do mercado interno. Os números de abril, revelados quarta-feira pelo INE, são, pela primeira vez desde o início da pandemia, superiores aos registados em 2019, que foi o melhor ano de sempre no país. Houve mais hóspedes (2,4 milhões), mais dormidas (6 milhões) e mais receita (389,2 de proveitos totais nas unidades de alojamento turístico, fruto não só do aumento de dormidas mas também da subida de preços). Seria tudo uma boa notícia, não fossem as tristes imagens de impreparação que chegam dos aeroportos, onde a falta de agentes no SEF obriga a longas horas de espera para quem tenta passar o controlo de fronteiras e onde a sangria da reestruturação na TAP acentuou a degradação dos serviços prestados pela companhia aérea, ao mesmo tempo que o Governo continua a adiar a (cada vez mais) urgente decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa...

Quinta-feira, 16 de junho

O presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, líderes dos países mais populosos e industrializados da União Europeia, estiveram juntos (acompanhados também pelo presidente romeno Klaus Iohannis) a visitar a Ucrânia. Depois de atravessarem as ruas de Irpin, uma das zonas mais fustigadas pela artilharia russa no início da guerra, rumaram a Kiev ao encontro de Volodymyr Zelensky e defenderam que seja concedido "de imediato" à Ucrânia o estatuto de "candidato oficial" à adesão na União Europeia, recordando, no entanto, que é um processo moroso e que, em regra, demora vários anos. "A Europa está do seu lado. Irá permanecer assim enquanto for necessário", garantiu Macron a Zelensky, que voltou a pedir mais "armas pesadas, artilharia reativa moderna e sistemas de defesa antiaérea". Menos de 24 horas após este apoio de peso, a Comissão Europeia recomendou ao Conselho Europeu que fosse concedido à Ucrânia o estatuto de candidato à adesão à UE.

Sexta-feira, 17 de junho

Cinco anos depois dos incêndios de Pedrógão, que custaram a vida a 66 pessoas, destruíram cerca de 500 casas e meia centena de empresas, o diagnóstico sobre o estado atual da floresta, feito por quem está no terreno, está longe de ser otimista. "Tememos que volte a acontecer, porque o território continua abandonado", explicou ao DN a presidente da direção da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Dina Duarte, frisando que muito do que tem vindo a ser feito em relação à limpeza dos terrenos é graças a financiamento privado: "Este país não pode continuar assim. Não podemos continuar a pedir solidariedade e a fazer parcerias para coisas que são obrigação do Estado". A Distrital do PSD de Leiria não tem dúvidas em considerar que os territórios que arderam são "autênticos barris de pólvora", uma ideia que é secundada por Xavier Viegas, o investigador que coordenou um relatório independente sobre os fogos: "Quando vou àqueles territórios, fico desolado porque o que encontramos é tudo o que ardeu há cinco anos, com a regeneração de eucaliptos e acácias. Está ali um matagal, a preparar-se para desgraças futuras", disse à agência Lusa.

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