O Cova da Piedade não cala "a revolta" pela descida de divisão "cozinhada" na esfera da Liga e já prepara a impugnação da decisão. O diretor desportivo, Edgar Rodrigues, disse que DN que recusa olhar para o futuro, "que será catastrófico e levará à fome de muita gente", enquanto não esgotar as possibilidades de luta contra uma decisão que "envergonha o futebol português". Pois, no entender da SAD do clube do concelho de Almada, "a Liga não tem legitimidade para decidir quem sobe e desce na secretaria, essa decisão tem de ser legitimado em Assembleia Geral"..Já o presidente do outro emblema despromovido, o histórico Casa Pia, que no dia 3 de julho celebra 100 anos de vida, admitiu que "o assunto está entregue aos advogados e quando houver uma posição ela será anunciada", mas, para já, "o silêncio é a forma de luta". Para Vítor Franco "não é uma descida de divisão que manchará o ano do centenário do clube," uma vez que "o Casa Pia, clube onde jogaram, entre outros, Cosme Damião (fundador do Benfica) e Cândido de Oliveira (ex-jogador, selecionador, dirigente e jornalista, que dá nome à Supertaça) é muito mais do que um clube de futebol e já sobreviveu a pior". As palavras do dirigente do Cova da Piedade colocam em causa a atuação da Liga Portugal e do seu líder Pedro Proença. "A decisão é uma vergonha e não cabe na cabeça de ninguém. Mais vergonhoso, e prova de como fomos enganados, é que na sexta feira, antes da reunião da Liga com presidentes da I e II Liga, foi-me dito pelo presidente da Liga para estar tranquilo que ninguém ia descer. No sábado, a Federação fez um comunicado a dizer que o Arouca e o Vizela iam subir à II Liga. Percebi na entrelinhas, que se alguém sobe, alguém tem de descer", disse ao DN, adiantando que foi assim que percebeu que o alargamento proposto da II Liga não era sequer opção..Na segunda-feira, e já depois de tentar sem sucesso falar com o líder da Liga, Edgar Rodrigues foi confrontado com a proposta de despromoção dos dois clubes de Lisboa, em plena reunião de direção do organismo, do qual faz parte, que foi votada em "menos de 30 segundos". O dirigente não percebe a "urgência em sangrar duas equipas", quando ainda não há certeza se o campeonato da I Liga regressa (está previsto para 31 de maio). "Isto só neste País. Então dos Distritais não desceu ninguém, do Campeonato de Portugal não desceu ninguém e na II Liga descem duas equipas porque dá jeito a alguém? Foi cozinhado e levado de bandeira para ser aprovado", acusa o dirigente, lembrando ainda que "foi dito aos clubes que podiam ter uma almofada de 180 mil euros, mas que só podiam concorrer ao apoio caso não impugnassem a decisão e aceitassem a classificação. Tentam comprar os clubes com meia dúzia de trocos"..O DN confrontou a Liga Portugal, mas não obteve resposta..O Cova da Piedade discorda do critério da classificação e da forma como o processo foi conduzido: "O princípio que sempre foi advogado foi o da meritocracia para subir e ninguém descer. O critério não foi uniforme e a forma como foi feito foi suja. No Mundo do futebol toda a gente se cala por interesse, seja poder, votos ou poleiros, alguém tem de começar a ser independente e dizer a verdade e dizer que os órgãos não são independentes. Não basta cozinhar votações e fazer jogos de poder ao telefone e vigarizar as pessoas. É preciso ser sério. Para mim era fácil estar calado, mas chega de silêncio comprometedor. O futebol está podre, mas o Cova da Piedade ainda acredita na justiça para o reabilitar.""Os corredores do futebol" e "a promiscuidade política funcionaram" e resolveram "uma questão pendente chamada Vizela", acusa o dirigente, denunciando interesses escondidos por detrás da despromoção do Cova da Piedade e do Casa Pia. "Então só se desce na II Liga? Não sei se é interesses televisivos, se é uma questão política, se os clubes têm medo de no ano a seguir descerem quatro. Não sei a quem interessa, mas interessa a alguém. Se assim não fosse não havia o porquê de aprovarem a todo o custo a despromoção e sem colocar o alargamento como opção", denunciou. Com um orçamento de cerca de um milhão de euros, adivinham-se dias difíceis para o emblema. Edgar admite culpas próprias na má classificação. Os problemas entre o clube fundado em 1947 e a SAD, criada quando o clube estreou-se na II Liga, presidida pelo chinês Kuong Chong Long, obrigaram a equipa a andar com a casa às costas para poder treinar e jogar. "Fomos vítimas de erros próprios, tivemos dois meses sem poder treinar no estádio e tivemos de ir treinar a Tróia e a Rio Maior, que fica a uma hora e meia de distância, tivemos de inventar campos. Isso teve efeitos no desempenho desportivo, mas em janeiro decidimos fazer uma reforço grosseiro do plantel e contratar João Alves. E aquilo que nos diz a matemática é que em metade dos jogos fizemos mais pontos do que em toda a primeira volta. Vínhamos num crescendo e mantendo o nível podíamos manter-nos na II Liga, até porque tínhamos o confronto direto com o Vilafranquense", explicou, afirmando que "a Liga não pode ser instrumentalizada" e decidir "levianamente" a vida de um clube assim..Segundo ele, a descida "a acontecer, é uma catástrofe" e coloca "em causa" não só o projeto de uma época inteira como a viabilidade do clube. No entanto, Edgar Rodrigues não quer abordar esse cenário. Para já é a altura de denunciar a situação e de tudo tentar fazer para impedir que ela se concretize, sem pensar no que acontecerá com o plantel, por exemplo: "Os jogadores estão solidários com o Cova da Piedade. Ninguém no clube quer fugir.".Não é uma decisão "aberrante" que vai acabar com a carreira de Edinho.Edinho tem 37 anos e garante que não é uma "decisão aberrante" e "injusta" que lhe "cortará as pernas" e o impedirá de continuar a jogar. "Estava a fazer uma boa época. Estou bem fisicamente e ainda tenho paixão pelo jogo. Estou confiante em relação ao futuro apesar de não saber o que vai acontecer ao clube, mas sei que vou continuar a jogar futebol na próxima época", disse ao DN o capitão do Cova da Piedade está em final de contrato e disponível para conversar: "Sinto-me bem no clube e acredito no projeto. Se não nos tivessem atropelado desta maneira...".O jogador já tinha manifestado "desagrado" por os capitães da II Liga terem ficado de fora da discussão do regresso dos campeonatos profissionais, argumentado que "sem jogadores não há espetáculo" e interroga-se porque razão descem os dois clubes da zona de Lisboa, se mais ninguém desceu. "Acho que foram prejudicadas por serem equipas com menor expressão e não pode ser. O futebol não é isto, não é isto que me apaixona desde os oito anos, não é aquilo que me faz estar motivado e ainda ter a paixão por jogar. Representei o meu País, mas assim é complicado porque há outro tipo de interesses", desabafou o avançado. "Fomos todos prejudicados por uma causa natural [pandemia] e devíamos ter a oportunidade de batalhar pela manutenção dentro de campo. Estávamos bem, em crescendo na classificação e tínhamos 30 pontos para conquistar, jogos frente a adversários diretos, que apontava para um desfecho bom para nós", explicou o antigo internacional português, que ainda acredita na "justiça de Deus" para inverter a situação. Como alguém que já jogou na seleção nacional, o avançado olha com "tristeza" para o estado do futebol português. "Atingimos um feito histórico ao sermos campeões da Europa em 2016, mas parece que não evoluímos fora de campo e aparecem situações como esta. Há interesses escondidos que prejudicam o Cova da Piedade e o Casa Pia", disse Edinho, lembrando que descer "em campo tem outra dignidade". Jogou no Sp. Braga, Vitória de Setúbal, Marítimo, Académica, entre outros emblemas nacionais e estrangeiros, e tem "a vida organizada", mas, como capitão, está preocupado com alguns colegas: "Há 50 famílias, mais os funcionários, que não sabem o que vai ser da vida deles amanhã, muitos estão em situação precária.".João Alves revoltado pede desinfeção do futebol português.Com a chegada de um histórico do futebol português, João Alves, o emblema da zona de Almada, que era último classificado com oito pontos, subiu um lugar na classificação. Estava em 17.º com 17 pontos quando a evolução da pandemia obrigou ao cancelamento da competição no dia 12 de março. Com nove jornadas para jogar na II Liga e o treinador acreditava na salvação. Por isso não calou "a revolta" quando soube da decisão "patética", "nojenta" e "absurda", que "viola claramente os princípios e ética do desporto e da própria sociedade".."É uma das maiores vergonhas do futebol português. Quem tomou a decisão ficará para sempre ligado a uma das mais negras e vergonhosas páginas do futebol em Portugal", atirou o técnico, lamentando que não o tenham deixado concluir o seu trabalho em campo: "Não nos deixaram concluir o trabalho que iniciámos em janeiro e, agora, dão-nos esta facada pelas costas.".Para João Alves "isto é brincar com a vida dos profissionais desta modalidade" e diz mesmo que o futebol português é que precisa de ser desinfetado: "Quero-lhes dizer que não é apenas necessário desinfetar a bola devido ao Covid-19. É preciso, de uma vez por todas, desinfetar o futebol português, sobretudo dos interesses instalados há muitos anos. Defendi muitas vezes o meu País, com a camisola da seleção, e o prémio que me deram, aos 67 anos, foi esta decisão vergonhosa que prejudica e arrasa literalmente com um clube e com dezenas de profissionais e respetivas famílias. Um autêntico escândalo, promovido por um prepotente e por um subserviente com o beneplácito da sua respetiva corte dos yes men, os dois protagonistas que, em conjunto, cozinharam de forma absurda, patética e nojenta o destino de dois clubes, sem lhes dar a oportunidade de competir até ao fim e apunhalando-os pelas costas. Confirma-se que são os donos disto tudo.".Aos 67 anos "e depois de viver e ver muita coisa no futebol", o antigo jogador do Benfica, questiona, se o mesmo aconteceria se as equipas em questão fossem o Benfica B e o FC Porto B.