Complicações à vista: no clima, no campo, na pandemia e na retoma

Numa semana em que discutiu muito o verdadeiro alcance do acordo conseguido na COP26 e o imenso trambolhão da seleção nacional de futebol em campo, os números da covid-19 voltaram a merecer atenção. Os casos estão a aumentar mais rápido do que previam os especialistas, mas a realidade atual é muito diferente do que se viveu em 2020. Para melhor.
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Sábado, 13 de novembro

26 horas depois do prazo e com a Índia, apoiada pela China, a forçar uma alteração de última hora no texto - a "eliminação" do carvão e dos "subsídios ineficientes ao combustível fóssil" foi substituída por "redução progressiva" -, os líderes mundiais lá fecharam o acordo possível para o Pacto Climático de Glasgow, na COP26. O presidente da cimeira, Alok Sharma, recusou falar em "fracasso", classificando até o acordo como "um feito histórico" por manter viva a meta traçada em Paris 2015 de limitar a 1,5 graus o aumento de temperatura neste século. Frans Timmermans, representante europeu na COP26, também fala num acordo "muito bom", acrescentado, porém, que "em política, o perfeito é inimigo do bom". Ambos concordam que foi dado "um passo na direção certa". Mesmo que se trate de um passo mais curto do que se pretendia, não deixa de ser um avanço, em tudo melhor do que sair da Escócia sem qualquer acordo. Até porque, como lembrou António Guterres, "a catástrofe climática continua a bater à porta", indiferente às "contradições profundas" reveladas nesta tentativa de compromisso em Glasgow, quando já é (já era) "altura de entrar em modo de emergência" para tentar travar os efeitos devastadores do aquecimento global.

Domingo, 14 de novembro

Foi um tremendo balde de água fria. Mas merecido. Portugal tinha a faca e o queijo na mão, podia até jogar com dois resultados frente à Sérvia, em casa, com quase 60 mil pessoas nas bancadas da Luz, mas falhou rotundamente. Na hora decisiva para selar o apuramento para o Mundial 2022, nos últimos dois jogos com a Irlanda e a Sérvia, o que se viu foi uma seleção nacional a ser completamente dominada pelos adversários. Sem ideias, incapaz de surpreender, amarrada aos esquemas táticos defensivos de Fernando Santos. Tudo demasiado pobre, tendo em conta a quantidade quase absurda de talento individual ao dispor do selecionador - de Cristiano Ronaldo a Bernardo Silva, de Bruno Fernandes a Diogo Jota, de João Félix a Renato Sanches, de Ruben Dias a João Cancelo... Agora, para estar na fase final do Mundial Portugal terá de ultrapassar um playoff, em março, num 'mata-mata' que, historicamente, até tem sido favorável à seleção nacional (nos três anteriores que disputou, seguiu sempre em frente), mas que lhe pode colocar pela frente seleções como, por exemplo, a Itália, atual campeã europeia. Se tudo falhar, será a primeira vez desde 1998 que o país não marcará presença numa fase final de Mundial ou Europeu.

Segunda-feira, 15 de novembro

Em entrevista à Antena 1, Rui Rio, atual presidente do PSD e recandidato à liderança, clarificou o que pretende fazer no dia seguinte às legislativas de 30 de janeiro, se for ele (e não Paulo Rangel) o escolhido pelos militantes sociais-democratas no próximo dia 27. Um dos cenários que admitiu, em prol de uma solução "mais estável", foi negociar com o PS um acordo parlamentar, para "meia legislatura", se nem PSD nem socialistas conseguirem formar uma maioria no parlamento - Rio, de novo, a piscar de olho à ideia do Bloco Central. Houve ainda espaço para fechar a porta ao Chega, de resto a exemplo que o Rangel já fizera há bastante mais tempo. Rio garantiu que abdicará de formar Governo se para tal tiver de incluir o partido de André Ventura. A resposta do líder do Chega foi colocar em causa a aprovação do orçamento nos Açores, para ontem dizer que, afinal, essa decisão "ainda não está fechada".

Terça-feira, 16 de novembro

A relação pessoal entre Xi Jinping, presidente chinês, e Joe Biden, presidente dos EUA, vem do tempo em que ambos não eram ainda chefes de Estado, mas sim vice-presidentes. Os laços criados no passado, em viagens tanto nos EUA como na China, eram, pelo menos do lado norte-americano, encarados com uma oportunidade para um "diálogo franco", necessário para tentar conter a subida de tensão entre os dois países nos últimos anos, motivada quer por disputas comerciais e tecnológicas quer por questões como os Direitos Humanos e o estatuto de Taiwan. A cimeira virtual seguiu-se a duas anteriores conversas por telefone. Desta vez o encontro durou três horas e meia e acabou com os dois líderes a reconhecerem que a forma como evoluir a relação entre Estados Unidos e China terá sempre um impacto que vai muito para lá das fronteiras das duas superpotências. Por isso, nas palavras de Joe Biden, importa garantir que "não se transforme num conflito, intencional ou não" e que, ao mesmo tempo, disse Xi Jinping, "os dois lados mantenham uma mão firme no leme para que os dois navios gigantes cortem as ondas e avancem juntos, sem perder direção ou velocidade, e muito menos colidir um com o outro".

Quarta-feira, 17 de novembro

Portugal registou neste dia 2527 novos casos de covid-19, ultrapassando a barreira das duas mil novas infeções pela primeira vez desde 2 de setembro e antecipando em mais de um mês o patamar dos 2500 casos diários que a equipa do Instituto Superior Técnico, que faz a modelação da doença a longo prazo, só previa para a altura do Natal. Há um aumento no número de contágios, isso é evidente, mas a gravidade dos casos é muito diferente daquela que teve no passado, pois a taxa de população com vacinação completa continua acima dos 86% e as doses de reforço estão a ser aplicadas a cada vez mais gente (o autoagendamento já está disponível quem tem mais de 65 anos). Comparemos 17 de novembro de 2020 (já no segundo período estado de emergência, que duraria 173 dias, e ainda sem vacinas), com 17 de novembro de 2021: 4452 novos casos vs 2527; 81 mortes vs 9; 3028 internados vs 514; 431 pessoas em UCI vs 75. Por isso, pelo menos para já, tanto Marcelo Rebelo de Sousa como António Costa concordaram ser prematuro pensar num eventual regresso ao estado de emergência. No entanto, face ao atual ritmo da pandemia, já não restam dúvidas que vão ser recuperadas algumas restrições, de resto a exemplo do que já se passa por toda a Europa. Na próxima semana se verá quais, no seguimento da reunião no Infarmed.

Quinta-feira, 18 de novembro

A Madeira foi de novo considerada zona de risco elevado para a covid-19 pelo Centro Europeu para Prevenção de Controlo de Doenças (ECDC), estando agora a vermelho (o segundo patamar mais elevado) no mapa que serve de auxílio aos Estados-membros sobres as restrições a aplicar nas viagens no espaço comunitário - Portugal continental e os Açores permanecem a laranja (risco moderado). No mesmo dia, Miguel Albuquerque, presidente do governo regional, anunciou que passa a ser obrigatória a apresentação simultânea de certificado de vacinação e teste antigénio negativo para poder aceder a qualquer recinto ou evento na ilha, público ou privado. As únicas exceções são o acesso a supermercados e locais de culto religioso, onde bastará um dos documentos. Segundo os dados da DGS, a região autónoma da Madeira somava até quinta-feira 13555 casos de covid-19 e 79 mortes relacionadas com a doença. 84% da população residente tem a vacinação completa.

Sexta-feira, 19 de novembro

O número de passageiros que passaram pelos aeroportos nacionais continua a dar sinais de alguma recuperação. Só em setembro foram 3,6 milhões, mais 95,8% que no mesmo mês de 2020. No acumulado de janeiro a setembro a quantidade sobe para 15,8 milhões de passageiros, mais 3,6% que no período homólogo de 2020. No entanto, apesar do saldo positivo, olhando para os primeiros nove meses de 2019 o que se vê é uma quebra de 66,1%. A quebra é enorme, a recuperação é demorada e o pior é que com a Europa atualmente a lidar com uma escalada no número de casos de covid-19, e com restrições de vária ordem a serem recuperadas, a ponta final de 2021 pode voltar a ser de aflição para o setor o turismo.

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