Cinco dias para avaliar. António Costa admite fechar tudo menos escolas
O Governo vai esperar pela próxima terça-feira para avaliar a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal, mas admite que se o número de novos contágios diários se mantiver nos valores atuais - a rondar os dez mil - o país pode voltar a um confinamento semelhante ao que esteve em vigor em março. Com uma diferença significativa: sem encerramento das escolas.
Mais do que admitir este cenário, Costa apontou-o como "provável" na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, na tarde de quinta-feira. "O cenário que podemos ter como provável é voltarmos a um conjunto de medidas tipo aquelas que adotámos em março, com a ressalva de todos os especialistas nos indicarem que não se justifica afetar o normal funcionamento das escolas", sublinhou António Costa.
Não foi a única vez que o líder do Executivo sublinhou esta ideia, deixando claro que o encerramento das escolas é uma medida de fim de linha que o Governo não pretende adotar e que não será posta em prática face aos números atuais. "Há um grande consenso entre os técnicos e os especialistas de que não se justifica afetar o funcionamento do ano letivo. Não devemos ter medidas que impliquem, como adotámos no ano letivo passado, a interrupção da atividade letiva", referiu o primeiro-ministro. Costa disse ainda ter a esperança de que os números registados nos últimos dias sejam um "ajustamento" e não se repitam de forma sustentada até à próxima terça-feira. Mas a "confirmar-se a evolução, muito provavelmente na próxima semana teremos de adotar medidas de restrição mais elevadas, tal como tem vindo a acontecer na generalidade dos países da Europa", avançou.
Para já, vão manter-se as medidas atualmente em vigor, agravadas no próximo fim de semana com a extensão a praticamente todo o país da proibição de circulação na via pública após as 13 horas. A medida aplica-se a todos os concelhos com mais de 240 casos por 100 mil habitantes, o que significa que vai abranger 253 municípios de Portugal continental. Só os 25 municípios que estão atualmente em risco moderado escapam a esta medida. Os concelhos em risco extremo ou muito elevado de contágio por covid-19 mantém o recolher obrigatório às 23 horas durante os dias de semana.
Em vigor vai estar também a proibição de circulação entre concelhos, neste caso abrangendo todo o país, sem exceção. A interdição estende-se das 23h00 de sexta-feira às cinco da madrugada de segunda-feira, e só pode ser quebrada por motivos excecionais - por exemplo razões de saúde ou urgência imperiosa. António Costa chamou-lhes uma "medida cautelar" enquanto espera até terça-feira - data da reunião com os especialistas do Infarmed - para decidir o quadro de restrições face à evolução da pandemia. Uma data que, segundo o líder do Executivo, não surge por acaso: "Foi a que os especialistas identificaram como o dia em que podemos ter dados mais seguros relativamente ao que foi a evolução da pandemia neste último mês".
Costa defendeu que estes próximos cinco dias permitirão ter uma visão mais sólida da realidade atual da pandemia. Já esta sexta-feira, para "ganhar tempo" e começar a preparar as medidas em função dos vários cenários possíveis, reúne de "emergência" a Comissão Permanente da Concertação Social, ou seja, sindicatos e associações patronais. E Costa começa a ouvir os partidos políticos com assento parlamentar - esta sexta-feira são recebidos em São Bento o PSD, Bloco de Esquerda, PCP, CDS e PS. No sábado será a vez do PAN, PEV, Chega e Iniciativa Liberal.
Caso se concretizem os piores cenários, as medidas serão implementadas logo na terça-feira. Recorde-se que o estado de emergência atualmente em vigor se estende até 15 de janeiro, sexta-feira. A confirmar-se um quadro de medidas mais restritivo será seguramente acompanhado pela renovação - pela nona vez - da declaração do estado de emergência, na próxima semana.
De acordo com o boletim diário da Direção-Geral de Saúde, Portugal contou 9927 novos casos e 95 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas. Na quarta-feira foi registado um número recorde de novos contágios - foram 10.027 em 24 horas, com o número de mortes a ascender a 91. Desde o final de dezembro que o número de novos casos tem vindo a registar uma tendência crescente.
Uma evolução que se nota claramente na divisão dos concelhos por níveis de risco. Atualmente há 25 concelhos em risco moderado, ou seja, com menos de 240 casos por cada 100 mil habitantes - há apenas duas semanas estavam 77 municípios neste patamar.
Acima de risco moderado de contágio por covid-19 estão mais três níveis - risco elevado (entre 240 e 480 casos por 100 mil habitantes), muito elevado (entre 480 e 960)e extremo (mais de 960 casos por 100 mil habitantes). Nesta altura, e de acordo com a atualização mais recente feita pelo Executivo, mais de dois terços dos concelhos de Portugal continental estão em risco extremo ou muito elevado de contágio por covid-19. São 56 municípios que estão no patamar mais alto de risco, um número que quase duplica o anterior: eram 30 na listagem prévia. Já o número de concelhos em risco muito elevado é agora de 132 (eram 79). Das 18 capitais de distrito de Portugal continental, 15 estão neste patamar de risco muito elevado de contágio.
Em situação de risco elevado encontram-se atualmente 65 municípios. Eram 92 na contabilização anterior - quase três dezenas passaram para os grupos de risco mais elevado. Contas feitas há 139 concelhos que passaram para um patamar de risco superior.
Com Lusa