Entre a Desonra e a Guerra
É uma ilusão pensar-se que se trava um poder autocrático com tropismo imperial com algumas cedências territoriais.
Já em 1938 Hitler não escondia que queria anexar a Hungria, parte da Polónia, para além da Checoslováquia.
Todavia, tal não impediu a França e o Reino Unido de celebrarem o Pacto de Munique em Setembro de 1938, nos termos do qual a Alemanha podia ocupar a Checoslováquia (a começar, numa primeira fase, pela região dos Sudetos). Neville Chamberlain e Edouard Daladier assinaram o referido Pacto, tendo, na oportunidade, Winston Churchill afirmado sobre Chamberlain que “entre a desonra e a guerra escolheste a desonra e terás a guerra”.
O que viria a suceder, posteriormente, pela Europa fora viria a dar razão a Churchill.
A Alemanha haveria de querer sempre mais face à fraqueza evidenciada pelos países da Europa Ocidental.
Um poder despótico que procura assentar as suas grandes opções geoestratégicas numa legitimidade imperial não conhece limites ao exercício do seu poder, a não ser os limites da força que lhe é, oportunamente, imposta.
A Rússia foi uma grande potência imperial que conheceu uma certa continuidade com a ex-União Soviética e Putin não esconde uma certa nostalgia em relação a esse passado imperial. Antes pelo contrário, não se importa de explicar que, por exemplo, a Ucrânia deveria ser parte integrante da actual Rússia.
Mais, afigura-se evidente para qualquer analista político que Putin considera a Comunidade dos Estados Independentes parte integrante de uma ampla “zona de influência” Russa.
Depois de diversas acções provocatórias, em 2006 e 2007, Putin decidiu invadir a Geórgia, com o objectivo de tentar mudar o regime político existente nesse país.
Também é sabido que existem Forças Armadas da Rússia numa região da Moldávia, a Transnístria, e que Putin não vê com bons olhos uma eventual integração daquele país na União Europeia.
Mais recentemente, em 2014, Putin invadiu a Crimeia e a região Oriental da Ucrânia com o pretexto de pretender responder aos anseios separatistas de uma parte da população ucraniana.
O que estaria em causa correspondia, apenas, ao apoio à criação de novos Estados independentes.
Ainda em finais de 2021, princípios de 2022, falava-se na criação de Estados independentes no Donbass e não na anexação pela Rússia.
E a mesma metodologia que tem sido adoptada na Ucrânia pode vir a ser implementada nas Repúblicas Bálticas.
Existem comunidades russófonas nas mesmas que têm de ser “protegidas”, apoiando-se a criação de movimentos separatistas para, mais tarde, se enveredar pela anexação.
Só quem não quiser perceber aquilo que aos olhos de qualquer cidadão europeu é já, hoje em dia, uma evidência é que poderá pensar que Putin pára nos 25% do território ucraniano.
O Pacto que, possivelmente, será assinado em Minsk prevendo a paz na Ucrânia, cedendo à Rússia parte do seu território, impondo-lhe um “estatuto de neutralidade” (que implicaria não pertencer à NATO e à União Europeia) e quiçá a impossibilidade de dispor de Forças Armadas próprias, não é menos do que uma verdadeira rendição do Ocidente à vontade política de Putin.
Com consequências desastrosas no futuro.
Até porque uma grande parte da Europa não poderá aceitar essa solução.
Não tenciono vir a conhecer pessoalmente o presidente Trump.
Mas, caso o Acordo de Minsk viesse a ser celebrado, dir-lhe-ia: entre a Desonra e a Guerra escolheu a Desonra e terá, futuramente, a Guerra.
Nem mais, nem menos…
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico