Começar devagar na madrugada. Ver o nascer do sol no meio do Atlântico.Os olhos estão ainda semicerrados e os músculos do corpo contraem alternadamente numa tentativa de fintar o fino ar gélido da madrugada que, sem autorização, insiste em penetrar os poros a descoberto. No meio do silêncio do Atlântico o negrume do céu exacerba o brilho das milhares de pequenas luzes que emergem das montanhas escarpadas. A Madeira fita-nos à distância, inerte e ainda adormecida, guiando-nos pela serenidade das águas salgadas. É a bordo de um veleiro, o ‘Ventura do Mar’, que rasgamos o oceano para testemunhar um dos mais oníricos espetáculos da Natureza. Durante uma hora o pequeno barco avança sem pressa, a respiração desacelera e a mente aquieta-se. No horizonte, começam a ensaiar-se as primeiras cores da alvorada com um laranja que espoleta timidamente. Finalmente, o Sol emerge, devolvendo, durante mais um dia, o azul lídimo ao céu que o mar generosamente espelha. A cena é seguida num tom quase ritualístico de quem esperou o momento como uma efeméride. Depois de a paisagem se revelar, o arquipélago deslinda a outra face pintada de verde e terra. A experiência ‘Nascer do Sol’ é uma das propostas da empresa Ventura Nature Emotions, tem a duração total de duas horas e meia (51 euros adultos/ 32 euros crianças a partir dos quatro anos) e inclui pequeno-almoço a bordo. A embarcação parte da Marina do Funchal rumo a leste em direção à Reserva de Garajau.O passeio é o ponto de partida idílico para mergulhar na brandura da ilha que se oferece como retiro para desconectar a mente e reenergizar o corpo..Madeira. Com proveitos a bater nos mil milhões de euros, ‘wellness’ é aposta na promoção.Avançar a passo lento de manhã. Mergulhar na floresta Laurissilva na Levada do Alecrim .Após contemplar ao longe as indulgentes curvas e declives que desenham o corpo do arquipélago, ainda a medo e com o cuidado de uma visita que pede licença para entrar, imergimos nos tesouros da floresta Laurissilva, Património Mundial da UNESCO. Partindo do Planalto do Rabaçal, concelho da Calheta, seguimos rumo à Levada do Alecrim, onde o convite se apresenta para uma meditação ativa. Combinando a contemplação silenciosa com uma caminhada que serpenteia por entre loureiros centenários e musgos vivos, atravessamos túneis de urzes que cercam o trajeto. À medida que avançamos, num passo firme e vagaroso, as folhas densas filtram a luz diáfana, o ar mais límpido assalta os pulmões e os ouvidos são embalados no canto das águas que, em diferentes roupagens, dão colo ao trilho. O percurso é uma ode sensorial crua oferecida por uma Natureza sem filtros. A imponente Lagoa da Dona Beja, que alimenta a queda de água da Lagoa do Vento, é a surpresa final oferecida em jeito de recompensa depois da caminhada, convidando a um momento de introspeção. É também o mote ideal para uma pausa para recarregar baterias antes do trajeto de volta e cenário perfeito para um piquenique.A Levada do Alecrim é um dos mais de 30 percursos pedestres oficialmente classificados sob gestão do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza da Madeira. A cerca de 1300 metros de altitude, os 3,5 quilómetros (sete, no total), o trilho de dificuldade fácil percorre-se em cerca de 2h30. Desde o início do ano que é obrigatório, para os não-residentes, o pagamento de uma taxa de três euros para aceder a estes trajetos bem como a reserva de um slot horário através da plataforma SIMplifica. Para uma experiência mais personalizada é possível planear a caminhada com uma empresa especializada. A Adventure Kingdom tem vários percursos disponíveis com tarifas entre os 31 euros e os 44 euros que incluem guia oficial de montanha, transporte e seguro pessoal..Uma pausa antes de almoço. Regenerar o corpo a -110ºC.A oferta da Madeira espraia-se além dos ativos naturais da ilha com diversas atividades e infraestruturas que complementam e enriquecem o roteiro de bem-estar. É exemplo o centro de longevidade Coolzone, localizado no coração do Funchal. A tecnologia de ponta e a maior e mais potente câmara de crioterapia do mundo são já atrativos para muitos atletas que procuram o espaço para a recuperação física, mas os benefícios dos vários tratamentos captam, cada vez mais, diversas franjas de público de várias idades e nacionalidades. É a paragem perfeita para cuidar do corpo após uma manhã de exercício físico. O circuito de longevidade completo (189 euros) combina os vários tratamentos numa experiência dividida em quatro etapas. O ponto de partida faz-se um scan corporal 4D com o objetivo de analisar a postura, estrutura muscular, composição corporal e alinhamento. A tecnologia analisa o interior do corpo com o propósito de oferecer uma visão real do estado de saúde e condição física, permitindo acompanhar a evolução ao longo do tempo, ajustar o plano de treino ou estilo de vida. Os resultados do exame, que dura apenas um minuto, ficam disponíveis numa app onde é possível aceder não só a todos os dados bem como às fotografias 360º. O circuito prossegue com uma inovadora drenagem linfática de 12 minutos realizada dentro de um aparelho que ativa e estimula o sistema cardiovascular, o fluxo linfático e a circulação sanguínea através de ondas de pressão alternadas. O sistema Flow promete uma pele mais firme e tonificada, a redução da celulite e a eliminação de toxinas, uma regeneração otimizada e o aumento dos níveis de energia. Seguimos, no terceiro momento, para a câmara de luz infravermelha e oxigénio ionizado onde durante oito minutos mergulhamos num estado de descompressão profunda. A sessão, que pode ser realizada para recuperação pós-treino ou para um momento de relaxamento, visa aliviar a tensão muscular, melhorando a circulação sanguínea e promovendo a recuperação natural do corpo. O oxigénio ionizado potencia a experiência ao aumentar os níveis de energia e a clareza mental. Por fim, avançamos para a câmara de crioterapia, o ex-líbris do Coolzone que promete que o utilizador se irá “sentir como um super-herói, mas sem o fato de licra”. Antes de levarmos o corpo ao limite, equipamo-nos com gorros, luvas e uma máscara para proteger as vias respiratórias. O salto no frio faz-se por fases e em três salas onde as temperaturas vão descendo gradualmente dos -10ºC até aos -110ºC. A permanência em cada espaço é curta, mas desafiante. Durante os três minutos em que ficamos dentro das salas, uma instrutora conduz alguns exercícios físicos, como alongamentos, uma forma de serenar a mente que luta com a vontade de desistir, fazendo-a abstrair-se do clima ártico severo que nos rodeia. A sessão de exposição ao frio extremo promove uma descarga duradoura de endorfinas, reforça o sistema imunitário, melhora a circulação sanguínea, promove a recuperação muscular e ajuda no alívio da dor e na redução da inflamação. No fim, além do orgulho hercúleo de quem superou a prova, o corpo responde com mais leveza e energia..Um passeio até à ilha dourada durante a tarde. As areias quentes conduzem a narrativa.Seja num voo doméstico direto de 20 minutos ou no acarinhado ferry Lobo Marinho, a paragem em Porto Santo é obrigatória quando se fala de wellness. Na ilha dourada, repousa um extenso areal de nove quilómetros que se configura num quadro ímpar visto de qualquer um dos vários miradouros. Nesta época do ano, e despido de turistas, Porto Santo é sinónimo de quietude num tempo onde os ponteiros do relógio não têm pressa em avançar. Neste pequeno paraíso localizado no Atlântico, a 40 quilómetros da ilha da Madeira, a areia é protagonista. Além de se apresentar como o centro nevrálgico da paisagem, as propriedades terapêuticas destes finos grãos ricos em minerais como magnésio, cálcio, fósforo e estrôncio, são, para muitos, o motivo principal da visita. O tratamento com as areias quentes é um dos chamarizes da ilha procurado pela ação anti-inflamatória, sobretudo para condições como dores reumáticas e musculoesqueléticas. No Porto Santo Hotel & SPA é possível experienciar os benefícios da psamoterapia (90 euros por sessão ou 220 euros um pacote de quatro sessões). Numa sala com música ambiente, somos deitados em pequenas banheiras e cobertos, até ao pescoço, com areia aquecida a 43ºC. Durante meia hora o corpo imóvel relaxa, a temperatura escala, e é através do ácido libertado pela transpiração que os minerais são dissolvidos e absorvidos pela pele. Ainda com a areia colada ao corpo - não é recomendado tomar banho após o tratamento - e com os músculos adormecidos, complementamos a célere passagem por Porto Santo com um passeio que se inicia no ponto mais alto da ilha, o Pico do Facho, e segue pelas paragens e miradouros mais icónicos. A Dunas Travel oferece tours de jipe (29 euros por pessoa) para explorar os recantos da região..Turismo de bem-estar vale quase 1,4 biliões e Portugal está no 'top' 20 .Encerrar o dia com chave de ouro. Uma massagem ou uma aula de yoga para selar o estado de atenção plena.À medida que o sol se vai aproximando do horizonte, antecipando a aparição da noite, é hora de selar e integrar o estado de descompressão. Com uma hotelaria de luxo firmada na ilha da Madeira, não escasseia a oferta de spas com extensos menus repletos de tratamentos e massagens que se revelam como uma via irrecusável para terminar o dia e o The Cliff Bay é um dos exemplos.Localizado na Estrada Monumental, o spa do cinco estrelas dispõe de uma carta de tratamentos com mais de duas dezenas de páginas. Caso a escolha se vislumbre árdua, a massagem de assinatura com óleos essenciais (96 euros) é uma opção isenta de arrependimentos. Uma aula de yoga é outro dos caminhos possíveis para encerrar esta pequena imersão no arquipélago. A madeirense Frederica Valente (Yoga with Freddie), formada na Índia, convida a uma viagem entre o corpo e o espírito através da prática milenar que combina as posturas com técnicas de meditação e respiração, trazendo a consciência para o momento presente. .Onde comer.Haverá, certamente, poucas formas de amor e de bem-estar com uma concordância universal tão unânime como a gastronomia. É a mesa que os sabores raiz acordam os sentidos, alimentam o corpo e desinquietam a alma. Na Madeira o bem-estar está intrinsecamente ligado à riqueza de produtos e de aromas que incendiam o paladar. Da cozinha típica à tradição reinventada, passando pelas influências de fora de portas, somam-se os espaços na ilha que elevam a cozinha regional. Junto ao mercado dos Lavradores, o Three House casa os ingredientes locais com uma fusão de sabores internacionais. A estrela da cozinha aberta, liderada pelo chef Maurício Faria, é um grelhador de carvão de inspiração japonesa e no qual a maioria dos pratos são confecionados. É de pormenores e de tempo para desfrutar que se faz a experiência: seja no pão de fermentação lenta ou nos exclusivos 27 baos que, diariamente, são confecionados durante quatro horas.No centro histórico da cidade, o chef Júlio Pereira assina uma carta que cheira a mar. São os clássicos de partilha que se chegam à frente no Akua, num cardápio criativo que ousa deitar no mesmo prato sardinha e maracujá e onde há espaço para um cachorro quente de farinheira de peixe. Para um jantar mais demorado, vale a pena dar uma oportunidade ao Audax. A cozinha madeirense progressiva é o ponto de honra, com o cunho do chef César Vieira que reinterpreta os sabores regionais nos menus de degustação guiados pela sazonalidade da ilha. Por fim, a estada na Madeira não pode terminar sem uma paragem no clássico Avista, inserido no hotel The Cliff Bay. Localizado num promontório junto à baía dos Piratas, a vista inigualável sob o oceano é parte residente da ementa de partilha mediterrânica e asiática, a cargo do chef João Luz..Onde ficar.No centro histórico do Funchal, o Barceló Oldtown Funchal, inaugurado em 2023, conjuga o conforto de um cinco estrelas com a praticidade da proximidade aos principais pontos da cidade. O hotel, que resultou da reabilitação de seis edifícios históricos do século XVII, situa-se junto à Sé Catedral do Funchal e ao passeio marítimo da Avenida do Mar. Dispõe de 111 quartos, bar e restaurante, piscina no rooftop e três salas de reuniões. Os preços por noite começam nos 160 euros..Como ir.A TAP oferece de voos diretos a partir de Lisboa e do Porto para o Funchal, com preços que começam nos 55 euros (tarifas para o mês de janeiro). A ligação entre o Continente e o arquipélago pode ainda ser feita através das low-cost Ryanair (a partir dos 16 euros) e da easyJet (a partir dos 33 euros). *A jornalista viajou para a Madeira a convite da Associação de Promoção da Madeira.Turismo terá ano histórico com receitas recorde de 30 mil milhões de euros.Procura de viagens no fim de ano aumenta com Madeira, Brasil e Marrocos a liderarem