Nunca os turistas gastaram tanto dinheiro em Portugal e o ano está prestes a encerrar com um novo recorde no que respeita ao consumo dos visitantes em território nacional. As receitas turísticas no país - que correspondem ao dinheiro gerado pela atividade e que incluem gastos com alojamento, restauração, transportes, compras entre outros serviços - irão crescer cerca de 6% em 2025, atingindo um novo máximo histórico de perto de 30 mil milhões de euros. Este será o melhor ano de sempre para o turismo nacional, que irá superar as receitas de 27,7 mil milhões de euros registadas em 2024.“Iremos chegar perto dos 30 milhões de euros em receitas, ficaremos apenas ligeiramente abaixo [29,4 mil milhões], e vamos crescer de uma forma bastante sólida. É importante para o turismo, mas é, sobretudo, importante para o país porque este valor beneficia todos os setores de atividade”, revela ao DN o presidente do Turismo de Portugal (TdP). Carlos Abade aplaude os resultados ímpares que, defende, “permitem criar mais valor acrescentado e maior riqueza para o país, permitindo que o turismo seja um pilar de prosperidade e bem-estar das populações”. O responsável do instituto público tutelado pelo Ministério da Economia destaca que esta soma final resulta de uma aposta em diversas franjas, que tem vindo a ser consolidada nos últimos anos, nomeadamente ao nível da promoção do país no estrangeiro, das infraestruturas, da melhoria da oferta, da qualificação dos recursos humanos e da robustez das empresas. “É um trabalho contínuo, isto não cai do céu. Tem havido um trabalho nesta parceria público-privada [Governo e TdP] que tem gerado imensos resultados e que nos permitiu construir um país que hoje é o 12.º destino turístico mais competitivo do mundo, mas que queremos que passe a ser o 10º”, frisa. A atividade turística nos últimos meses continuou a ganhar fôlego com os principais indicadores a comprovar que Portugal permanece uma geografia apetecível, principalmente para os estrangeiros. O crescimento, contudo, tem sido mais expressivo nos proveitos do que no volume de hóspedes ou nas dormidas. Ou seja, e simplificando, já não estão a chegar tantos turistas em número ao país, mas os que vêm gastam mais dinheiro.Os últimos dados disponíveis no Instituto Nacional de Estatística (INE) ilustram: até outubro, o número de hóspedes nos estabelecimentos de alojamento turístico avançou 3,1% para os 28 milhões, as dormidas subiram apenas 2,2%, para 73 milhões, enquanto que os proveitos totais (que somam ao alojamento outros gastos inerentes à estadia dos turistas como restauração, lavandaria entre outros serviços) deram um salto de quase 8% para os 6,4 mil milhões de euros. Para Carlos Abade este é o eixo que deve guiar a estratégia futura do setor. “O crescimento está a ser feito em valor e isso está alinhado com o nosso propósito que é termos mais valor acrescentado e menos volume. Temos tido a capacidade de chegar a mercados de cada vez maior valor acrescentado que encontram no país recursos e motivações para poderem visitá-lo”, explica..Aumentar conectividade à Ásia, México e Austrália.Seduzir turistas com maior poder de compra e que estejam disponíveis para pagar preços mais elevados no país assume-se como o objetivo primordial para acelerar a atividade turística. Os Estados Unidos continuam na linha da frente da aposta, depois de se terem consolidado nos últimos anos como um dos principais mercados emissores em Portugal e, neste sentido, o TdP irá abrir um novo escritório em São Francisco. Contudo, é preciso diversificar e olhar para o potencial de outros destinos como o México, a Argentina, a Austrália ou a Ásia. “Iremos iniciar um processo de grande investimento no México porque consideramos que podemos penetrar e captar segmentos de elevado valor acrescentado. O mesmo acontece com a Argentina e também com a Ásia. Queremos continuar este investimento que temos vindo a fazer na China, no Japão e na Coreia do Sul. Vamos ainda reforçar o trabalho que temos já feito relativamente ao mercado da Austrália, onde pensamos também abrir um escritório”, deslinda Carlos Abade.A conectividade aérea é a chave central deste plano e a sede por novas ligações é desejo assumido. “O nosso objetivo é que possamos acompanhar o nosso posicionamento nestes mercados com uma conectividade aérea. Vamos ter de continuar a incrementar, sobretudo, aquelas rotas que são para nós importantes do ponto de vista de mercados estratégicos”, explica. E a TAP pode ser parceira neste plano? “Articulamos com todas as companhias aéreas o nosso foco e esta nossa ambição de reforçarmos a conectividade. Falamos com a TAP, como falamos com todas as outras companhias e dentro daqueles que são os planos de desenvolvimento e de expansão de cada uma das companhias, vamos tentando fazer com que a conectividade aérea para Portugal ganhe cada vez mais valor, seja cada vez mais eficaz. É isso que temos feito com a TAP e com todas as outras”, justifica. Para que as novas ligações possam ser firmadas, e os aviões aterrem em Portugal, é importante que as infraestruturas apresentem capacidade de resposta. A Portela, admite o presidente do TdP, é um tema que gera “preocupação”. “Temos de trabalhar cada vez mais no sentido de tornar o aeroporto de Lisboa cada vez mais eficiente, mas está previsto um ligeiro aumento dos movimentos em resultado dos investimentos que serão feitos. Tem de ser um trabalho contínuo para melhorar a capacidade e a experiência do turista que entra em Portugal através deste aeroporto que tem sido menos positiva”, sublinha.Nos próximos dias o Governo e o TdP irão apresentar a Estratégia Turismo 2035, que irá suceder à Estratégia Turismo 2027. A cada década o organismo público desenha os eixos de atuação, traça metas e define objetivos para o futuro do setor. O compromisso entre o turismo e os residentes, a conectividade, a mobilidade, as infraestruturas e os recursos humanos são alguns dos desígnios estruturais no plano. “Estamos a construir uma estratégia para o futuro, não só para o turismo, mas para o país e perceber como é que o turismo impacta da melhor forma a vida dos portugueses. Isso só é feito se estivermos bem focados no nosso objetivo final que é que o turismo seja um pilar da prosperidade e bem-estar das populações. É isso que é o mote da estratégia e portanto é isso que seguramente dela resultará”, conclui. .“É difícil explicar a reação do mercado.” Procura recorde por viagens de fim de ano dispara 20%.Turismo: Peso das dormidas de estrangeiros em mínimos de três anos