Alterações climáticas. Conferência polémica "não será cancelada"

Diretora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que acolhe conferência negacionista do aquecimento global, diz que a instituição "é um espaço plural" e que impedir a sua realização seria "censura"
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A Faculdade de Letras da Universidade do Porto "não cancelará" a conferência sobre alterações climáticas que está prevista realizar-se ali a partir da próxima sexta-feira, afirmou ao DN Fernanda Ribeiro, diretora daquela faculdade. "Fazê-lo seria fazer censura", diz a responsável, sublinhando que a instituição "não vai ceder a pressões só porque há uma polémica". A faculdade, garante, "é um espaço plural, podemos acolher outras formas de debate".

A conferência "Basic Science of a Changing Climate", que vai decorrer naquela faculdade nos próximos dias 7 e 8 (sexta e sábado) é organizada pelo grupo assumidamente negacionista Independent Committee on Geoethics, e tem como objetivo expresso, como se lê no site da própria Universidade do Porto, "(des)construir algumas ideias sobre alterações climáticas". A desconstrução incide sobre a ideia de que o aquecimento global é causado pelas emissões de CO2 devido à utilização humana dos combustíveis fósseis.

Fernanda Ribeiro diz, no entanto, acreditar que "estão reunidas as condições para o debate científico", uma vez que "houve um call para comunicações". Isso, nota, "dá garantias de que é uma conferência aberta" a quem se quiser inscrever. "Só não haverá debate", diz, "se as pessoas não forem lá participar".

Questionada anteriormente pelo DN, a presidente da comité da organização, a geógrafa Maria Assunção Araújo, professora daquela faculdade, assumiu que a escolha dos oradores foi da responsabilidade do Independent Committee on Geoethics, que apenas convidou negacionistas do papel antropogénico nas alterações climáticas. Apesar disso, a presidente da organização considera que os participantes são "pessoas cientificamente muito válidas" e que o debate científico está assegurado.

"Pensamos que a causa fundamental das alterações climáticas, que não negamos, não é a acumulação de CO2 na atmosfera", afirmou Maria Assunção Araújo ao DN. "Não pode ser isso porque o CO2 é uma pequeníssima parte dos gases na atmosfera e a maior parte nem é produzido pelos humanos, não há maneira de ter essa influência que se diz", garante.

A Universidade do Porto demarcou-se, entretanto, das posições assumidas pelos organizadores e participantes na conferência. Em comunicado, a instituição esclarece que a conferência é uma "iniciativa de uma docente da mesma faculdade, sendo da responsabilidade do Independent Committee on Geoethics", e sublinha que a sua realização "não significa que as posições" ali assumidas "sejam um reflexo da visão da Universidade do Porto sobre o tema em debate".

As universidades, defende a instituição, "devem afirmar-se como espaço de debate", pelo que, não acolher a conferência, seria "censura".

Entre os organizadores e oradores da conferência estão o sueco Nils-Axel Mörner, que questiona a subida do nível dos oceanos - tese desacreditada pelas evidências científicas.

Outro dos oradores é Christopher Monckton, conselheiro do The Heartland Institute, um think tank norte-americano conservador, que nega o aquecimento global. De acordo com o The New York Times, aquele think tank investiu vários de milhões de dólares para tentar contrariar a ciência das alterações climáticas, incluindo uma tentativa de minimizar o ensino sobre o aquecimento global nas escolas públicas. Essas iniciativas, denunciou o mesmo jornal, foram em parte "financiadas pela Charles G. Koch Fundação de Caridad, que tem ligações às Koch Industries, uma refinaria de petróleo".

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