Violência contra ator. Agressor tem 20 anos e estará ligado aos neonazis Blood & Honour
As autoridades já terão recolhido indícios que podem ligar o o suspeito de agredir o ator Adérito Lopes, junto ao teatro A Barraca, na noite de terça-feira, 10 de junho, ao grupo neonazi Blood & Honour. Fonte ligada à investigação, que está a ser coordenada pela Polícia Judiciária com apoio da Polícia de Segurança Pública (PSP), confirmou ao DN, para já, que o identificado tem 20 anos e estará ligado a um grupo de extrema-direita.
Imagens filmadas por pessoas que estavam no teatro mostram que, no momento da agressão, estavam próximos alguns suspeitos de pertencerem ao grupo Blood & Honour (B&H) e, há vários anos, conhecidos pelas autoridades de segurança.
Numa dessas imagens, é visível também um indivíduo que poderá ser João Martins, 51 anos, referenciado no passado pela polícia como um “ideólogo neonazi” ligado ao grupo identitário Portugueses Primeiro. João Martins, recorde-se, foi condenado a 17 anos de prisão pelo homicídio de Alcindo Monteiro, ocorrido a 10 de junho de 1995.
Além da investigação sobre as ligações do suspeito das agressões, ainda está por esclarecer a motivação do ataque. O DN apurou que há a hipótese de que seja uma espécie de “ritual de iniciação” no grupo.
Soqueira utilizada
À Lusa, a diretora do teatro Maria do Céu Guerra disse que tudo aconteceu por volta das 20h00, quando estavam os atores a chegar para o espetáculo, quando se cruzaram à porta “com um grupo de neonazis com cartazes, programas”, com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
“Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, afirmou Maria do Céu Guerra. O ator agredido com uma soqueira é Adérito Lopes, que teve de receber tratamento hospitalar e recebeu alta durante a madrugada.
Com a divulgação das imagens nas redes sociais, várias das pessoas estão a ser identificadas por ativistas. Os B&H são um dos grupos mais discretos que atuam no país. Diferente de outros grupos de caráter ideológico semelhante, como o 1143 de Mário Machado (agora a cumprir pena de prisão efetiva) e a Reconquista, não possuem perfis nas redes sociais e nem realizam grandes atos públicos. Um dos únicos perfis nas redes sociais ligado ao grupo é o da banda de rock Legião Lvsitana, que existe desde 2013.
Este é o mesmo grupo para cuja escalada de atividades a PJ alertava no capítulo que foi retirado do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) do ano passado. Este grupo de neonazis está, pelo menos desde 2018, sinalizado pelas autoridades portuguesas, tendo a sua presença e atividade sido referida até no relatório anual da Europol deste ano.
O B&H está classificado como grupo terrorista em países como a Espanha, que o baniu, o Canadá e a Alemanha. No Reino Unido, as contas bancárias foram congeladas em janeiro deste ano.
No texto cortado chamava-se atenção para o facto de “a falta de adoção de uma posição comum, sobretudo a nível da UE, relativamente a este tipo de grupos extremistas, pode gerar a criação de safe havens para o desenvolvimento das suas atividades, e que são aproveitados sobretudo pelas organizações extremistas internacionais com representações (chapters) em vários países, verificando-se recorrentemente a deslocalização de alguns dos seus membros”.
Autocolante da Reconquista deixado no local
No local da agressão ao ator um autocolante que é vendido pelo grupo Reconquista, de Afonso Gonçalves. O grupo publicou uma nota no Telegram em que se distancia das agressões. “Nas últimas horas surgiu uma notícia de agressão física em que os supostos perpetradores 'deixaram para trás' um autocolante alusivo ao movimento. Assim, e sem prejuízo do necessário apuramento dos factos que até agora parecem bastante nebulosos (que deve preceder quaisquer acusações ou insinuações) informamos que nenhum membro da Reconquista estava no local em que ocorreu a alegada agressão”. Naquele dia, o grupo estava em atividade na cidade de Samora Correia.
Sobre os autocolantes, alegam que “não pode responder por quem compra ou dispõe de autocolantes do movimento” e que “não pode (apesar de estar em condições de garantir a inocência dos seus membros) responder pelas atitudes individuais dos mesmos”
Já o grupo 1143, de Mário Machado (que está preso, sendo Gil Pantera o novo líder), também distanciou-se das agressões. Cerca de 700 integrantes estavam no Porto, numa marcha pelo “Orgulho heterossexual”.
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