Adérito Lopes recebeu alta hospitalar durante a madrugada desta quarta-feira
Adérito Lopes recebeu alta hospitalar durante a madrugada desta quarta-feiraDR

Ator de A Barraca agredido com soqueira por grupo de extrema-direita e teve de ser suturado

Adérito Lopes sofreu ferimentos no olho e no rosto, mas já recebeu alta. Diretora da companhia, Maria do Céu Guerra, fala num grupo de neonazis com cartazes, programas”, com várias frases xenófobas.
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Um ator da companhia de teatro A Barraca foi agredido esta terça-feira, 10 de junho, por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para um espetáculo com entrada livre de homenagem a Camões.

A agente de Adérito Lopes disse ao DN que o artista sofreu um soco com uma soqueira que lhe causou ferimentos no olho e cortes no rosto, tendo necessitado de ser suturado. Entretanto, recebeu alta hospitalar durante a madrugada desta quarta-feira. "Está muito combalido. É uma situação bastante traumatizante", contou Teresa Miguel Amaral, que vai aconselhar o ator a levar judicialmente o caso até às últimas instâncias.

A diretora da companhia e também atriz Maria do Céu Guerra narrou à Lusa que foi por volta das 20h00, estavam os atores a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos, quando se cruzaram à porta “com um grupo de neonazis com cartazes, programas”, com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.

“Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, afirmou a também encenadora, de 82 anos, que disse que o ator em causa, Adérito Lopes, teve de receber tratamento hospitalar.

Maria do Céu Guerra contou à Lusa que o espetáculo “Amor é um fogo que arde sem se ver” teria a última récita, de um conjunto de seis, às 21h00, com entrada livre, e tinha sala cheia, mas acabou por não acontecer.

O público só abandonou o espaço já para lá das 22h00, disse a atriz, que realçou que o sucedido só não foi pior por ter aparecido a Polícia de Segurança Pública (PSP).

Maria do Céu Guerra lembrou que se assinalam neste dia os 30 anos do ataque por neonazis que matou Alcindo Monteiro: “30 anos depois, este país ainda não arranjou forma de se defender dos nazis”.

“É terrível. E tenho aqui o elenco, 14 atores, todos temendo pela sua saída do teatro. E que querem falar, dar a sua opinião, querem dizer o que sentem em relação a isto e à proteção que lhes é merecida”, afirmou a atriz, que sublinhou o quão vulneráveis se sentem.

Nas palavras de Maria do Céu Guerra, A Barraca é um símbolo de paz, mas para outros não sabe o que será.

Segundo fonte da PSP disse ao DN, o alegado agressor foi identificado e está ligado à extrema-direita.

Ministra da Cultura repudia “atentado contra liberdade de expressão”

A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, repudiou esta quarta-feira a agressão contra a companhia teatral A Barraca, classificando-a de “atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos”.

“A Cultura é um lugar de liberdade, nunca de medo. Repudio a agressão cobarde de que foram alvo os atores da companhia A Barraca”, começa por escrever a ministra.

Margarida Balseiro Lopes sublinhou: “Este ataque é um atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos que nos definem enquanto país. A Cultura não se intimida. Não recua. E não aceita ódio travestido de discurso político”.

“Temos de garantir que artistas, técnicos e público podem participar plenamente na vida cultural, com segurança, respeito e dignidade”, reforçou a governante, que dirigiu ao ator agredido e a toda a equipa da companhia a sua solidariedade, em particular à diretora artística Maria do Céu Guerra, “cujo papel na cultura portuguesa é inestimável”.

Casa do Artista condena violência

A Casa do Artista também condenou o incidente e lembrou que numa democracia “não há lugar para o ódio, a intimidação ou a agressão”.

Em comunicado, a direção da Casa do Artista condenou “veementemente o ato de violência de que foram alvo os atores da Companhia A Barraca”, sublinhando a “total solidariedade” para com o ator agredido e para com os demais membros da companhia teatral.

A Casa do Artista reafirma a sua “firme defesa dos valores da democracia, do respeito e da dignidade humana bem como o [seu] compromisso com a dignidade e a segurança de todos os artistas”.

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