O subintendente Rui Costa comanda a Divisão de Investigação Criminal.
O subintendente Rui Costa comanda a Divisão de Investigação Criminal.Paulo Spranger

Tráfico de droga aumenta em Lisboa. PSP tem nova estratégia de combate

Investigação relacionada com o tráfico de estupefacientes faz parte de uma única esquadra. Polícia tem identificadas seis zonas problemáticas na cidade e um programa de ação dividido em três níveis.
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A visibilidade cada vez maior do tráfico de droga em algumas zonas de Lisboa levou a Polícia de Segurança Pública a colocar em prática uma ideia que já existia, mas que nunca tinha passado do papel: criar uma esquadra de investigação criminal especializada no combate ao tráfico de estupefacientes.

“Estrategicamente considerámos que seria uma mais-valia, desde logo em termos de eficácia e eficiência. O que tínhamos era investigações e recursos disseminados, estratégias de comando diferentes, áreas de intervenção diferentes. E o que queremos é uma estratégia comum, eficiente, fazer bem com poucos recursos”, disse ao DN o subintendente Rui Costa, comandante da Divisão de Investigação Criminal.

A decisão de avançar para a reorganização - os cerca de 40 agentes que estavam em várias esquadras afetos a investigações relacionadas com estupefacientes estão agora na 4.ª esquadra, situada no Forte do Alto do Duque - foi assim um passo numa mudança estratégica de combate ao tráfico em Lisboa que envolve, ainda, uma divisão das operações policiais em três níveis.

Esta alteração surge numa altura em que a venda de droga é cada vez mais visível na capital. “Não temos dados que nos digam que há um aumento exponencial de tráfico de drogas. Agora, temos observado, e isso não é muito científico, que ao longo dos últimos anos se começam a ver focos de tráfico que já não eram visíveis desde 2014, mas que começaram a surgir no pós-pandemia”, salientou Rui Costa.

A PSP tem identificadas várias zonas onde a situação é mais grave - Bairro do Loureiro, Avenida de Ceuta, Mouraria, Ameixoeira, Picheleira e Chelas - e é nessas áreas que tentam “agir rapidamente”. Se é certo que o cenário dos anos 90 do século passado - com situações como a do Casal Ventoso, onde centenas de pessoas viviam, na época, em barracas, muitas sem água canalizada, nem esgotos, e onde o tráfico e o consumo de droga “dominavam” o bairro - não deverão repetir-se, a verdade é que a PSP tem nesta estratégia a “arma” para tentar evitar a sensação de insegurança nas zonas referidas. Mas não só.

“Esta luta contra o tráfico não se faz só no âmbito da investigação criminal. Há questões sociais, de apoio, de enquadramento, em que as juntas são importantes. Por exemplo, depois de fazermos buscas a um determinado local, nas casas onde se procede à venda direta de droga, alguém tem de fechar as portas para impedir que voltem a ser usadas. E é aí que é importante o apoio das juntas de freguesia.”

Três níveis de combate

A estratégia da PSP colocada no terreno com a criação da esquadra especializada nesta criminalidade está dividida em três níveis: o primeiro direcionado para a venda direta; o segundo, visa as pessoas que abastecem os vendedores; e o terceiro está relacionado com investigações bastante complexas e que têm como alvo os grandes abastecedores de droga para a cidade.

“No caso do primeiro nível temos identificados os locais onde hoje existe a venda direta de droga e temos alguns inquéritos abertos. Serão investigações relativamente rápidas de dois ou três meses. É neste nível que estamos a investir grande parte dos recursos humanos. Fazemos buscas, detenções, nas zonas conhecidas. No nível dois estão as operações um pouco mais complexas em que recorremos a meios como as escutas telefónicas. O objetivo é chegar aos abastecedores dos locais de nível um. Não serão investigações tão rápidas e não teremos resultados a curto prazo, mas são essenciais, pois não podemos fazer só ações do nível um. Por exemplo, recentemente fizemos uma operação no Bairro do Loureiro (considerado como um locais onde a venda de droga a céu aberto é mais grave em Lisboa) e se formos lá agora não digo que está tudo igual, mas as pessoas que vendiam e foram detidas já estão substituídas. Por isso, o que temos de fazer é acabar com a venda e com quem abastece”, explicou Rui Costa.

O último nível da nova estratégia está direcionado para os high value targets. “São as pessoas que abastecem a cidade de Lisboa. Estas serão investigações de topo e temos uma equipa só para esse nível, que não pode ter mais de duas investigações ao mesmo tempo pois são muito complexas, ao ponto de necessitarem de acompanhamento do Ministério Público. Podem durar mais de um ano, é o topo da pirâmide e aí temos menos recursos humanos, mas mais especializados. Porém, o nosso foco, em termos de recursos humanos, são os níveis um e dois. O nível um é talvez o mais visível e talvez produza resultados mensalmente e ajuda a diminuir o sentimento de insegurança sentido pelas pessoas quando saem de casa ou vão levar os filhos à escola.”

Além da questão da falta de segurança, a subida do tráfico a céu aberto está a provocar, cada vez mais, situações problemáticas ao nível da Saúde Pública, como alerta o subintendente Rui Costa: “Há um aumento da insalubridade e isso também é um problema. Acho que temos de agir rapidamente e de forma eficiente.”

Jovens com mais acesso

Uma das questões que o combate ao tráfico de estupefacientes enfrenta é a cada vez maior facilidade com que os jovens têm acesso às drogas. “Temos a perfeita noção, até por dados europeus, de que o acesso dos jovens, principalmente às drogas leves, é cada vez maior, tal como às sintéticas, que estão a ser produzidas na Europa”, frisa o responsável da Divisão de Investigação Criminal.

Outra situação que tem ganhado dimensões preocupantes está relacionada com o facto de muitos imigrantes que chegam a Portugal acabarem por “cair” no tráfico. “Essa é uma preocupação social. Muitas pessoas vêm para o nosso país à procura de uma vida melhor, mas depois não são acompanhadas socialmente e acabam por cair no tráfico e, sobretudo, no consumo de drogas pesadas”, frisa.

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