23 toneladas de cocaína apreendidas em 2024, a quantidade mais elevada em quase duas décadas
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23 toneladas de cocaína apreendidas em 2024, a quantidade mais elevada em quase duas décadas

Relatório refere que foram feitas 1.553 detenções por tráfico de cocaína. Análise a águas residuais na Europa mostram aumento no consumo de MDMA/ecstasy, com destaque para Lisboa, Porto e Almada.
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Desde 2006 que não era apreendida uma quantia tão elevada de cocaína em Portugal. No ano passado, as autoridades apreenderam cerca de 23 toneladas, a quantidade mais elevada em quase duas décadas.

Dados do Relatório Anual de 2024 de Combate ao Tráfico de Estupefacientes em Portugal - documento apresentado esta quarta-feira, na sede da Polícia Judiciária (PJ), em Lisboa -, indicam também que foram detidas no ano passado 1.553 pessoas associadas ao tráfico desta droga.

"A quantidade de cocaína apreendida em 2024 é a mais elevada desde 2006, atingindo o valor de 23.011,89 kg, um aumento de 5,9% face a 2023, ano em que já se tinha verificado um incremento de 31,4% face ao ano anterior", refere o relatório, citado pela Lusa.

No final do ano passado, o DN já tinha antecipado este aumento, com Artur Vaz, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da (UNCTE) da PJ, a não se mostrar surpreendido.

Foram contabilizados 1.884 intervenientes ligados ao tráfico de cocaína, sendo que 1.553 foram detidos, menos 30,6% do que em 2023, refere o documento que reúne dados da PJ, da GNR, da PSP, da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), da Polícia Marítima (PM) e da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

Em sentido contrário estão os dados referentes à canábis (haxixe), uma vez que foram apreendidos 7.343,91 kg em 2024, o que significa "um decréscimo de 80,6% relativamente a 2023, ano em que se apreenderam 37.945,48 kg daquela substância".

Ainda assim, o número de apreensões e o número de intervenientes ligados tráfico de canábis é mais elevado do que o da cocaína, tendo sido detidos 3.259 pessoas associadas ao tráfico desta droga.

A canábis é, aliás, a que tem maior expressividade de indivíduos associados à atividade de tráfico/consumo (77,9%).

Relatório mostra que foram apreendidos 94,25 kg de heroína, "o valor mais alto desde 2020", tendo sido detidas 640 pessoas.

As autoridades procederam ainda à apreensão de 216.950 unidades de ecstasy, "mais 138,3% que em 2023, ano em que se apreenderam 91.054 unidades". No caso desta droga, 562 pessoas foram detidas.

Documento refere que, em termos globais, o número de intervenientes associados ao tráfico e o tráfico/consumo de drogas diminuiu 23,7% face a 2023, de 9.001 para 6.871.

"Analisando-se os últimos cinco anos, 2024 contraria a tendência crescente que se verificava desde 2020, ano dos últimos cinco em que se registou um menor número de intervenientes", indica relatório, que foi feito pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ.

Em 2024, registou-se uma manutenção das rotas de tráfico, principalmente a marítima no caso da cocaína e do haxixe, proveniente, respetivamente, da América Latina e de Marrocos/Espanha -, e terrestre em relação à heroína e do 'ecstasy'.

Apreendidos 4,2 milhões de euros e 369 veículos no combate ao tráfico de droga

As autoridades portuguesas apreenderam no ano passado mais de 4,2 milhões de euros em dinheiro e 369 veículos, incluindo sete embarcações, associados ao tráfico de droga, segundo o relatório.

De acordo com o Relatório Anual de 2024 de Combate ao Tráfico de Estupefacientes em Portugal, no ano passado foram apreendidos 4.166.109,24 euros em moeda comunitária e mais 57.044,590 euros em divisas estrangeiras.

No total, foram apreendidos 4.223.153,74 euros, menos 306.964,48 euros do que em 2023.

O documento, que reúne dados da PJ, da GNR, da PSP, da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), da Polícia Marítima (PM) e da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), mostra ainda que em 2024 foram apreendidos no âmbito do combate ao tráfico de droga 369 veículos: 322 automóveis, duas carrinhas, quatro camiões,34 motas e ciclomotores e sete embarcações.

"Em 2024, comparativamente a 2023, foram apreendidas mais 44,8% de viaturas (no geral), situação oposta à ocorrida desde 2021, em que o número de viaturas apreendidas vinha a decrescer", lê-se no documento.

No ano passado, foram ainda apreendidas 179 armas, 772 balanças, seis iPads e dois telefones satélite.

"Uma das mais importantes vertentes do combate ao tráfico de estupefacientes consiste na apreensão de bens e valores que resultam ou são utilizados na prática deste ilícito", sublinham as autoridades.

Lisboa, Porto e Almada com aumento de vestígios cocaína, anfetaminas e MDMA/ecstasy nas águas residuais

Já o relatório da Agência da União Europeia Sobre Drogas (EUDA), também referente a 2024 aponta para um aumento das deteções de MDMA, cocaína e anfetamina em comparação com 2023 e uma diminuição no que se refere à canábis nas águas residuais recolhidas pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de 128 cidades de 26 países (24 da UE + Turquia e Noruega), incluindo Lisboa, Porto e Almada.

Em declarações à agência Lusa, o analista científico João Pedro Matias, da EUDA, disse que as maiores concentrações de MDMA nas águas residuais foram recolhidas na Bélgica, Chéquia, Países Baixos e Portugal, sendo que Lisboa, Porto e Almada "apresentaram um aumento nos consumos de MDMA/Ecstasy, acompanhando o que é a tendência europeia".

Os consumos de MDMA/ecstasy em Lisboa (81.8 mg/1.000 pessoas/dia) continuam similares às cidades europeias com maiores quantidades detetadas de MDMA, segundo João Pedro Matias, que revelou que a canábis (droga ilícita mais consumida), MDMA e cocaína são as mais presentes nas cidades portuguesas abrangidas pelo estudo, sendo que as anfetaminas e metanfetaminas não apresentam valores significativos.

No que se refere à canábis, a droga também mais consumida em toda a União Europeia, as três cidades portuguesas observadas tiveram resultados muito similares, mas com tendências divergentes em relação ao ano anterior, com um decréscimo de consumo no Porto (de 98.3 para 53.7 mg/1000 pessoas/dia) e aumentos em Lisboa (de 113.2 para 150.8 mg/1000 pessoas/dia) e Almada (de 102.6 para 119.1 mg/1000 pessoas/dia).

As cargas mais elevadas do metabolito de canábis THC-COOH foram encontradas em cidades da Europa Ocidental e do Sul, em especial em Espanha e nos Países Baixos e Noruega.

Observaram-se tendências decrescentes com 25 das 51 cidades a comunicarem uma diminuição e 13 cidades a comunicarem um aumento desde 2023.

Relativamente à cocaína, os resíduos nas águas residuais continuam a ser mais elevados nas cidades da Europa Ocidental e do Sul (em especial na Bélgica, nos Países Baixos e em Espanha).

Também foram detetados vestígios na maioria das cidades da Europa Oriental, onde continuam a ser observados alguns aumentos, enquanto em Portugal "foram detetados decréscimos de consumo nas três cidades participantes", explicou João Pedro Matias.

O analista explicou ainda que, apesar de a análise das águas residuais poder detetar flutuações nos padrões semanais de consumo de drogas ilícitas, mais de três quartos das cidades apresentaram níveis mais elevados de resíduos de droga frequentemente associados ao consumo em contextos recreativos (cocaína, cetamina e MDMA) no fim de semana (sexta a segunda-feira).

Quanto aos resíduos de anfetamina, canábis e metanfetamina foram distribuídos de forma mais uniforme ao longo da semana, situação idêntica à de Portugal.

O analista da EUDA disse que este estudo refere-se à população das cidades cobertas pelas estações de tratamento, "não se podendo falar diretamente em número de pessoas testadas, mas em população coberta".

João Matias realçou que a cetamina (ou ketamina) também foi detetada nas águas residuais das três cidades portuguesas, apesar de os valores encontrados serem reduzidos e que, no caso do Porto, são quase inexistentes.

As maiores concentrações de cetamina foram observadas nas águas residuais de cidades da Bélgica, dos Países Baixos, da Hungria e da Noruega.

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