Soaram alertas: do temor da indisciplina ao monstro da incerteza financeira
Treze militares recusaram cumprir missão na Marinha, alegando razões de segurança, e revoltaram Gouveia e Melo. Já na banca, foram precisos 50 mil milhões para amenizar 'desastre' no Credit Suisse, numa semana de datas redondas, "festas chochas" e dúvidas desfeitas no futebol.
Sábado, 11 de março
Problemas dos bombeiros não se resolvem com elogios
"Respeito pelos bombeiros não é só dizer que somos imprescindíveis". A frase de António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros, no congresso do passado fim de semana, é um bom retrato de muitas outras realidades nacionais, sobre as quais se fazem diagnósticos precisos sobre a sua importância e necessidades para depois não se passar dos discursos à prática e ficar tudo na mesma. Todos os anos, quando os grandes fogos de verão colocam o país em sobressalto, regressam os debates sobre o ordenamento da floresta, a proliferação dos eucaliptos, a falta de limpeza dos terrenos, a prontidão do sistema de socorro, etc, etc, e boa parte da sociedade e dos políticos une-se em elogios à coragem dos que estão na primeira linha do combate, os bombeiros, sem que, no entanto, se resolvam os problemas sistémicos da falta de meios e investimento. A ausência de um comando autónomo de bombeiros na toda poderosa Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil ou a degradação do parque automóvel (cerca de 1200 viaturas ao serviço das corporações têm mais de 30 anos e no INEM há ambulâncias com mais de um milhão de quilómetros) são apenas alguns dos problemas, elencados por António Nunes, que continuam à espera de respostas efetivas e não de palavras simpáticas.

Entre outras exigências, bombeiros querem ter um comando autónomo na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
© ARTUR MACHADO/GLOBAL IMAGENS
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Domingo, 12 de março
Óscares. Festa "chocha" mas histórica
Sem a espectacularidade de outras edições - não houve chapadas ao apresentador nem gaffes monumentais ao anunciar os vencedores -, a 95.ª entrega dos Óscares passa à história como uma cerimónia "chocha e desenxabida" - como escreveu Rui Pedro Tendinha no DN - mas que, do ponto de vista português, fica gravada na memória por bons motivos, pois foi a primeira em que um filme nacional foi nomeado para os prémios máximos do cinema. A animação Ice Merchants, do realizador João Gonzalez, não regressou a casa com o troféu, mas abriu portas e ilustrou a atual "determinação e talento do cinema de animação em Portugal", como realçou o Presidente da República. Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo foi o grande vencedor da noite, com sete óscares, incluindo melhor filme, melhor realização (Daniel Kwan e Daniel Scheinert) e melhor atriz (Michelle Yeoh). Brendan Fraser, em The Whale, foi eleito o melhor ator.

Daniel Kwan e Daniel Scheinert realizaram Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo.
© EPA/CAROLINE BREHMAN
Segunda-feira, 13 de março
Dez anos de papa Francisco: "Foram uma tensão"
Na celebração dos dez anos de pontificado, Francisco recordou o dia em que se tornou o primeiro papa jesuíta e primeiro sul-americano a chefiar a Igreja Católica: "Parece que foi ontem. Estes 10 anos foram assim: uma tensão". Os escândalos de pedofilia na Igreja e as consequências da invasão russa à Ucrânia encerram hoje muitas das preocupações de Francisco, que lamentou ser o papa "da Terceira Guerra Mundial". "Por trás da guerra está a indústria das armas, isto é diabólico", disse o sumo pontífice, que já canonizou 900 santos, nomeou mais de 100 cardeais, assinou três encíclicas e visitou mais de 60 países, entre os quais Portugal onde regressa este ano, em agosto, para a Jornada Mundial da Juventude. Francisco, 86 anos, "um reformador", "uma lufada de ar fresco", "uma pessoa de paz", assim descrito nas páginas do DN por personalidades de diferentes crenças e origens, deixou um apelo que ilustra bem como cultiva a proximidade ao próximo: "Aprendam a não ter medo de chorar e sorrir. Se se esquecerem de chorar alguma coisa está errada. E se se esquecerem de sorrir, ainda está pior".

Francisco, o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica, celebrou dez anos de pontificado. Lamentou ser o papa da "Terceira Guerra Mundial" e pediu aos fiéis para não terem "medo de sorrir e chorar".
© ATILLA KISBENEDEK/AFP
Terça-feira, 14 de março
Marinha carrega na disciplina para não ficar à deriva
Um "grito de alerta" ou uma insubordinação pura e dura sem espaço para segundas interpretações? A tomada de posição dos 13 militares (quatro sargentos e nove praças) que invocaram razões de segurança para recusarem embarcar no NRP Mondego, não cumprindo assim uma missão, validada por superiores, de acompanhamento de um navio russo, motivou várias leituras e lançou o debate sobre o estado de operacionalidade dos meios militares. A Associação Nacional de Sargentos (ANS) garantiu que a atitude dos militares, que relataram, por exemplo, que um motor e um gerador elétrico do navio estavam inoperacionais, "foi fruto de muitas situações já vividas a bordo" e a Associação de Praças falou num "grito de alerta" para o "desinvestimento que tem sido feito nas Forças Armadas (FA)". Já a Marinha ordenou uma inspeção ao navio, instaurou processos disciplinares e remeteu à PJ Militar informação sobre o incidente. Os militares incorrem inclusive em penas de prisão, um cenário que poderá agravar "a tempestade" de insatisfação que Lima Coelho, presidente da ANS, diz já se sentir nas FA, onde há "cada vez mais missões e menos meios e gente". No entanto, Gouveia e Melo, Chefe da Armada, ainda antes de ir ao navio falar à tripulação (com a comunicação social a assistir a tudo, o que para o advogado dos militares foi uma "condenação em praça pública"), tornou claro que isto não se vai resolver com um simples raspanete: "No dia em que formos indisciplinados ficamos sem Forças Armadas".

Gouveia e Melo subiu a bordo do NRP Mondego para falar à tripulação cara a cara e criticar o ato de insubordinação de 13 militares.
© HOMEM DE GOUVEIA/LUSA
Quarta-feira, 15 de março
50 mil milhões para não deixar crescer o 'monstro'
Com mais de 160 anos de atividade, o banco Credit Suisse viveu quarta-feira um dos dias mais sombrios da sua história ao perder cerca de 30% do seu valor na bolsa após a recusa do principal investidor, o Banco Nacional Saudita, em injetar mais capital na instituição suíça. A crise no Credit Suisse não é de agora. Se em 2021 registou 1600 milhões de euros em prejuízos, o cenário agravou-se quando, no passado mês, foi anunciado que em 2022 o valor das perdas subira para 7350 milhões, num ano em que os levantamentos de liquidez atingiram 126 mil milhões. O risco na operação do Credit Suisse fez disparar o alarme nos mercados. Sendo este banco um gigante europeu, um dos "too big to fail", a que inúmeras instituições financeiras estão expostas, tornou-se urgente uma resposta rápida e com substância para não deixar crescer o "monstro" da incerteza. Ainda na noite de quarta-feira, o Banco Nacional Suíço garantiu que iria dar liquidez ao Credit Suisse se tal fosse necessário e logo às primeiras horas de quinta-feira, antes da abertura dos mercados, foi anunciado um empréstimo de 50,7 milhões de euros que, pelo menos num primeiro momento, acalmou as praças financeiras. Por terra caíram os apelos ao BCE para diminuir a subida das taxas de juro para 0,25 pontos em vez dos 0,5 previstos (suavizando o agravamento do preço do crédito). Christine Lagarde resistiu aos pedidos e manteve intacto o plano para fazer baixar a inflação.

Crise no Credit Suisse não é de agora: em 2022 o prejuízo foi na ordem dos 7,3 mil milhões de euros. Banco Nacional Suíço teve de intervir para acalmar os mercados financeiros.
© EPA/JUSTIN LANE
Quinta-feira, 16 de março
Apoios às rendas e juros avançam no Mais Habitação
O Conselho de Ministros aprovou na quinta-feira as primeiras medidas do pacote Mais Habitação, que havia sido apresentado há cerca de mês e meio e seguido para discussão pública. Segundo António Costa, a prioridade foi despachar matérias destinadas às famílias e que passam, para já, por apoios ao pagamento de rendas (até 200 euros por mês, em vigor durante cinco anos) e pela bonificação dos juros até 75% para contratos de crédito para compra, construção ou reabilitação de habitação própria celebrados até 15 de março e que não excedam 250 mil euros (o apoio pode chegar a 60 euros mensais e, para já, ficará em vigor até final do ano). Nos dois casos, as medidas terão efeitos retroativos a 1 de janeiro e abrangem famílias até sexto escalão de IRS (rendimento coletáveis até 38 632 euros) e com uma taxa de esforço igual ou superior a 35%. Outros diplomas do pacote Mais Habitação, mais polémicos, ficam em discussão pública até 24 de março, indo a Conselho de Ministros no dia 30 para aprovação. Entre eles estão, por exemplo, as medidas destinadas ao Alojamento Local ou ao arrendamento forçado de casas devolutas.

Governo já aprovou duas das medidas do pacote Mais Habitação. As mais polémicas ficam à espera.
© MIGUEL A. LOPES/LUSA
Sexta-feira, 17 de março
Martínez chama o capitão e sorte sorri ao Benfica
Está desfeita a primeira dúvida: Ronaldo integra a primeira lista de convocados de Roberto Martínez. A questão reside agora no papel que o capitão terá nas opções do selecionador. No Mundial 2022, CR7 lidou mal com a frustração de ser substituído e, depois, perder a titularidade para Gonçalo Ramos. A verdade é que, quatro meses depois, o jovem do Benfica vive um momento de forma que lhe escancara as portas do onze, pelo que, se a opção for entre ele e Ronaldo, e se o fator decisivo for o rendimento, restam poucas dúvidas sobre quem será o escolhido. Como irá lidar Ronaldo com a perda de estatuto? E como irá Martínez gerir os egos? São duas questões em aberto nesta nova fase da Seleção, que inicia o apuramento para o Euro 2024 com um lote de 26 convocados que aposta na continuidade - 23 estiveram no Mundial (saíram André Silva, Horta e William) - e que pode dar a estreia a dois atletas: os centrais Diogo Leite e Gonçalo Inácio. Ontem foi também dia de sorteios. Na Liga dos Campeões, a sorte sorriu ao Benfica: defronta o Inter nos quartos e, se passar, apanha Nápoles ou Milan nas meias-finais, evitando assim até à final o confronto com os poderosos Manchester City, Bayern e Real Madrid. Na Liga Europa, o Sporting terá pela frente a Juventus. E parte com legítimas razões para ser ambicioso, depois do brilhante apuramento frente ao Arsenal.

CR7 nos eleitos da Seleção para arranque do apuramento rumo ao Euro 2024.
© Jewel SAMAD / AFP
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