Académico indo-americano com vasta experiência em gestão, e que já ocupou o cargo de vice-reitor do MIT Sloan School of Management (no Massachusetts, EUA), tendo também chefiado o departamento de Economia, Finanças e Contabilidade do MIT, S. P. Kothari falou ao DN sobre o desafio que é conseguir ter um ensino superior de qualidade acessível a todos. É professor há 25 anos, tem uma vasta experiência em gestão de instituições do ensino superior, ocupou vários cargos ligados a empresas e à educação nos EUA e na Índia. Veio a Lisboa falar sobre o seu livro “Ideias para tornar o ensino superior de qualidade acessível”. Este é um grande desafio…Reconheço que é desafiante, mas queremos destacar quatro pontos. Um é ter um melhor equilíbrio entre o ensino e a investigação, atualmente o ensino não é muito valorizado em muitas instituições superiores pois as suas administrações dão mais atenção à investigação e produtividade do que ao ensino. E eu acho que uma educação de qualidade precisa de um ensino de qualidade também. Outro ponto é o “treino” dos estudantes, que deviam passar entre seis meses a um ano a trabalhar em empresas. O objetivo passa pelo desenvolvimento de ferramentas que eles aprendem. Vão aprender a ser disciplinados e, ao mesmo tempo, as empresas ganham com o que eles aprendem nas escolas. Ambos (universidades e alunos) beneficiavam..Seria um ensino profissional como, aliás, Portugal tem implementado no ensino secundário e no superior?Os dois unem-se, sim. Mas para isso é preciso mudar o modelo de ensino e a forma de trabalhar dos professores. Há projetos que são desenvolvidos nas universidades que beneficiariam as empresas. E também iriam contribuir para a educação dos estudantes que, além de serem um recurso para as empresas, também iriam colocar em prática novas técnicas. Ou seja, ambos beneficiariam. E, além disso, os estudantes seria pagos, o que ajudaria a reduzir os custos com a formação..Além desta ligação defende outras mudanças…Sim. Acho que devemos utilizar mais a educação online. Principalmente em áreas mais especializadas em que há um número reduzido de estudantes interessados e, assim, poderíamos reduzir os custos. A última coisa de que falo, e há muito tempo, está relacionada com o desenvolvimento dos estudantes. [No ensino superior] São jovens de 18 anos, não podemos querer fazer deles homens e mulheres adultos. Esse desenvolvimento é importante. Têm de existir interações sociais, atividades extracurriculares, desportivas que ajudem os estudantes a desenvolverem-se. Tudo isto combinado com aulas de ciências sociais, que os ajudam a crescer como indivíduos e não apenas a receber conhecimento técnico..S. P. Kothari esteve em Lisboa a apresentar as suas ideias para um ensino superior de qualidade..Mas para que isso aconteça é necessário mudar a forma de trabalhar das escolas e universidades… As universidades nos EUA, especialmente se são residenciais [onde os alunos ficam alojados], já fazem isso, e nós queremos que isso aconteça em outros lugares, independentemente de serem residenciais ou não. Queremos que as universidades criem oportunidades para os estudantes interagirem uns com os outros, com os treinadores, de se desenvolverem socialmente ao mesmo tempo que adquirem conhecimentos técnicos..Essa seria uma grande mudança na atual forma como muitas universidades estão organizadas e até na forma de trabalhar de professores, por exemplo.Sei que estamos a falar de novas ideias e que são necessárias algumas mudanças na Europa. É preciso mudar os currículos, a mente das pessoas. Sim, é um trabalho difícil. Mas também acho que é preciso reconhecer que precisamos de uma grande mudança e avançar. Tanto nas escolas públicas como privadas..O próprio financiamento das escolas teria de se adaptar.O Governo subsidia as escolas, mas não queremos que as dirija. O setor privado é mais criativo, está mais disposto a novas ideias e a desistir das que não funcionam. E este tipo de evolução é possível, mas é mais provável que aconteça no setor privado..Mas não está a defender uma ligação demasiado próxima entre universidades, empresas e Governos? As universidades estão ligadas ao mundo que as rodeia. Ou trabalham com as cidades, os responsáveis políticos locais, as empresas ou estão separadas. Mas precisamos de uma ligação próxima entre todos. E, claro, não queremos que sejam os responsáveis políticos locais a dirigir as universidades. Porém queremos que todos trabalhem em conjunto. Cada um com a sua experiência, mas, é óbvio, a direção das escolas deve ser independente..Refere-se muito às universidades e à sua ligação ao mundo que as rodeia, mas esse trabalho, provavelmente tem de começar a ser feito muito antes de os alunos chegarem ao ensino superior.Acho que o problema real começa precisamente antes da entrada na universidade. Precisamos de pensar como podemos melhorar a qualidade da educação. Temos de envolver muito mais os pais na educação dos filhos, pois estes passam muito tempo em casa e vão ser influenciados pelo que acontece em casa. Queremos essa relação próxima com os pais e que estes se interessem pelo que se passa na escola. Mas, para isso, os pais têm de respeitar o que dizem os professores e estes têm de respeitar o que dizem os pais, que têm de se envolver na educação.