"Não chego aqui para preencher uma quota, mas para representar com autenticidade uma maioria de colegas que são mulheres, cuidadoras, trabalhadoras, e profissionais altamente qualificadas", disse.
"Não chego aqui para preencher uma quota, mas para representar com autenticidade uma maioria de colegas que são mulheres, cuidadoras, trabalhadoras, e profissionais altamente qualificadas", disse.Foto: DR

Regina Soares é a primeira mulher na presidência do Sindicato dos Funcionários Judiciais

Regina de Almeida Soares é funcionária judicial há 30 anos e assume o lugar de António Marçal.
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Pela primeira vez na história, o Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ) é liderado por uma mulher. Regina de Almeida Soares, funcionária judicial há 30 anos, acaba de assumir a presidência da entidade sindical, que comemora 50 anos de atividade.

"Não quero deixar de dizer, com orgulho tranquilo e consciência histórica, que sou mulher, cidadã, mãe e oficial de justiça. E que, 51 anos depois do 25 de Abril, uma mulher chega, pela primeira vez, à presidência do nosso Sindicato. Esta não é apenas uma conquista individual, é a expressão viva das transformações sociais e democráticas que construímos juntos, e das quais o movimento sindical é um pilar fundamental", disse no discurso de posse, em cerimónia realizada na sexta-feira, 25 de julho.

Segundo a nova presidente, não se trata do preenchimento de uma quota, mas sim, de representatividade. "Não chego aqui para preencher uma quota, mas para representar com autenticidade uma maioria de colegas que são mulheres, cuidadoras, trabalhadoras, e profissionais altamente qualificadas. A minha eleição é, também, um sinal de que há outros estilos de liderança possíveis", ressaltou.

Ao antigo presidente, António Marçal, dedicou palavras de reconhecimento e agradecimento. "A sua entrega ao movimento sindical, durante exigente período, fica registada na história deste Sindicato. Ao encerrar este ciclo, desejo-lhe saúde, serenidade, e que encontre, na sua consciência e no seu percurso, o merecido sentimento de dever cumprido", afirmou.

Dificuldades e saúde mental

Regina Soares disse que "sabe de onde vem", por isso, quer trabalhar por toda a classe e combater os problemas. "Assumo, por isso, este lugar com a força de quem sabe de onde vem e com a serenidade de quem não esquece para quem está aqui: para os que todos os dias fazem justiça nos bastidores, com abnegação, competência e, tantas vezes, sofrimento ético. E é precisamente sobre esse sofrimento que não posso deixar de falar, o sofrimento ético dos oficiais de justiça em Portugal tem múltiplas origens, muitas delas invisíveis, silenciosas, acumuladas no tempo", sublinhou.

A funcionária judicial citou "a sobrecarga real de trabalho, a pressão diária para cumprir prazos irrealistas, a escassez crónica de meios, e a dolorosa consciência de que, por vezes, o próprio sistema acaba por produzir mais injustiça do que justiça, tudo isso gera conflito moral, angústia profunda e esgotamento".

Na visão da profissional, a falta de tempo ou condições prejudica o trabalho dos funcionários, além da própria natureza complexa desta função. "Há colegas que carregam o peso de executar decisões judiciais que colidem com os seus valores pessoais. Que se veem forçados a trabalhar com menos rigor do que gostariam, por falta de tempo ou de condições. Que lidam com muita violência, maus-tratos a menores, com falências dramáticas, com o medo real da retaliação, com o desespero dos outros e, tantas vezes, com a sua própria ansiedade", sublinhou.

A nova presidente defende mais atenção com a saúde mental destas trabalhadoras e trabalhadores. "É urgente agir. Com políticas sérias de saúde mental. Com formação ética, emocional e relacional. Com equipas dimensionadas de forma justa e equilibrada. Com cargas de trabalho humanamente possíveis. Com espaços seguros de escuta, acompanhamento e apoio. Cuidar de quem cuida da justiça já não é apenas uma opção sindical. É um imperativo institucional. É um dever moral do Estado", avançou.

Entre as metas de mandato traçadas pela presidente, estão "trazer o sindicato ao centro da luta por justiça" e que os profissionais não sejam tratados como "pessoal de segunda ou terceira linha" na definição das políticas públicas e no reconhecimento institucional. Regina Soares também assume o sindicato na altura em que são preparadas as comemorações dos 50 anos. No discurso, a nova líder anunciou que Silvino Martins, "que acompanhou este Sindicato desde o seu nascimento", coordenará a Comissão Comemorativa dos 50 anos do SFJ. 

amanda.lima@dn.pt

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