Para André Fernandes, ex-comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) não há dúvidas: “Temos de nos adaptar mais rapidamente a fenómenos climáticos extremos.” Até porque, diz ao DN, “tem-se verificado, nos últimos anos, um aumento dos danos e da severidade” destes eventos provocados “por uma alteração climática que anda mais rápido” do que o ritmo de preparação. Esse fator é “algo que se deveria ter em conta. Muito mais do que discutir se se está bem ou mal preparado”, até porque “todos fazem parte do sistema de proteção civil”.Mais do que discutir a preparação das infraestruturas nacionais, André Fernandes destaca as lições que se retiram após as cheias de 2022. “Na região da Grande Lisboa, houve investimento em bombas de alta capacidade. Quase todos os municípios desta zona adquiriram equipamento. Tem havido um maior investimento, se calhar mais assertivo na fase da resposta do que na fase de prevenção”, diz André Fernandes ao DN. Olhando para o caso de Lisboa - que tem um túnel de drenagem a ser construído - e para o “bom exemplo” que é a gestão de cheias em Águeda, o antigo responsável da ANEPC (entre dezembro de 2020 e março deste ano) diz que “o que está feito, está a ser bem feito. Deve é fazer-se mais”.Perante estas situações climáticas extremas e cada vez mais frequentes, António Nunes, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP) deixa o apelo a uma “maior consciencialização” para o tópico do ordenamento do território. Segundo diz ao DN, “nestas situações de chuvadas intensas e também ciclones, [a redução dos impactos] tem muito a ver com a forma como impermeabilizamos os solos, como construímos e como organizamos os nossos sistemas de drenagem”. “Isso está a montante da ocorrência”, considera o responsável, que defende que “as cidades precisam de se preparar para fenómenos extremos de outra forma”. E coloca o ónus no trabalho da Proteção Civil: “Em termos gerais, devia estar mais vocacionada para a informação pública, para preparar as populações e conseguir adquirir um conjunto de iniciativas que levassem a que, face a estes fenómenos extremos que se vão agravar, fôssemos capazes de resolver rapidamente as situações. Isso é uma questão de política pública, de proteção civil, que eventualmente merece ser melhorada e refletida de forma diferente.”André Fernandes concorda, dizendo que “a aposta da sensibilização junto da população” ainda não está aperfeiçoada, sobretudo quando comparada com a comunicação que é feita durante o período de incêndios, com o programa Aldeia Segura, Pessoa Segura. Mas haverá espaço para ser criado um dispositivo especial para as cheias, como acontece no caso dos incêndios? André Fernandes deixa a porta entreaberta: “Acho que temos de olhar de forma holística para os outros riscos, além dos fogos, e se calhar também vale a pena criar um programa para as cheias, para criar resiliência.”Questionada sobre este assunto, a ANEPC referiu que “muito embora existam valências e capacidades especializadas nos diversos agentes de Proteção Civil”, ainda “não se revelou necessário criar constituir um dispositivo especial para este tipo de ocorrências”, cuja “resposta operacional” é dada “pelo Dispositivo Integrado de Operações de Proteção e Socorro”.No primeiro de dois dias sob os efeitos da depressão Cláudia, que colocou vários distritos em alerta laranja devido à precipitação e ao vento forte, foram registadas ocorrências um pouco por todo o país. Segundo dados avançados ao DN por fonte oficial da ANEPC, até às 16h00 desta quarta-feira, 12 de novembro, (ou seja, antes do agravamento previsto para as horas seguintes), foram registadas 202 ocorrências em todo o país, sobretudo quedas de árvores (84). Estratégia de adaptação está em consulta públicaApresentada no passado dia 29 de outubro, a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas 2030 (ENAAC 2030) inclui medidas para mitigar o efeito das cheias provocadas por estas tempestades.Disponível em consulta pública até ao final deste mês (30 de novembro), a ENAAC2030 tem como ponto nevráglico o reforço da gestão dos riscos, que deve ser a base das políticas de adaptação, segundo o documento do Governo. O objetivo é que todos os setores da sociedade estejam adaptados aos efeitos provocados pelas alterações climáticas. Por isso, há também um reforço de verbas e a prevenção de cheias não é exceção.Segundo o documento, é intenção do Governo dotar a Agência Portuguesa do Ambiente (que faz a gestão das cheias) com 12,3 milhões de euros para modernizar o sistema de prevenção, que emite também alertas. A prevenção de cheias é, aliás, um dos principais eixos da estratégia.Aquando da apresentação da ENAAC2030, a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, acrescentou que existem obras para prevenir cheias em locais como Lisboa, Algés, Oeiras e Faro. Estas empreitadas foram incluídas na renegociação do Programa Operacional Sustentável e totalizam um investimento na casa dos 60 milhões de euros..Mau tempo. Da queda de árvores à destruição do telhado de Santa Apolónia, há mais de 220 ocorrências .Vem aí mau tempo. Proteção Civil alerta para possibilidade de cheias nos próximos dias