Prémios, protestos, castigos e o desejo por Passos

Numa semana que arrancou com manifestações contra o aumento do custo de vida e em que quase todos os dias Passos Coelho recolheu um elogio social-democrata, foram premiadas a persistência de Benzema e do povo ucraniano e castigadas a indisciplina e desorientação de Ronaldo e Liz Truss.

Sábado, 15 de outubro

Aumenta o custo de vida; aumenta a contestação na rua

O PCP já tinha avisado há muito que, com a maioria absoluta do PS, a rua assumiria uma nova centralidade na forma de fazer oposição ao Governo. E a CGTP, para mais tendo em conta que, ao contrário da UGT, ficou fora do acordo de concertação social, tem via aberta para liderar os protestos, cavalgando, principalmente, uma realidade que todos os cidadãos, uns mais que outros, percebem seu dia a dia: o forte aumento do custo de vida, sem uma subida de rendimentos que seja suficiente para lhe responder. Sábado, só em Lisboa, e segundo a organização, terão saído à rua cerca de 10 mil pessoas num protesto que mobilizou sindicatos de vários setores e que terminou com a Frente Comum a convocar uma greve da Administração Pública para 18 de novembro. "É uma luta que vai continuar e intensificar-se nos locais de trabalho, nas empresas e serviços, no setor privado e público", garantiu Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP. Com o preço dos combustíveis de novo a disparar, o inverno à porta e energia mais cara, com a inflação a não dar sinais de recuo significativo para aliviar o custo do cabaz básico, com as taxas de juros a agravarem a despesa com a habitação e com a guerra na Ucrânia a intensificar-se é cada vez mais claro que, nos próximos meses, não vão faltar razões para mobilizar e aumentar o volume dos protestos.

Domingo, 16 de outubro

Taiwan. China não exclui "uso da força"

A reunificação com Taiwan foi o assunto em destaque no arranque do 20.º congresso do Partido Comunista Chinês. No discurso de abertura, perante os 2300 delegados presentes no Grande Palácio do Povo, em Pequim, o líder chinês, Xi Jinping, defendeu uma reunificação pacífica com Taiwan, mas quis marcar uma posição de força: "Não renunciaremos nunca ao uso da força e reservamos a possibilidade de adotar todas as medidas necessárias". O reforço da capacidade militar chinesa, cujo orçamento para a Defesa só fica abaixo do norte-americano, foi mesmo apontado como uma prioridade por Xi, que, aos 69 anos, se prepara para um inédito terceiro mandato de cinco anos como secretário-geral do partido: "Vamos trabalhar mais rápido para modernizar a teoria militar, pessoal e armamento. Vamos melhorar as capacidades estratégicas dos militares". O recado aos Estados Unidos, principal aliado militar e financeiro de Taiwan, foi dado, apenas um mês depois de Joe Biden, em entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS, ter respondido "sim" à pergunta sobre se as tropas norte-americanas iriam defender Taiwan em caso de ataque militar chinês.

Segunda-feira, 17 de outubro

Karim Benzema atinge o topo aos 34 anos

Justíssima a eleição de Benzema pela revista France Football como o melhor jogador do Mundo. O avançado francês teve uma época de sonho ao serviço do Real Madrid e era claramente o favorito à conquista da Bola de Ouro, que pela primeira vez premiou o desempenho relativo a uma época desportiva (no caso 2021/22) e não num ano civil. Os números de Benzema foram impressionantes: 49 golos (em que se incluem os apontados ao serviço da Seleção), melhor marcador da Liga espanhola e da Liga dos Campeões, cinco troféus conquistados (Liga dos Campeões, Liga espanhola e Liga das Nações, pela França, a que se seguiram as Supertaças Europeia e espanhol). Feitos ainda mais impressionantes, tendo em conta que Benzema já tem 34 anos. No que a jogadores portugueses diz respeito, esta edição da Bola de Ouro fica marcada por, pela primeira vez desde 2006, o melhor jogador nacional não ser Cristiano Ronaldo. Desta feita, CR7 ficou em 20.º lugar e viu Rafael Leão (avançado do AC Milan, eleito o melhor jogador do ano em Itália) ficar à sua frente, em 14.º.

Terça-feira, 18 de outubro

Passos desejado e com tempo para estudar tudo

"Sendo tão novo, o país pode esperar, deve esperar muito ainda do seu contributo no futuro" - Marcelo Rebelo de Sousa, 15 de outubro. "Contribuiu muito para o país e pode continuar a contribuir em tudo aquilo que ele achar que deve. É uma pessoa extraordinária" - Carlos Moedas, 17 de outubro. "Quando um país tem um pessoa com esta experiência, com esta qualificação, tem alguém que pode cumprir muitas tarefas" - Luís Montenegro, 18 de outubro. No curto espaço de quatro dias, um antigo líder do PSD e atual Presidente da República no último mandato; um potencial futuro líder do partido que hoje está à frente da principal câmara do país e o atual presidente dos sociais-democratas voltaram a colocar o nome de Passos Coelho na agenda política, da qual se tem mantido afastado nos últimos anos para se dedicar à vida académica. Se no PS já restam poucas ou nenhumas dúvidas que Augusto Santos Silva será o candidato a Belém em 2026, no PSD o lobby por Passos parece ganhar força. Marques Mendes, outro potencial candidato da área social-democrata, pode ter hoje o palco mediático que o comentário político lhe confere, mas esta rajada de elogios a Passos, ao mais alto nível do partido, colocam-no claramente como segunda escolha, atrás do antigo PM. Resta saber, o que quererá Passos fazer. Para já tem muito tempo pela frente para refletir, sem o desgaste da atividade política diária. E isso não só é um luxo, como uma vantagem sobre os demais.

Quarta-feira, 19 de outubro

Prémio Sakharov para "bravo povo ucraniano"

No dia em que Vladimir Putin decretou a entrada em vigor da Lei Marcial nos quatro territórios que ocupou na Ucrânia, que lhe permite, por exemplo, deportar moradores dessas regiões, o Parlamento Europeu (PE) atribuiu "ao bravo povo ucraniano" o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento (criado em 1988 para distinguir pessoas e organização defensoras dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais). "O prémio é para os ucranianos que lutam no terreno. Para aqueles que foram forçados a fugir. Para aqueles que perderam familiares e amigos. Para todos aqueles que se erguem e lutam por aquilo em que acreditam. Sei que o corajoso povo da Ucrânia não vai desistir e nós também não", garantiu a maltesa Roberta Metsola, presidente do PE. "Os ucranianos têm demonstrado diariamente no campo de batalha a sua dedicação aos valores da liberdade e democracia contra o Estado terrorista da Federação da Rússia. Neste caminho, o apoio dos países da União Europeia é muito importante para a Ucrânia", reagiu Volodymyr Zelensky através de uma mensagem no twitter.

Quinta-feira, 20 de outubro

44 dias intensos e fatais para Liz Truss

Liz Truss pode ter sido primeira-ministra britânica por apenas 44 dias. Mas que se tratou de uma experiência intensa, isso é inegável. Neste curto espaço de tempo, a sucessora de Boris Johnson na liderança do Partido Conservador (e, por inerência, como chefe do Governo) viu morrer a rainha Isabel II, viu ser desencadeada uma grave crise nos mercados financeiros em reação à proposta de miniorçamento que previa várias reduções de impostos financiadas por dívida pública (o receio era que esta disparasse para níveis incomportáveis), assistiu a uma desvalorização galopante da libra, foi obrigada a mexer no executivo e a recuar em todas as propostas, pedindo desculpa pelos erros, viu a popularidade do Partido Trabalhista disparar nas sondagens e até assistiu à descida da seleção inglesa de futebol à Liga B na Liga das Nações... Tudo junto, foi demais. Truss acabou por demitir-se (discursando, de braços caídos, à porta do número 10 de Downing Street), protagonizando o mandato mais curto de um primeiro-ministro do Reino Unido. Está aberta nova crise política, sendo o mais provável que caiam em saco roto os apelos de trabalhistas, liberais-democratas e governo da Escócia para que se realizem eleições gerais que permitissem ao povo validar, com o seu voto, o novo chefe do governo, impedindo assim que essa decisão fique refém da elite de um Partido Conservador cada vez mais confuso, dividido e contestado na sociedade britânica.

Sexta-feira, 21 de Outubro

O mau exemplo do capitão Ronaldo

Aos 37 anos, Ronaldo vive a fase mais complicada da sua longa carreira. O internacional português foi castigado pelo Manchester United, depois de, quarta-feira, ter abandonado o relvado antes do final da partida com o Tottenham. O treinador holandês dos red devils, Erik ten Hag, revelou ontem que o avançado recusou entrar em campo já numa fase adiantada desse jogo e que, como uma das suas missões é "estabelecer padrões e valores" no clube, "tinha de haver consequências". A decisão passou por o afastar do próximo jogo (com o Chelsea) e dos treinos com a equipa principal. A indisciplina de Ronaldo é um sinal de fraqueza e de ocaso na carreira? Ou mostra que mantém intacto o espírito competitivo que, como se sabe, foi e é essencial para uma performance acima da média? O Mundial 2022, em que dificilmente deixará de ser titular por Portugal, pode trazer mais respostas sobre o desempenho desportivo de CR7. Mas a experiência que tem e, para mais, sendo capitão de seleção deveriam ser suficientes para Ronaldo não ceder "ao calor do momento" e manter sempre uma atitude profissional que sirva de exemplo aos jogadores mais novos.

pedro.sequeira@dn.pt

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