CGTP exige aumentos de 10% em protesto e com turistas à mistura
Central sindical promete mais contestação, como a greve geral decretada pela Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública para 18 de novembro, e acusa o Governo de não ter medidas certas.
Os turistas foram surpreendidos este sábado na Baixa de Lisboa pelos milhares que se associaram à manifestação da CGTP, do Cais do Sodré para o Rossio, e pelos gritos de dezenas de palavras de ordem contra o aumento do custo de vida. A secretária-geral da central sindical, Isabel Camarinha, que encabeçou a manifestação, foi a porta-voz do apelo à "emergência nacional" de um aumento de salários e de pensões. E com a promessa de novas lutas, como a greve geral anunciada ontem pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública para 18 de novembro.
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"O custo de vida aumenta, o povo não aguenta/ para os patrões são milhares, para os salários nem tostões/não podemos aceitar empobrecer a trabalhar" - gritaram as speakers sindicalistas em desfile lento do Cais de Sodré, Rua do Alfaiate, Rua do Ouro até ao Rossio. O Batucando, grupo de percussão do Montijo foi abrindo caminho. Mas se poucos portugueses estavam nas ruas para ouvir o apelo da CGTP, a avaliar pelas filmagens dos turistas deve ter tido muito impacto nas redes sociais em vários países.
No palco montado no Rossio, junto ao Teatro D. Maria II, Isabel Camarinha insurgia-se contra "o brutal aumento do custo de vida, que anda de braço dado com a especulação e os colossais lucros do grande capital", o que disse, "é o resultado de uma opção do Governo e da política de direita.
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A secretária-geral da CGTP colocou a mira no Orçamento de Estado para 2023 e exigiu "já o aumento intercalar dos salários e a atualização imediata do salário mínimo nacional". A reivindicação é a de um aumento intercalar ainda este ano e para o próximo de 10%, com um mínimo de 100 euros e a subida do SMN ainda em 2022 para 800 euros e em 2023 para os 850 euros. "Porque os 760 que o governo quer significam 677 líquidos, e é hora de acabar com os salários de miséria".

Manifestação da CGTP, encabeçada por Isabel Camarinha, em Lisboa
© TIAGO PETINGA/LUSA
"Para os que dizem que é muito, que vem aí uma espiral inflacionista, afirmamos que a dita espiral já cá está, que é insuportável, que começam a faltar bens e serviços essenciais (...) não falamos de luxo , falamos do básico que permita viver com dignidade, que permita a realização pessoal de cada um, dos seus filhos e família", afirmou.
A sindicalista assinalou ainda a "aldrabice" do corte das pensões e pediu também um aumento para os reformados e pensionistas, embora não o tenha quantificado.
E porque a CGTP não assinou o Acordo de Concertação Social, a líder da CGTP justificou: "Ao acordo faltam as medidas que verdadeiramente abram as portas ao aumento dos salários, faltam as medidas que revoguem as normas gravosas da legislação laboral".

© EPA/TIAGO PETINGA
Jerónimo ausente
Os apelos e reivindicações de Camarinha foram ouvidos, de forma muito discreta, pelo antecessor, Arménio Carlos, que se manteve fora da manifestação. Mas a acompanhar estiveram também o antigo deputado comunista António Filipe e o dirigente do PCP Francisco Lopes.
O líder comunista, Jerónimo de Sousa, que comparece a todas as manifestações da central sindical afeta ao PCP, não pôde estar presente porque "teve um problema pontual de saúde, sem gravidade".
A acompanhar a manifestação, a deputada bloquista Mariana Mortágua fez votos de que "mobilizações como esta se multipliquem".
Mortágua criticou a ideia propagada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, de que as pessoas "têm de empobrecer" e que "isso é uma inevitabilidade" para superar a crise socioeconómica decorrente do aumento da inflação.
E fez um paralelismo com o Governo do social-democrata Pedro Passos Coelho: "Era uma mentira na altura da troika e continua a sê-lo hoje." A dirigente do BE acrescentou que as "pessoas têm direito a um salário digno", sem perderem "poder de compra a cada dia que passa".
Essa era precisamente a mensagem que a CGTP tinha preparado numa carrinha estacionada mesmo em frente à estação do Cais do Sodré. Quatro bidões, a simular os de petróleo, e com lucros estimados, um para o Santander de 241 mil milhões de euros; outro para a Galp de 420 mil milhões; outro para a EDP, de 306 mil milhões; e por fim, um para o Pingo Doce, do grupo Jerónimo Martins, de 261 mil milhões.
paulasa@dn.pt