O cenário é relativamente desanimador quando se olha para os dados de Portugal, comparando com os dos restantes países da OCDE. O mais recente relatório revela que apesar de Portugal ter um melhor desempenho que a média em cinco dos 10 indicadores que medem o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, continua a haver sinais de alarme.Por exemplo, 12,1% dos portugueses reporta ter uma saúde má ou muito má – contra uma média de 8% na OCDE –, enquanto o consumo de álcool per capita se fixa nos 11,9 litros, muito acima dos 8,5 litros da média da OCDE. No mesmo sentido, 56% dos adultos (pessoas acima dos 15 anos) admite não fazer qualquer exercício físico, um número que compara com a média de 30% dos seus pares.A mortalidade evitável em 2024 foi de 117 por cada 100 000 habitantes em Portugal (inferior à média da OCDE de 145); com a mortalidade tratável a fixar-se nos 63 por 100 000 habitantes (inferior à média da OCDE de 77).Onde Portugal tem apresentado um melhor desempenho é na esperança média de vida (82,5 anos, 1,4 anos acima da média, mas abaixo dos 84 anos dos países com melhor performance) e também nas taxas de suicídio. Segundo os números libertados esta quinta-feira, 13 de novembro, a taxa de suicídio era de 8 para 100 000 pessoas em Portugal, abaixo das 11 mortes por 100 000 pessoas em que se situa a média dos restantes países do grupo.“A Coreia, o Japão e Portugal destacam-se como países com elevada esperança de vida, mas com uma auto-avaliação da saúde relativamente baixa”, lê-se no documento.Pouca prevenção e enfermeirosNota ainda para o facto de Portugal ser dos países que menos investe na prevenção da doença: assim como acontece na maioria dos países avaliados, a despesa com cuidados de prevenção, ou seja, serviços e intervenções de saúde pública, seja em ambulatório ou outros serviços, regressou em 2023 aos valores pré-pandémicos, pesando apenas 2% no total das despesas correntes com Saúde, mostra o mesmo relatório. A média da OCDE fixa-se nos 3,4%, mas os melhores exemplos (Canadá e Reino Unido) gastam entre 6% a 7% da despesa total na prevenção de doenças. Em termos globais, Portugal gasta 5 212 dólares per capita em saúde, menos do que a média da OCDE, que é de 5 967 dólares. Um valor equivalente a 10,2% do PIB, em comparação com a média de 9,3% na OCDE.Estes números surgem poucos dias depois de a Ministra da Saúde ter estado no Parlamento a explicar como pretende organizar uma redução de 10% no Orçamento da Saúde, precisamente, para o próximo ano. .Redução de despesa na Saúde passará por compras centralizadas e novas regras para transporte de doentes e uso de medicamentos .Quanto ao número de médicos, Portugal apresenta um rácio de 5,8 médicos por 1000 pessoas (acima da média de 3,9 da OCDE), embora tenha apenas cerca de metade destes profissionais afetos ao SNS, como o DN revelou recentemente. Já em termos de enfermeiros, Portugal tem regista um número de 7,6 por cada 1000 doentes, abaixo da média de 9,2 da OCDE.Já em relação à prevalência diária do tabagismo em Portugal (14,2%), está bastante alinhada com a da média da OCDE, de 14,8%. A prevalência de obesidade auto-relatada, por seu lado, foi de 16% em Portugal, inferior à média da OCDE de 19%. Este valor é, no entanto, contrariado pelos números do Global Burden of Disaese, também divulgados recentemente pelo Diário de Notícias: em Portugal, a obesidade afeta 28,7% dos adultos e mais de metade da população apresenta excesso de peso (67,6%). .Só metade dos médicos obstetras e pediatras inscritos na Ordem trabalham no SNS.Obesidade atinge quase 30% dos adultos em Portugal. Associações querem acabar com o medo de pedir ajuda