Perigo à espreita no Brasil e sal na ferida em Portugal
Invasão das sedes dos três poderes no Brasil causou sobressalto internacional. Em Portugal, o Governo aprovou o inquérito com que quer escrutinar quem é convidado para o Executivo, após uma sucessão de casos que minam a confiança dos portugueses na classe política. No futebol, Sérgio Conceição bateu recorde histórico e a Federação apresentou o sucessor de Fernando Santos.
Sábado, 7 de janeiro
Solos impermeáveis são amigos do desastre
A chuva torrencial que atingiu o Porto provocou estragos na zona baixa da cidade. As imagens captadas na Rua Mouzinho da Silveira, que liga a Estação de São Bento à Ribeira, mostravam um verdadeiro rio de lama que levava tudo à frente - incluindo os montes de areia e gravilha que resultam das obras no metro. O geógrafo Rio Fernandes considerou que esses materiais podem ter entupido as sarjetas e afetado, assim, o que seria o normal escoamento das águas. O ministro da Administração Interna pediu à proteção civil uma avaliação a nível nacional, destacando um problema que tem sido praticamente consensual nas análises feitas por especialistas: a "impermeabilização dos solos, fruto da construção" que, ao longo dos anos, tem vindo a ocupar espaços verdes com capacidade para absorver água. Em Lisboa, cidade que ainda tem bem presente na memória as cheias de dezembro, Carlos Moedas avançou com a ideia de rever o Plano Diretor Municipal para que não se continue a impermeabilizar partes da capital sob autorização legal, com as consequências nefastas daí resultantes.

Enxurrada na Baixa da cidade do Porto causou estragos. A força da corrente foi tal que arrancou paralelepípedos do chão.
© PEDRO GRANADEIRO/GLOBAL IMAGENS
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Domingo, 8 de janeiro
Invasão dos três poderes. Perigo à espreita no Brasil
Inspirados pelo ataque ao Capitólio norte-americano em 2021, milhares de apoiantes de Jair Bolsonaro, incapazes de aceitar o resultado eleitoral que deu a vitória a Lula da Silva em outubro, invadiram as três sedes dos poderes (executivo, legislativo e judicial) no Brasil, aproveitando a permissividade da polícia do Estado Federal de Brasília para lançar o ataque, destruir equipamentos, gabinetes e obras de arte ou roubar armas. Na prática, nada mais conseguiram do que gerar umas horas de caos na capital brasileira e, com isso, reforçar o apoio internacional ao governo de Lula, com o "ataque à democracia brasileira" a ser condenado nos quatro cantos do mundo. Mas de que vale o respaldo a Lula de parceiros estratégicos vitais, como a UE ou os Estados Unidos, ou de entidades como a ONU se milhões de brasileiros continuam a encarar o atual presidente como um "ex-presidiário" que devia estar impedido por lei de se candidatar ao cargo? De que vale deter milhares de manifestantes após os atos de vandalismo se muitos deles encaram a ordem de prisão como uma medalha no peito em defesa da causa bolsonarista e persistem no plano de desestabilizar a governação? Tudo isto seria apenas um episódio triste e lamentável não fosse, ao mesmo tempo, extremamente perigoso que uma turba de radicais permaneça pronta a ser mobilizada nas redes sociais para servir os interesses obscuros de quem recusa aceitar democraticamente um resultado eleitoral. O Brasil merece melhor.

Invasão das sedes dos três poderes, em Brasília, teve lugar num domingo, quando não estava ninguém nos edifícios. Passividade das forças de segurança foi alvo de várias críticas.
© EPA/ANDRÉ BORGES
Segunda-feira, 9 de janeiro
Martínez chega à seleção e não fecha porta a CR7
É espanhol, tem 49 anos, experiência à frente de equipas na melhor liga do mundo (a inglesa) e em seleções (Bélgica), conhecido por privilegiar um futebol mais ofensivo e sem ser rígido no sistema tático. Roberto Martínez foi apresentado como selecionador de Portugal, marcando uma nova era depois de oito anos com Fernando Santos ao leme. O treinador, que conduziu o modesto Wigan a uma surpreendente vitória na Taça de Inglaterra em 2012/2013 (único título que tem no currículo), chegou já com uma "batata quente" nas mãos: o que fazer em relação a Ronaldo? A passagem de CR7 à condição de suplente no Mundial de 2022 e a forma como reagiu (mal) à decisão, juntamente com a idade do avançado (37 anos) e a transferência milionária para o pouco competitivo eldorado do futebol saudita, lançaram justificadas dúvidas sobre a continuidade do capitão na equipa das quinas. No primeiro teste perante a comunicação social, Martínez reagiu bem à pressão. Bastou-lhe dizer o óbvio: "Não tomo decisões por despacho. Quero conhecer todos os jogadores, falar com os 26 que estiveram no último Mundial. Esse será o meu ponto de partida. Portanto, o Cristiano será um deles."

O espanhol Roberto Martínez é o novo selecionador nacional de futebol. Sucede a Fernando Santos, que esteve no cargo de 2014 a 2022. O apuramento para o Euro 2024 é primeira meta.
© PEDRO ROCHA/GLOBAL IMAGENS
Terça-feira, 10 de janeiro
Novo ano judicial arranca com recados e greve
Na cerimónia de abertura do ano judicial, o Presidente da República mostrou-se preocupado com o desfasamento entre os ritmos, meios humanos e formas de comunicar atuais da justiça e os "novíssimos desafios de uma comunidade mais aberta e internacionalizada" e também, fruto da crise, "menos coesa e mais assimétrica". Marcelo apelou a "consensos vastos de regime" para responder ao desafio judicial e disse ser preciso tornar "mais flexível e ajustado todo o sistema", para evitar "chocantes desigualdades" e "ir aproximando o seu tempo do tempo social". O dia ficou também marcado pelo arranque de uma greve por tempo indeterminado dos oficiais de justiça, que, segundo o sindicato que convocou o protesto (o SOJ), teve uma adesão na ordem dos 85%, parando tribunais e serviços. Uma das queixas diz respeito à "dramática falta de funcionários", situação que foi reconhecida pela própria ministra da Justiça. Na abertura do ano judicial, Catarina Sarmento e Castro anunciou o recrutamento de mais 200 oficiais de justiça. Carlos Almeida, presidente do SOJ, reagiu dizendo que 200 é "um número baixíssimo, que não cobre sequer o de pessoas que se aposentam este ano", acrescentando que o défice real de trabalhadores é superior a dois mil.

Presidente e ministra da Justiça discursaram na abertura do ano judicial.
© GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS
Quarta-feira, 11 de janeiro
216 vitórias. Conceição bate marca de Pedroto
O FC Porto-Arouca, dos oitavos-de-final da Taça de Portugal, pode não ter tido o élan de uma partida da Champions, de um clássico ou de uma final que valia troféu, mas os 16.913 espectadores que assistiram ao jogo no Dragão, numa fria noite de janeiro, presenciaram um momento que entrou na história do futebol português e do FC Porto em particular. Naquele que foi o jogo 300 no comando técnico dos dragões, Sérgio Conceição alcançou o seu 216.º triunfo e tornou-se o treinador mais vitorioso da história do clube portista. Para mais, o 4-0 frente ao Arouca ficou marcado por uma mexida técnica de Conceição plena de eficácia, pois lançou o avançado espanhol Toni Martínez nos primeiros minutos da segunda parte e este correspondeu com três golos. Conceição ultrapassou, assim, as 215 vitórias do falecido José Maria Pedroto, treinador que marcou o arranque da era de sucesso do clube sob a presidência de Pinto da Costa. Pedroto, ícone da história portista, é ainda o treinador com mais jogos pelo clube, 322, sendo que o FC Porto ainda tem, pelo menos, 23 partidas para disputar até final da época. É, portanto, mais um recorde que está ao alcance de Conceição.

Sérgio Conceição está no FC Porto desde 2017/18. Soma 3 Ligas, 2 Taças de Portugal e 3 Supertaças.
© JOSÉ COELHO/LUSA
Quinta-feira, 12 de janeiro
"Problemas na vida interna"? Ou mais sal na ferida?
Preenchimento de um questionário com 36 perguntas e assinatura de uma declaração de compromisso de honra por parte das personalidades convidadas pelo primeiro-ministro para integrarem o governo. São estas as "ferramentas de avaliação política" anunciadas quinta-feira pelo Executivo, previamente "escrutinadas" por Marcelo Rebelo de Sousa, para "robustecer o processo de verificação das condições e exigências inerentes ao exercício de funções" dos governantes. Em casa roubada, trancas à porta... nem que seja com uma solução amanhada em contrarrelógio, cuja eficácia ainda está por comprovar. Na véspera, no Parlamento, António Costa disse lamentar "profundamente" os "problemas na vida interna" do governo e acrescentou ter consciência de que os "portugueses não gostam e censuram", pelo que o Executivo "deve tomar a lição". No entanto, acrescentou que nada disto "se traduziu num problema para qualquer portuguesa ou para qualquer português". O corrupio de entradas e saídas do governo a que se assistiu nos últimos meses - com polémicas que vão desde processos judiciais a avultadas indemnizações financiadas com dinheiro dos contribuintes ou atropelos a leis criadas para impedir a saída direta de governantes para as áreas que estiveram sob sua tutela - tem, pelo menos, uma dupla consequência: mina a já frágil confiança que os portugueses têm na classe política e abre caminho ao crescimento do populismo que ameaça democracias mundo fora. Ora, esses são problemas sérios para todos os portugueses. E o primeiro-ministro devia ser o primeiro a lembrar-se disso.

Primeiro-ministro admitiu que os portugueses "censuram o Governo" pelo corrupio de entradas e saídas.
© Miguel A. Lopes/Lusa
Sexta-feira, 13 de janeiro
Lisboa busca distinção para Baixa Pombalina
A Câmara Municipal de Lisboa avançou com a candidatura da Baixa Pombalina a Património Mundial da Humanidade. Os bens patrimoniais que ali nasceram após o trágico terramoto de 1755 são, nas palavras do autarca Carlos Moedas, "dotados de um valor universal excecional e merecem ser distinguidos e protegidos" numa cidade "histórica e inovadora, tradicional e cosmopolita, com uma identidade singular, mas sempre aberta ao mundo". A câmara identifica futuras oportunidades que a candidatura oferece, principalmente ao nível da reabilitação do edificado e na sua proteção e conservação. Da lista de locais já classificados pela UNESCO em Portugal fazem parte, por exemplo, os centros históricos do Porto, Guimarães, Évora e Angra do Heroísmo. Além da Baixa Pombalina, existem mais cerca de 20 candidaturas nacionais à classificação, tão diferentes como o Aqueduto das Águas Livres ou o Conjunto de Obras Arquitetónicas de Álvaro Siza Vieira.

Baixa Pombalina é fruto da reconstrução que se seguiu ao terramoto de 1755.
© GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS
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