Chuva torrencial e areias das obras do Metro lançaram caos na baixa do Porto
As chuvas torrenciais levaram hoje tudo à frente na baixa do Porto, e não escaparam as montanhas de areias e gravilhas das obras da Metro e os blocos de pedra das estradas para piorar a tormenta da precipitação intensa.
A precipitação intensa que caiu num curto espaço de tempo lavou toda a zona alta da cidade do Porto, mas as águas intensas foram abrindo caminho até à baixa da cidade, desaguando pela Rua Mouzinho da Silveira, que liga a Estação de São Bento à Ribeira do Porto. A Mouzinho ficou alagada em lama, gravilha e areias, grande parte oriundas das obras que decorrem ali perto para o alargamento da rede da Metro do Porto.
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"O paralelo saltou da estrada [Mouzinho da Silveira] e agora os funcionários da Câmara do Porto estão a tentar repor", explicava à Lusa um funcionário da Proteção Civil, de gabardine amarela florescente, com o capuz enfiado na cabeça para se resguardar da chuva ininterrupta.
Ao longo de mais de 10 metros de comprimento da Rua Mouzinho da Silveira a força da água fez saltar da estrada vários blocos de pedra escura, obrigando a rua ficar interditada ao trânsito desde São Bento ao Largo de São Domingos devido às crateras abertas, deixando à vista canos, cabos e tubos vermelhos.
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Na Rua das Flores, uma rua paralela à Mouzinho da Silveira, repleta de lojas e hotéis, as limpezas das lamas eram feitas com a força e dedicação dos homens da Bulício Urbano, empresa dedicada a enfrentar este tipo de intempéries, que com a ajuda de máquinas equipadas de escovas e vassouras de tamanho XXL, lá iam conseguindo reabrir o caminho para os turistas corajosos que insistiam em descobrir a cidade invicta.
Marco Ferreira, dono da loja Porto in a Bottle, na Rua das Flores, agarrou-se a uma vassoura para retirar a lama que lhe entrou pela porta adentro. "Ficou o chão todo inundado e não sei quando poderei voltar a abrir a loja", lançou, com olhar turvo de incertezas.
Outra equipa de homens da Bulício Urbano já tinha feito uma montanha de areia de dois metros de altura junto à estação de metro de São Bento.
A retroescavadora giratória não parava de escavar quilos de areia que deslizaram das obras da Metro do Porto com a força das águas que caíram na cidade.
Subindo pela Rua Passos Manuel, a do Coliseu do Porto, umas lojas estavam fechadas, outras de porta entreaberta. No Vício do Café, o chão de madeira estava alagado em água, mas desta vez o desastre tinha vindo não da rua, mas do telhado roto.
"A água entrou pelo teto. Tive de fechar o café às 11:30 e acho que só vou conseguir reabrir para a semana, mas só se ajeitarem o telhado", desabafou Fábio Pinto.
O proprietário do estabelecimento admitiu que tem "largas centenas de euros de prejuízo" e que já fez queixa aos bombeiros, porque a culpa da inundação resulta da parte de cima do "prédio estar devoluto".
A Rua de Santa Catarina, conhecida pela rua das lojas, porta sim porta não estava fechada ou a porta estava entreaberta, uma com sacos de areia à porta, outras com esfregonas e vassouras a limpar as águas fortuitas.
Uma das lojas mais concorridas, da cadeia espanhola de vestuário Zara, teve mesmo que encerrar portas, pois o primeiro piso ficou inundado, contou um dos funcionários.
Três camiões do lixo de cor azul-marinho, da Câmara do Porto, circulavam, vagarosos, em fila indiana, pela Rua de Santa Catarina. O motorista de um dos carros do lixo explicou à Lusa que andavam a retirar o lixo das lojas e da rua.
Numa cidade onde já se circulava com dificuldades devido aos milhares de turistas nas ruas, e devido às complexas obras da Metro do Porto, que condicionam inúmeras artérias do Porto, o nível da dificuldade para transitar com as ruas alagadas subiu ao limite, ao ponto de haver polícias sinaleiros em grande parte das ruas na baixa.
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Fosse a pé de guarda-chuva, fosse de automóvel, fosse de autocarro elevou-se ao patamar mais elevado poder encaixar-se numa cidade que viveu uma verdadeira tormenta, com grande quantidade de água num curto espaço de tempo que provocou pelo menos 56 ocorrências relacionadas com inundações em casas e vias públicas.
A Câmara Municipal do Porto prevê que a circulação de uma das faixas da Rua Mouzinho da Silveira reabra às primeiras horas da manhã de domingo.
Em declarações por escrito à Lusa, fonte oficial da Câmara do Porto indicou que a autarquia prevê a reabertura de "uma das faixas à circulação da Rua Mouzinho da Silveira às primeiras horas de domingo".
A Rua Mouzinho da Silveira, uma das artérias principais que liga da Estação de São Bento à Ribeira do Porto, foi interditada ao trânsito devido aos estragos na via provocados pelas chuvas intensas que se registaram no Porto - está interditada desde a zona da estação de comboios e da estão de metro de S. Bento até ao Largo de São Domingos, perto do Palácio da Bolsa.
O vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, reconheceu que as obras que estão a decorrer para alargar a rede da Metro do Porto podem ter provado alguma alteração na Mouzinho da Silveira.
"Estamos perante uma obra a decorrer da Metro [do Porto] e que terá certamente provocado algumas alterações, que estamos a estudar com outros peritos, mas isso é normal. Uma obra às vezes pode provocar esse tipo de alterações", declarou, assinalando que estão "preocupados" com o que sucedeu e que estão a estudar "formas de não voltar a acontecer".
Debaixo da Mouzinho da Silveira passa um ribeiro com o nome de rio da Vila que desagua no Rio Douro e que normalmente transporta toda a água, mas hoje isso não aconteceu.
"A água não percorreu o rio da Vila e veio à superfície. Ao vir à superfície arrastou com ela paralelos e causou outros danos", explicou Filipe Araújo, acrescentando que a queda da água não drenou para os vários canais, designadamente o rio da Vila, e "veio muito mais à superfície", causando estragos.
Filipe Araújo declarou que foram registadas "56 ocorrências" na cidade do Porto, garantindo que não houve danos pessoais, apenas danos materiais.