Martínez chega com vontade de "sonhar alto" e com "Ronaldo na lista"

Treinador espanhol, que antes esteve seis anos na seleção da Bélgica, assinou até 2026. Diz-se encantado por poder treinar "uma das seleções mais talentosas do mundo" e quer um adjunto português. Líder da FPF já deixou aviso: mínimo são as meias-finais de grandes provas.
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Após seis anos na seleção da Bélgica, seguem-se agora quatro como selecionador de Portugal. Roberto Martínez, 49 anos, foi ontem apresentado como sucessor de Fernando Santos e terá como primeira missão apurar Portugal para o Europeu de 2024. Na conferência de imprensa, o espanhol ouviu do presidente da FPF Fernando Gomes que terá como objetivo garantir pelo menos as meias-finais em grandes provas, e depois respondeu de forma diplomática ao tema mais sensível do momento, relacionado com Cristiano Ronaldo depois de tudo o que se passou no Mundial do Qatar.

A FPF divulgou depois um vídeo resumo do primeiro dia do novo selecionador.

Em castelhano, e prometendo que vai "tentar aprender português o mais rapidamente possível", o espanhol foi vago quando questionado sobre como vai gerir a situação de Ronaldo. "As decisões têm de se tomar em campo. Não sou um treinador de tomar decisões no escritório. Quero conhecer todos, e quero falar com todos. A minha base são os 26 que estiveram no Mundial do Qatar. Cristiano Ronaldo faz parte dessa lista, esteve 19 anos na seleção e merece respeito. Vamos falar. A partir daí, cabe-me fazer a melhor lista para o Europeu. Amanhã começaremos a trabalhar, a conhecer todos os jogadores, e o Cristiano é um deles", referiu.

Martínez insistiu que vai dar início "a um processo futebolístico para tentar conhecer todos os jogadores que poderão entrar na seleção". "Queremos dar uma oportunidade a todos e respeitar os que já estão na seleção. O Cristiano é um deles. Alguns já os defrontei, e estou encantado por poder tê-los a meu lado. É um processo que temos de encarar naturalmente, com responsabilidade, e vamos tomar decisões importantes para a equipa", vincou.

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Antes de Martínez falar, Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, deu as boas vindas ao novo selecionador e não esqueceu Fernando Santos. "Agradeço o entusiasmo e a ambição com que recebeu o convite. Sublinho também o sinal de coragem que dá a todos, uma vez que sucede ao treinador mais titulado da seleção nacional. Reafirmo a honra que foi ter Fernando Santos à frente da seleção desde 2014 e que culminou na conquista de um Europeu e da Liga das Nações", afirmou.

Para Fernando Gomes, "o percurso de Roberto Martínez fala por si próprio". "Como treinador tem formado o seu trabalho em adquirir conhecimento de forma competente. Nunca foi para nós relevante o local de nascimento do selecionador. Apesar do teu relacionamento com a Federação ter poucos dias, sabes com o que poderás contar. O povo português é um pouco apaixonado pela sua seleção. Ambicionamos, no mínimo, as meias-finais de qualquer competição", vincou.

O líder federativo abordou ainda o facto de o contrato de Martínez (até 2026) ir para além do seu mandato, que termina no próximo ano. "Cumpre-me tomar todas as decisões que assegurem uma transição tranquila para o meu sucessor ou sucessora. Isto significa liderar a candidatura ao Mundial2030, reforçar os laços com os nossos parceiros, negociar patrocínios ou receitas, melhorar as competições da FPF, dar todas as condições às seleções e definir contratos com treinadores e treinadoras", afirmou.

Depois explicou um pouco sobre como se desenvolveu o processo de escolha no novo selecionador, até porque o primeiro nome falado foi o de José Mourinho, contratualmente ligado à AS Roma: "Nas últimas semanas, defini com Humberto Coelho, João Pinto e José Couceiro o perfil. Teria de ser ambicioso, conhecedor do futebol internacional, habituado a treinar jogadores ao mais alto nível e com experiência em grandes campeonatos e seleções. Nesta pesquisa falámos com muita gente. Falo com a generalidade dos treinadores portugueses. Mas a única proposta concreta foi a Roberto Martínez."

"Emocionado e encantado por poder treinar uma das melhores seleções do mundo", Martínez disse esperar corresponder a todas as expectativas: "Vou representar uma das seleções com mais talento. Este era um projeto que me entusiasmava. Há grandes objetivos e expectativas, mas há, também, uma grande equipa. Junto vamos conquistar os objetivos, que têm de ser ganhar sempre e sonhar alto. Esta equipa terá de representar o povo português. Acredito no projeto, no jogador português, e vamos conseguir crescer juntos."

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O espanhol revelou ainda que quer integrar na sua equipa técnica um adjunto português, algo que, no seu entender, "seria muito importante para acelerar" o seu conhecimento sobre o futebol no nosso país. "A estrutura da equipa técnica está clara e vamos finalizar isso nos próximos dias. Mas gostaria de ter um adjunto português, que tenha sido jogador da seleção e com carreira internacional", afirmou, não entrando em grandes detalhes sobre qual o sistema que vai utilizar na seleção portuguesa: "Precisamos de ser uma equipa moderna, com flexibilidade tática. Jogar com três ou quatro defesas depende dos jogadores, e será meu trabalho e da equipa técnica tirar o máximo de cada um. A flexibilidade tática é muito importante. Mas isso dependerá dos jogadores", prometeu.

Roberto Martínez será o terceiro treinador estrangeiro da história da seleção nacional, 40 anos depois do pioneiro brasileiro Otto Glória e 15 do seu compatriota Luiz Felipe Scolari, e vai suceder a Fernando Santos, o recordista de jogos (109), vitórias (67), golos marcados (226) e longevidade na seleção (estreou-se em 11 de outubro de 2014 e despediu-se em 10 de dezembro de 2022), também vencedor dos únicos dois troféus absolutos, o Europeu de 2016 e a Liga das Nações de 2019.

O espanhol chega ao cargo de selecionador de Portugal depois de seis anos a tentar dar um título à Bélgica (o máximo que conseguiu foi o terceiro lugar no Mundial2018, na Rússia), numa vida profissional e também pessoal muito ligada ao Reino Unido.

Antes da seleção belga, fez a sua vida nas ilhas britânicas, primeiro como jogador e depois como treinador, tendo-se destacado no Wigan e no Swansea. Mas chega a Portugal com um currículo onde só consta um título como treinador: a Taça de Inglaterra, conquistada em 2012/13 de forma surpreendente com o Wigan.

Nascido em Lérida e depois de passar pelo Saragoça, com apenas 22 anos rumou ao futebol britânico e por lá se manteve até final da carreira, mas sempre em clubes das divisões inferiores de Inglaterra, com uma passagem pela Escócia para representar o Motherwell.

Foi também nos escalões inferiores que iniciou a sua carreira de treinador, nos galeses do Swansea, que abandonou após dois anos para comandar o Wigan, na altura na Premier League. A conquista da Taça de Inglaterra, a única na história do Wigan (que acabou por descer de divisão nessa época), fez Martínez dar o salto para o Everton. Em três anos, o técnico levou a equipa de Liverpool ao quinto lugar e às meias-finais da Taça de Inglaterra e da Taça da Liga.

Com alguma surpresa, abandonou o Reino Unido e foi o escolhido para liderar a Bélgica em 2016, num período em que os diabos vermelhos apresentavam uma das suas melhores gerações de sempre, com Eden Hazard como grande figura. O espanhol até levou os belgas ao topo do ranking da FIFA, mas falhou o tão ambicionado título. Agora o novo capítulo chama-se Portugal, com os primeiros jogos de apuramento para o Euro2024 agendados para março -a estreia na qualificação é a 23 de março, com um jogo em Alvalade frente ao Liechtenstein.

Admirador de Johan Cruijff e do futebol de posse do Barcelona da altura, foi uma espécie de afilhado do mago neerlandês que morreu em 2016, depois de ter partilhado casa em Inglaterra com o filho Jordi, quando este jogava no Manchester United.

Tirou uma pós graduação em gestão e marketing, adora presunto e o seu grande ídolo é o pai, que também foi jogador e treinador de futebol, com quem aprendeu a máxima de que "o futebol não é apenas um desporto, mas também uma forma de viver". É casado com uma mulher escocesa, Beth Thompson, e tem duas filhas.

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