Bolsonaristas invadem sedes dos poderes em Brasília. Lula promete levá-los à Justiça

Apoiantes de Bolsonaro invadiram sedes dos três poderes e pedem prisão de Lula da Silva e regresso do ex-presidente.
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"Esses fascistas fanáticos, vândalos, vão pagar pelo que fizeram. Vamos encontrar todos e levar à Justiça", prometeu Lula da Silva na primeira reação aos incidentes ocorridos este domingo em Brasília.

O Presidente do Brasil decretou a intervenção federal na área de Segurança Pública de Brasília e disse que todos os responsáveis pelas invasões das sedes dos poderes executivo, legislativo e judiciário serão punido

Também o Ministério Público Federal do Brasil anunciou a "imediata abertura" de uma investigação para responsabilizar os envolvidos nos "atos de vandalismo" a sedes dos poderes em Brasília, por apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O Ministério Público brasileiro adianta, em comunicado, que o procurador-geral da República, Augusto Aras, "requisitou à Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) a imediata abertura de procedimento investigatório criminal visando a responsabilização dos envolvidos".

Manifestantes apoiantes de Bolsonaro invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), sedes do poder legislativo, executivo e judiciário, respetivamente, num protesto violento na capital do Brasil.

A invasão começou depois de apoiantes radicais da extrema-direita brasileira apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas eleições em outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Apesar de a polícia militar de Brasília ter colocado barreiras de proteção, os "bolsonaristas" avançaram e furaram o cerco policial. Há imagens dos invasores dentro do salão verde do Congresso, e dentro e fora no Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).

As imagens, que trazem à memória a invasão do Capitólio nos Estados Unidos da América por apoiantes do então Presidente Donald Trump, mostram uma verdadeira maré humana fluindo em direção ao Congresso, edifício onde se situam a Câmara dos Deputados e o Senado.

Manifestantes apareceram na cobertura, mas também em todos os relvados adjacentes, inclusive o do palácio presidencial do Planalto e conseguiram mesmo entrar nos edifícios do palácio e do Supremo Tribunal Federal.

Durante a invasão ao Supremo, a porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes chegou a ser arrancada, segundo uma foto que circula nas redes sociais.

Entretanto, ao início da noite em Portugal, efetivos de segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) e as tropas de choque da Polícia Militar do Distrito Federal conseguiram recuperar o controlo da sede do tribunal. Fontes do STF citadas pelo canal brasileiro O Globo disseram que alguns dos assaltantes estavam detidos na garagem do edifício e que a sede está sob o controlo total das autoridades, que já estão a avaliar os danos.

Também nas redes sociais correram imagens de um grupo de cerca de dez policiais militares do Distrito Federal a conversar com bolsonaristas e a registar imagens da invasão ao Congresso Nacional com os seus telemóveis, sem tentar impedir as ações dos manifestantes.

Jair Bolsonaro, que foi derrotado por Lula da Silva na segunda volta da eleição presidencial em 30 de outubro, deixou o Brasil no final do ano para os Estados Unidos.

Militantes radicais fiéis do ex-chefe de Estado estão acampados em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, desde o dia seguinte às eleições de 30 de outubro, nas quais Lula da Silva derrotou Bolsonaro.

A zona em torno do Congresso estava isolada pelas autoridades, mas os apoiantes de Bolsonaro, que se recusam a aceitar a eleição de Lula da Silva, conseguiram romper os cordões de segurança e várias dezenas conseguiram subir a rampa deste edifício de arquitetura moderna para ocupar a cobertura.

Segundo o jornal Estado de São Paulo, a Força Nacional foi acionada no sábado para conter atos extremistas e a Esplanada dos Ministérios foi fechada a veículos. Os manifestantes, porém, caminharam a pé do quartel general do Exército e foram até ao Congresso Nacional, com faixas pedindo "Lula na cadeia", "intervenção militar" e "Bolsonaro presidente", escreve o jornal.

Ainda segundo o Estadão, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, afirmou que conversou por telefone com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, após a invasão do Congresso e repudiou o ato. "O governador informou-me que está concentrando os esforços de todo o aparato policial no sentido de controlar a situação".

"Na ação, estão empenhadas as forças de segurança do Distrito Federal, além da Polícia Legislativa do Congresso. Repudio veementemente esses atos antidemocráticos, que devem sofrer o rigor da lei com urgência", lê-se numa mensagem divulgada nas redes sociais.

O Ministro da Justiça Flávio Dino também usou as redes sociais para dizer que "essa absurda tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer. O Governo do Distrito Federal afirma que haverá reforços. E as forças de que dispomos estão agindo. Estou na sede do Ministério da Justiça".

O presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Arthur Lira, condenou a "destruição e vandalismo" na ocupação por 'bolsonaristas' às sedes dos poderes brasileiros, garantindo que serão preservadas a liberdade, a democracia e o respeito à Constituição.

"A democracia pressupõe alternância de poder, divergências de pontos de vista, mas não admite as cenas deprimentes que o Brasil é surpreendido nesse momento. Agiremos com rigor para preservar a liberdade, a democracia e o respeito à Constituição", escreveu Arthur Lira, na rede social Twitter.

O ex-juiz Sério Moro, antigo ministro da Justiça de Bolsonaro, condenou os protestos. "Protestos têm que ser pacíficos. Invasões de prédios públicos e depredação não são respostas. A oposição precisa ser feita de maneira democrática, respeitando a lei e as instituições. Os invasores precisam se retirar dos prédios públicos antes que a situação se agrave."

A presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, responsabiliza o governo estadual de Brasília: "Governo do DF foi irresponsável frente à invasão de Brasília e do Congresso Nacional. É um crime anunciado contra a democracia, contra a vontade das urnas e por outros interesses. Governador e seu secretário de segurança, bolsonarista, são responsáveis pelo que acontecer".

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