O acidente da Glória ocorreu a 3 de setembro.
O acidente da Glória ocorreu a 3 de setembro.FOTO: Gerardo Santos

Oposição une-se contra Moedas. “Deve assumir responsabilidades” pelo acidente com elevador da Glória

Após serem conhecidas as primeiras conclusões do acidente, o PS defende que autarca afaste administração da Carris, o Chega fala num relatório “arrasador” e o PCP diz haver “responsabilidade política”
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Para os vereadores do PS na Câmara Municipal de Lisboa não há dúvidas: as falhas apontadas pelo relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) sobre o acidente no Elevador da Glória são “muito graves” e consideram que “a liderança da Carris perdeu as condições para continuar em funções”.

Em comunicado, os socialistas referem que “as conclusões do relatório” sobre o acidente do dia 3 de setembro (que vitimou 16 pessoas) “desmentem a versão inicialmente apresentada pela Carris”.

Isto “depois de a empresa ter garantido publicamente que todos os procedimentos de manutenção tinham sido cumpridos”. Segundo o relatório divulgado na segunda-feira, houve falhas e omissões na manutenção do ascensor da Glória, dizendo haver, entre outras, “evidências de que tarefas de manutenção registadas como cumpridas nem sempre correspondem às tarefas efetivamente realizadas”. Perante isto tudo, os vereadores do PS no executivo municipal de Lisboa exigem “que sejam assumidas as devidas responsabilidades, sem exceções nem encobrimentos”. No entender dos vereadores socialistas, “não é admissível que um acidente com vítimas mortais e feridos ocorra num equipamento público e que as consequências se limitem a sanções intermédias ou a um mero passa-culpas”. Por isso, consideram, “a liderança da Carris perdeu as condições para continuar em funções, face às contradições e à gravidade das conclusões conhecidas”. E se o “ presidente do conselho de administração não apresentar a sua demissão, cabe ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa tomar essa decisão”, defendem.

Após ser conhecido o relatório do GPIAAF, Carlos Moedas, autarca lisboeta defendeu que o documento “reafirma que a infeliz tragédia” derivou de causas técnicas e não políticas . À Lusa, o presidente da câmara disse mesmo que esta posição vai “contra a politização que alguns fizeram durante a campanha” eleitoral.

Pelo Chega, o vereador eleito Bruno Mascarenhas disse que este relatório “nunca podia apontar causas políticas” e classificou o documento como “arrasador”. Em declarações à TSF, afirmou que é necessárioperceber que tem de se deduzir um conjunto de responsabilidades políticas. É preciso perceber que a Carris soube que este cabo que se rompeu não estava adequado à função para a qual foi adquirido”.

Já João Ferreira, do PCP, vai no mesmo sentido do PS: Carlos Moedas deve assumir responsabilidades, sob pena de se mostrar “incapaz” de tomar as medidas necessárias. Citado pela Lusa, o vereador comunista defende que “há uma responsabilidade política que tem de ser assacada a quem tomou a decisão de externalizar e a todos os que ao longo do tempo, incluindo o atual presidente da câmara municipal, tomaram a decisão de prolongar essa contratação externa” para a manutenção destas infraestruturas. Frisando que só o relatório final vai “clarificar” o que aconteceu, João Ferreira diz que este documento intercalar já expõe “falhas muito graves” no funcionamento da Carris.

Por seu lado, o Bloco de Esquerda (que, até à tomada de posse do novo executivo, terá uma vereadora) apresentou um requerimento para exigir esclarecimentos e ação imediata após ser conhecido o relatório, que revela, entre outras, “falhas gravíssimas na manutenção, supervisão e segurança do sistema”. A vereadora Beatriz Gomes Dias acusa ainda Carlos Moedas de ter “falta de transparência” ao ignorar alertas da comissão de trabalhadores da Carris e de não ter prestado “esclarecimentos” na reunião municipal sobre o assunto, realizada um dia após as eleições autárquicas.

O que diz o relatório?

Falhas na manutenção: O relatório do GPIAAF refere haver “evidências de que tarefas de manutenção registadas como cumpridas nem sempre correspondem às tarefas efetivamente realizadas, bem como de serem executadas tarefas críticas para a segurança de forma não padronizada, com parâmetros de execução e validação díspares”. Além disso, “as inspeções previstas para o dia do acidente e antecedentes estão registadas como executadas e pessoal do prestador de serviço esteve presente, mas as evidências não suportam o período horário indicado nas folhas de trabalho para a sua execução”.

Cabo não certificado: O documento refere ainda que o cabo de tração/equilíbrio “não estava conforme com a certificação da CCFL [Carris] para utilização no Ascensor da Glória”, nem estava certificado para “utilização em instalações para o transporte de pessoas”, não sendo também “indicado para estar instalado com destorcedores nas suas extremidades, como é o sistema no Ascensor da Glória (e no Ascensor da Lavra)”.

Ascensores parados: Como recomendação, o GPIAAF sugere que a Carris “não reative os ascensores” sem haver uma “reavaliação feita por uma entidade especialista em funiculares”.

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