Na sequência do acidente no elevador da Glória, ocorrido em 3 de setembro, morreram 16 pessoas e 20 ficaram feridas
Na sequência do acidente no elevador da Glória, ocorrido em 3 de setembro, morreram 16 pessoas e 20 ficaram feridasFOTO: GERARDO SANTOS

Elevador da Glória. Vereadores do PS exigem demissão da administração da Carris

Alexandra Leitão defendeu que o relatório "é de uma gravidade extrema" e "demonstra que este gravíssimo, trágico acidente, podia ter sido evitado se não tivesse havido descuido e negligência".
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Os vereadores do PS na Câmara de Lisboa exigiram esta terça-feira, 21 de outubro, a demissão da administração da Carris, na sequência das conclusões do relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) sobre o acidente no Elevador da Glória, que causou a morte de 16 pessoas.

Em declarações à SIC Notícias, Alexandra Leitão, eleita vereadora nas autárquicas de 12 de outubro, considerou que "o passa-culpas do conselho de administração de agora e o conselho de administração anterior e a demissão de um dirigente intermédio claramente não é suficiente e não vai ao encontro da gravidade que o relatório aponta". A verdeadora socialista por Lisboa defendeu que o relatório, ainda preliminar, "é de uma gravidade extrema" e "demonstra que este gravíssimo, trágico acidente, podia ter sido evitado se não tivesse havido descuido e negligência".

Perante as conclusões do relatório do GPIAAF, Alexandra Leitão afirmou: Neste momento já sabemos o suficiente para dizer que não há possibilidade de manutenção, pelo menos, do presidente do conselho de administração da Carris. Está completamente quebrada uma relação de confiança com os lisboetas".

Em comunicado, os vereadores socialistas de Lisboa "consideram que a liderança da Carris perdeu as condições para continuar em funções, face às contradições e à gravidade das conclusões conhecidas". Por isso, defendem: "Se o presidente do conselho de administração não apresentar a sua demissão, cabe ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa tomar essa decisão, assumindo a responsabilidade política que lhe compete enquanto tutela da empresa”.

Os vereadores socialistas consideram “muito graves” as conclusões do relatório preliminar, que detetou falhas e omissões na manutenção do ascensor, apontando também a falta de formação dos funcionários e de supervisão dos trabalhos efetuados pela empresa prestadora do serviço.

Segundo os vereadores do PS, este relatório sobre o acidente vem desmentir a versão inicialmente apresentada publicamente pela Carris de “que todos os procedimentos de manutenção tinham sido cumpridos”, ao “revelar falhas e negligência inaceitáveis num equipamento público sob responsabilidade municipal”.

O PS na Câmara de Lisboa afirma que “exige que sejam assumidas as devidas responsabilidades, sem exceções nem encobrimentos” e que “o executivo camarário assegure total transparência na investigação, implemente todas as medidas de correção e segurança recomendadas”, com reforço dos “mecanismos de controlo interno e externo da empresa municipal, garantindo que situações semelhantes não se repitam”.

“Não é admissível que um acidente com vítimas mortais e feridos ocorra num equipamento público e que as consequências se limitem a sanções intermédias ou a um mero passa-culpas”, acrescentaram.

Para Alexandra Leitão, nas declarações à SIC Notícias, "é preciso apurar até ao fim a responsabilidade administrativa, a responsabilidade técnica e a responsabildade política" do acidente. "Há responsabilidade da Carris, há responsabilidade de quem tutela a Carris", defendeu.

BE/Lisboa quer saber se Moedas ainda confia na administração da Carris

O BE na Câmara de Lisboa, por seu lado, questionou esta terça-feira o presidente da autarquia, Carlos Moedas, sobre se ainda mantém a confiança na administração da Carris, apesar das “inadmissíveis” falhas “gravíssimas” reveladas num relatório sobre o acidente do Elevador da Glória.

Num comunicado, o BE de Lisboa informa que a vereadora Beatriz Gomes Dias apresentou um requerimento para exigir “esclarecimentos e ações imediatas” na sequência do relatório preliminar do GPIAAF.

Segundo a vereadora, as “falhas gravíssimas na manutenção, supervisão e segurança do sistema, incluindo a utilização de cabos não certificados”, revelados no relatório “apontam para uma incapacidade total da Carris de garantir a segurança dos passageiros e para uma preocupante falta de transparência por parte da presidência da Câmara”.

Nesse sentido, a vereadora exige ser esclarecida sobre se o presidente da Câmara, Carlos Moedas, mantém a “confiança na atual administração da Carris”.

No requerimento, o Bloco na Câmara de Lisboa pede também uma “revisão técnica e legal urgente dos sistemas de transporte histórico da cidade”, o “reforço dos procedimentos internos da Carris, com foco na segurança”, e a concretização de um sistema de “supervisão técnica independente, em articulação” com o Governo e o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).

O BE exige ainda a Carlos Moedas “transparência na comunicação com os munícipes e divulgação pública das medidas corretivas”, além de “garantia de certificação técnica antes da reposição de qualquer equipamento em funcionamento”.

O Bloco acusa também o presidente da Câmara de Lisboa de ter ignorado alertas da comissão de trabalhadores da Carris e de “falta de transparência”, não tendo prestado “esclarecimentos em reunião de câmara realizada a 13 de outubro, após as eleições autárquicas”.

João Ferreira diz que Moedas tem de assumir responsabilidades políticas

O vereador do PCP, João Ferreira, defendeu que Carlos Moedas tem de assumir responsabilidades políticas relativamente ao acidente, caso contrário demonstra ser “incapaz” de tomar as medidas necessárias.

“Há uma responsabilidade política que tem que ser assacada a quem tomou a decisão de externalização e a todos aqueles que, posteriormente, ao longo do tempo, incluindo o atual presidente da Câmara Municipal, tomaram a decisão de prolongar essa contratação externa”, disse João Ferreira à agência Lusa.

Na segunda-feira, numa declaração à Lusa, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, reagiu ao relatório sustentando que “reafirma que a infeliz tragédia do elevador da Glória foi derivada de causas técnicas e não políticas”.

Para João Ferreira, com esta declaração, Carlos Moedas “coloca-se ele próprio numa posição de se dizer incapaz de fazer aquilo que é necessário fazer agora” e que "exige decisão política, exige responsabilidade política", já que "é a partir da decisão política que vamos garantir que são tomadas as medidas para intervir naqueles domínios críticos que o gabinete apontou”.

À Lusa, o vereador do PCP afirmou que, independentemente dos aspetos que “só serão clarificados no relatório final”, o relatório intercalar já aponta “falhas muito graves no funcionamento da Carris”, empresa que não terá “propriamente um sistema de gestão da segurança em linha com as melhores práticas atuais”.

“São apontadas falhas igualmente graves, algumas muito graves, à fiscalização e à inspeção do trabalho realizado por entidades externas à empresa, contratadas pela empresa, e são apontadas falhas também muito graves ao próprio trabalho feito pela entidade contratada para os serviços de manutenção dos ascensores e elevadores”, acrescentou.

Para João Ferreira, “há uma evidência de que esta empresa não está em condições de prosseguir o trabalho para o qual foi contratada” e a solução para esse problema “depende de uma decisão política” e da tomada de medidas “para garantir que todas estas falhas são supridas”.

E, por isso, admite “grande preocupação por constatar que o presidente de Câmara se revela incapaz de fazer aquilo que é necessário fazer neste momento”.

O acidente com o elevador da Glória, ocorrido em 03 de setembro, causou 16 mortos e cerca de duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.

Num relatório preliminar às causas do acidente o GPIAAF apontou, nomeadamente, falhas à Carris, à manutenção e à supervisão.

Na sequência do acidente no elevador da Glória, ocorrido em 3 de setembro, morreram 16 pessoas e 20 ficaram feridas
Relatório preliminar aponta para falsas tarefas de manutenção e de inspeção ao elevador da Glória

Segundo foi anunciado esta segunda-feira, o Governo já tinha pedido ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) para “reforçar e consolidar a regulação e fiscalização” de transportes públicos, na sequência da tragédia do elevador da Glória.

“A pedido da Secretaria de Estado da Mobilidade, o Instituto da Mobilidade e Transportes encontra-se a elaborar uma proposta de diploma legislativo que visa reforçar e consolidar a regulação e fiscalização dos sistemas integrados de transporte ferroviário, metropolitano, metro ligeiro, elétricos, instalações por cabo e mini-comboios”, disse à Lusa fonte daquela secretaria, em resposta por escrito.

A mesma fonte frisou que “o relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) sobre o elevador da Glória vem reforçar a necessidade desse diploma, já anteriormente pedido pela Secretaria de Estado da Mobilidade ao IMT”.

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