É mais uma semana em que as utentes da Margem Sul poderão ter de se deslocar quilómetros para conseguirem chegar a uma urgência de Ginecologia-Obstetrícia. De acordo com o mapa de escalas das urgências do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, volta a estar aberto só dois dias esta semana, na quarta e quinta-feira, precisamente nos dias em que a urgência do Hospital São Bernardo, em Setúbal, estará fechada. Mas ambas voltam a encerrar no sábado, sendo expectável que o mesmo aconteça no domingo, dia 5, já que neste domingo, 28 de setembro, ambas estão também fechadas. A única urgência a manter as portas abertas é a urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada, mesmo assim com “dificuldades”, reafirmaram este domingo ao DN fontes hospitalares. Por exemplo, relatam as mesmas, no sábado, dia 27 de setembro, a urgência desta unidade ficou fechada ao exterior a partir do turno das 16h00, ficando só para apoio a casos urgentes levados pelo CODU até às 8h00 de domingo. Logo no início da semana que passou, na segunda-feira, dia 22, aconteceu o mesmo em igual período. Na quarta-feira, dia 24, dizem as mesmas fontes, foram 24 horas só de referência ao CODU, embora a escala do SNS indicasse que estava aberta..Obstetrícia. Hospitais da Margem Sul não revelam número de médicos nos quadros e quantos fazem urgência.Para as fontes do DN, a situação não é inédita. Aliás, pelo contrário, tem sido assim “durante todo o ano com agravamentos no verão. Houve alturas em que esteve dez dias fechada”. Por isso mesmo, sindicatos e profissionais no terreno atribuem o aumento dos nascimentos em ambulâncias na Margem Sul ao encerramento das urgências. Neste domingo, os bombeiros da Moita realizaram mais um parto a caminho da urgência do Garcia de Orta, o 14.º este ano, segundo indicaram os próprios à Lusa. No total, e tendo em conta a contabilização feita pelos anúncios de partos das corporações de bombeiros, este bebé pode ser o 60.º a ter nascido este ano numa ambulância. Até ao dia 15 de setembro, tinham sido contabilizados 57 nascimentos, e até ao dia 25, já eram 59, segundo uma nota da Federação Nacional dos Médicos.Esta semana, o mapa de escalas do SNS indica que a urgência do Garcia de Orta estará aberta todos os dias durante as 24 horas, mas “pode não ser assim. Há buracos por preencher e pode sempre haver tarefeiros que não apareçam”, dizem ao DN, reforçando: “Não há equipas para todos os dias e as escalas acabam por ser preenchidas dia-a-dia”.Os encerramentos da urgência do Barreiro têm gerado protestos por parte da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro, que atribuem a responsabilidade ao Ministério da Saúde e à administração do hospital. Na quinta-feira à tarde, esta comissão voltou a manifestar-se em frente ao hospital, mas, desta vez, para contestar a medida que o Governo apresentou como solução: a criação de uma Urgência Regional, a qual levará à concentração dos recursos médicos daquela unidade nas urgências do Garcia de Orta. .“Mobilização de médicos à força para urgência regional na Margem Sul não é boa estratégia”, diz administrador hospitalar. A presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, esteve presente no protesto e voltou a reforçar também que esta solução não é mais do que uma forma de “retirar cuidados de proximidade à população”, contra-argumentando que a solução do Governo não será viável pelo número de especialistas de Ginecologia-Obstetrícia no Barreiro. “Há oito obstetras, dos quais seis têm mais de 55 anos, estando libertos da urgência. Só dois têm menos desta idade e já disseram que se tiverem de fazer urgência em Almada rescindem contratos”, afirmou.No mesmo dia, o coordenador da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, Criança e da Adolescência, Caldas Afonso, deu ao DN outros números. “O serviço tem 11 especialistas, dos quais seis têm regime de Dedicação Plena, e sete internos”, considerando que estes recursos seriam suficientes para reforçar a urgência de Almada com uma a duas equipas por semana, permitindo ter uma urgência aberta na região as 24 horas nos sete dias da semana. “Com boa vontade dos dois hospitais conseguiríamos ter uma urgência sempre aberta”, disse. Aliás, criticando, “o regime de Dedicação Plena dá mais 30% no ordenado, mas deveria implicar que houvesse mais disponibilidade para a atividade em urgência”.O DN questionou todos os hospitais da Margem Sul sobre o número de especialistas na área de Ginecologia-Obstetrícia nos seus quadros e quantos destes fazem urgência, e ainda quantos médicos precisariam para manter as urgências a funcionar sem encerramentos, mas nenhum respondeu.Recorde-se que os encerramentos sistemáticos e em simultâneo das três urgências de Ginecologia-Obstetrícia da Margem Sul (Almada, Barreiro e Setúbal) levaram a ministra a prometer que não seria assim a partir de outubro. A Administração do Garcia de Orta indicou que iria contratar mais sete médicos para cumprir as escalas, mas, até agora, só há conhecimento de quatro contratações, uma do diretor de serviço e as outras de prestadores de serviço que já integravam as escalas do hospital. O Presidente da República disse que no final do verão faria a sua avaliação à crise nas urgências. A ministra prometeu já por duas vezes no Parlamento nas últimas semanas que uma portaria sobre a urgência regional será publicada em breve, mas que esta, ao mesmo tempo, será negociada com os sindicatos. Mas até agora a portaria ainda não foi publicada. .Bombeiros da Moita fazem 14º parto este ano em ambulância. Grávida ia a caminho do Hospital Garcia de Orta