Mário Nogueira deixa liderança da Fenprof, mas vai continuar ligado ao movimento sindical.
Mário Nogueira deixa liderança da Fenprof, mas vai continuar ligado ao movimento sindical.Gerardo Santos / Global Imagens

Mário Nogueira deixa hoje de ser o rosto da Fenprof

O 15.º Congresso Nacional da Fenprof marca a saída do secretário-geral, que ocupou o cargo durante 18 anos. Estrutura passará a ter liderança bipartida com José Feliciano Costa e Francisco Gonçalves.
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Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), é o nome que todos associam à luta dos professores. Nos últimos 18 anos, foi o rosto das reivindicações dos docentes, tendo marcado a agenda da Educação com inúmeras manifestações e a convocação de greves. Com um estilo próprio e um discurso muitas vezes metafórico, foi protagonista de conferências de imprensa marcadas pela originalidade, como uma recente em que usou fruta e pratos para mostrar que os professores tinham direito a progredir na carreira,  acusando o Governo de estar a “comer as progressões”.

Professor desde 1978, tinha 25 anos quando integrou o Conselho Nacional da Fenprof, mas ainda antes de começar a lecionar, já era sindicalizado. Assumiu o cargo de secretário-geral em 2007, negociando com sete ministros: Maria de Lurdes Rodrigues, Isabel Alçada, Nuno Crato, Margarida Mano, Tiago Brandão Rodrigues, João Costa e Fernando Alexandre, com os quais travou várias batalhas.

Maria de Lurdes Rodrigues foi uma das ministras mais contestadas por Mário Nogueira e foi no decorrer da sua gestão que teve lugar uma das maiores manifestações de professores, em 2008, em Lisboa, com a presença de 120 mil docentes. Com Nuno Crato nos comandos da pasta da Educação, em 2013, a Fenprof encetou uma longa greve às avaliações. Mais recentemente, em 2018, começou a luta para a recuperação do tempo de serviço congelado, levando o ex-ministro Tiago Brandão Rodrigues e, posteriormente, João Costa, a enfrentar greves sucessivas. A recuperação do tempo de serviço levou a um braço de ferro entre o antigo primeiro-ministro, António Costa,  e os sindicatos, que culminou com uma ameaça de demissão por parte do líder socialista, em 2019. Já em 2023, cerca de 150 mil professores saíram à rua e realizaram aquela que é apontada como a maior manifestação de todos os tempos. Com Fernando Alexandre, o atual ministro da Educação, Mário Nogueira viveu os últimos tempos como líder da Fenprof com mais tranquilidade, principalmente após o anúncio da recuperação do tempo de serviço congelado aos professores.

Em declarações recentes ao DN, Francisco Gonçalves - que foi secretário-geral adjunto e que agora assumirá o comando da Fenprof com José Feliciano Costa -, destaca o papel histórico de Mário Nogueira, “uma figura marcante e um líder carismático”, que “soube representar o coletivo nas escolas, junto dos docentes, sempre presente e atento às suas insatisfações”. A liderança de Nogueira atravessou períodos particularmente críticos, desde os “ataques à carreira docente em 2005” até aos “protestos massivos” nos últimos anos. Gonçalves sublinha que, mesmo em momentos difíceis, foi a Fenprof que “conseguiu reunir unidade” no setor e manter o foco na defesa da escola pública. Mário Nogueira, reforça, foi o rosto deste tempo, “com momentos difíceis, com picos de luta muito significativos, que responderam àquelas que foram as solicitações da classe”.

Mário Nogueira deixa hoje o cargo de secretário-geral, mas tal como aconteceu com os dois anteriores líderes da Fenprof – António Teodoro (1983-1994) e Paulo Sucena (1994-2007) – irá continuar presente na vida da federação. Estará, por exemplo, na reunião marcada para a próxima semana com professores das Escolas Portuguesas no Estrangeiro.

Revisão do Estatuto da Carreira Docente e valorização da carreira. As próximas lutas

A eleição do novo secretário-geral será um dos pontos altos do congresso que termina hoje, apesar de não serem esperadas grandes novidades.

Até ao momento, há apenas uma lista votada por unanimidade pelos sete sindicatos da Fenprof que propõe que os atuais secretários-gerais adjuntos - Francisco Gonçalves e José Feliciano Costa – substituam Mário Nogueira.

Francisco Gonçalves lidera o Sindicato dos Professores do Norte (SPN) e é docente do agrupamento Gonçalo Mendes Maia, na Maia, enquanto José Feliciano Costa está à frente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) e pertence aos quadros da José Afonso, na Moita.

A lista do secretariado propõe ainda o nome de Anabela Sotaia, atual presidente do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC), para nova presidente do Conselho Nacional da Fenprof.

Os 662 delegados irão também aprovar o programa de ação reivindicativa para o próximo mandato. Mas também neste ponto, Mário Nogueira já revelou quais serão as grandes prioridades para os próximos quatro anos: a revisão do Estatuto da Carreira Docente e a valorização da carreira.

“Seja qual for o governo que saia das eleições de 18 de maio, as reivindicações dos professores não vão mudar!”, garantiu Mário Nogueira há um mês, numa conferência de imprensa marcada para falar sobre o 15.º Congresso, que termina hoje, precisamente na véspera das eleições legislativas.

Com Lusa

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