Ana Pires, encarregada de negócios da Embaixada de Cabo Verde em Portugal.
Ana Pires, encarregada de negócios da Embaixada de Cabo Verde em Portugal.Foto: Leonardo Negrão

“Mover” vai trazer 320 migrantes de Angola e Cabo Verde para suprir falta de mão de obra

Iniciativa será coordenada pela Organização Internacional das Migrações (OIM). Segundo o chefe de missão Vasco Malta, projeto está alinhado com o Plano de Ação para as Migrações do Governo.
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Um novo projeto para suprir a falta de mão de obra em Portugal foi lançado esta segunda-feira, 15 de dezembro. Trata-se do “Mover”, que pretende apoiar a entrada regular no país de 320 imigrantes de Angola e de Cabo Verde, além de orientar 800 cidadãos migrantes para processos de recrutamento.

A iniciativa é da Organização Internacional das Migrações (OIM), financiada pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI), com o apoio dos Governos de Angola e de Cabo Verde e de associações laborais portuguesas. O objetivo é que os profissionais, em especial os jovens, venham trabalhar em Portugal com acompanhamento ao longo de todo o processo, incluindo a integração, através de aulas de português técnico e apoio social. Está previsto que pelo menos 20 empresas participem no projeto, acolhendo estes profissionais.

Os migrantes vão receber informações claras sobre todo o processo, apoio individualizado, formação antes da partida e certificação. Todo o projeto será também monitorizado pela OIM. Entre os parceiros estão a Associação Empresarial de Portugal (AEP), a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal.

O projeto assenta na premissa de que Portugal enfrenta uma escassez de mão de obra. Foram apresentados alguns números: faltam cerca de 80 mil trabalhadores na área da construção civil, com 40% dos serviços sem resposta; há carência de profissionais na hotelaria e no turismo, setor que representa 10% do PIB, onde 18,3% da mão de obra é composta por imigrantes; e na agricultura, onde a escassez é classificada como estrutural.

Esta realidade foi sublinhada por Nuno Gonçalves, vice-presidente do Conselho Diretivo da Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI). “Todos os dias vemos empresas a necessitar de trabalhadores. Precisam de bons quadros para fazer crescer os seus negócios”, afirmou durante o evento.

Foto: Leonardo Negrão

Vasco Malta, chefe da Missão da OIM em Portugal, destacou ao DN que uma das premissas fundamentais do projeto é a proteção dos direitos dos trabalhadores. “O projeto Mover demonstra que é possível responder às necessidades do mercado de trabalho português promovendo, ao mesmo tempo, uma migração segura, regular e digna. Ao criar vias de mobilidade laboral entre Angola, Cabo Verde e Portugal, estamos a transformar a migração num verdadeiro instrumento de desenvolvimento partilhado, assente no recrutamento ético, na proteção dos direitos dos trabalhadores e na cooperação entre Estados, empresas e parceiros sociais”, afirmou.

Para Ana Pires, encarregada de negócios da Embaixada de Cabo Verde em Portugal, Portugal é o principal destino da imigração cabo-verdiana. “Esta realidade tem laços profundos, linguísticos, culturais, humanos e institucionais, que fazem da mobilidade entre os nossos países um elemento estruturante da relação bilateral”, afirmou na sessão de abertura. E lembrou que, independentemente das políticas adotadas, “a migração continuará a existir; a verdadeira escolha que temos é a forma como a organizamos”.

Rui Armindo Freitas, secretário de Estado das Migrações, elogiou a iniciativa, classificando-a como “exatamente” aquilo que o atual Governo pretende e trabalha: a criação de canais regulares de imigração, admitindo que Portugal precisa, de facto, de mão de obra estrangeira.

amanda.lima@dn.pt

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