António Sérgio Henriques, diretor de Fronteiras de Lisboa do extinto SEF à data da morte no aeroporto, em 2020, do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, foi esta sexta-feira condenado a uma pena suspensa de dois anos e meio de prisão pelos crimes de denegação da Justiça e prevaricação. Defesa de António Sérgio Henriques já informou que vai recorrer. "Vamos analisar a sentença e interpor o competente recurso no prazo legal", anunciou, à saída do Tribunal Local Criminal de Lisboa, Filipa Correia Pinto.A advogada acrescentou que detetou "já várias imprecisões" na decisão lida durante quase três horas pela juíza Hortense Marques.De acordo com o Público, a juíza do tribunal de Lisboa referiu que o arguido omitiu do relatório de ocorrência as circunstâncias da morte do cidadão ucraniano. "Escreveu factos que não retratam a realidade, apesar de saber que Ihor Homenyuk esteve 8 horas algemado, em decúbito ventral", não tendo transmitido essa informação, de modo e "impedir" a abertura de processos disciplinares e de inquérito criminal.O tribunal deu, assim, como provado que, em 2020, António Sérgio Henriques omitiu informação sobre o sucedido à direção nacional do SEF, para proteger de processos disciplinares os três inspetores que, em 2021, acabariam condenados a nove anos de prisão por terem matado, sem intenção, o cidadão ucraniano.Hoje, no segundo processo do caso, o Tribunal Local Criminal de Lisboa absolveu outros dois inspetores, acusados do crime de homicídio negligente por omissão, e condenou, a seis meses de pena suspensa, dois vigilantes do EECIT, por exercício ilícito da atividade de segurança privada."Saio deste julgamento com a perceção sincera de que se fez justiça", reagiu o mandatário da família do cidadão ucraniano, José Gaspar Schwalbach, antevendo que a sentença será "o ponto final" que permitirá à mulher e às filhas de Ihor Homeniuk fazerem "o luto de toda a situação"..Cabrita deu informação falsa ao parlamento sobre morte de Ihor Homeniuk.SEF já indemnizou viúva de Ihor Homeniuk.António Sérgio Henriques, de cerca de 60 anos, estava acusado pelo Ministério Público de um crime de denegação de justiça e prevaricação.O ex-dirigente, demitido em 2021 da função pública, era suspeito de, para evitar processos disciplinares, ter omitido à direção nacional do antigo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que Ihor Homeniuk fora deixado sozinho, deitado e algemado durante oito horas numa sala do Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.O cidadão ucraniano, de 40 anos, asfixiou lentamente até à morte a 12 de março de 2020, depois de ter sido espancado e abandonado manietado no EECIT por três inspetores do então SEF, condenados em 2021 no processo principal do caso a nove anos de prisão por ofensa à integridade física qualificada, agravada pelo resultado (morte).