Mais de 60 fogos num só dia levaram mais de quatro mil bombeiros para o terreno

De norte a sul do país, o calor extremo que se tem feito sentir, juntamente com a baixa humidade e algum vento, acabaram esta terça-feira, 29 de julho, por tornar piores os incêndios que já estavam maus, sobretudo nos casos de Ponte da Barca, Arouca e Penamacor, que já ardiam pelo menos desde a véspera.Esta terça-feira - em que se registaram temperaturas acima dos 30ºC em grande parte do território nacional - trouxe incêndios de dimensões significativas nos concelhos de Penafiel, Ponte de Lima, Santarém e Nisa. Tudo somado, houve mais de quatro mil operacionais no terreno, apoiados por quase 40 aeronaves. Foi, até agora, o dia mais crítico no que diz respeito aos incêndios. No caso do incêndio em Nisa, a velocidade de propagação das chamas (depois do incêndio ter deflagrado pelas 12h32) levou mesmo a que, a meio da tarde, as aldeias de Vinagra e Pé da Serra tivessem de ser evacuadas. Este incêndio provocou ainda um desalojado, cuja habitação terá ficado parcialmente queimada, segundo disse a autarca de Nisa, Idalina Trindade (PS). Já em Arouca, a aldeia de Vila Viçosa chegou a estar confinada devido ao incêndio.Às 18h30 desta terça-feira, o site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) chegou a indicar mais de 60 incêndios ativos em Portugal continental. A essa hora, os três maiores incêndios (Arouca, Ponte da Barca e Penamacor) empenhavam mais de 1500 bombeiros no terreno.Pelas 19h00, quando a ANEPC fez o último ponto de situação, o comandante nacional, Mário Silvestre, assumia que, de entre os 17 mais significativos, o incêndio em Arouca causava “mais preocupação” por poder colocar em risco as povoações da vila arouquense e de Castelo de Paiva. Sobre o incêndio de Penamacor, que já consumiu mais “de 2953 hectares”, a perspetiva para as primeiras horas da noite era “boa” (apesar de as aeronaves não poderem voar após o pôr do sol).Além disso, explicou Mário Silvestre, “o incêndio de Nisa teve uma elevada taxa de expansão”, chegando a atingir os mil metros por hora devido à velocidade do vento. A expectativa era que “durante a noite” este fogo acabasse por ser dominado. Já em Alcanede, no concelho de Santarém, foi anunciado que o incêndio chegou a uma exploração pecuária, tendo morto vários animais. Mas o número certo de perdas de gado era ainda incerto naquela altura. Neste briefing, o comandante nacional da ANEPC anunciou que até àquela hora havia um “total de 20 assistidos”, todos sem gravidade. Destes, 14 são bombeiros. Houve ainda três civis feridos, bem como dois elementos da empresa privada Afocelca e um militar da Guarda Nacional Republicana (GNR).O comandante nacional da ANEPC deixou ainda um alerta: “Continuamos a ter um número muito significativo de ocorrências. Em quase todos os contextos continua a verificar-se a utilização negligente de maquinaria agrícola e quero deixar essa ressalva, para que não se utilizem este tipo de máquinas.”Durante o dia, o Expresso noticiou também que as autoridades investigam a possibilidade de o incêndio em Ponte da Barca ter sido deflagrado com recurso a drone. Questionada pelo DN sobre este assunto, a ANEPC não confirma se existem mais suspeitas deste género (e se estas são válidas), remeteu esclarecimentos para a autoridade de polícia criminal, neste caso, a Polícia Judiciária (PJ), que investiga a origem destas ignições.Ministra desvaloriza falta de aeronaves no dispositivoDurante o dia, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, estiveram na sede nacional da ANEPC, em Carnaxide, para se inteirarem da situação. Nessa ocasião, a ex-provedora de Justiça adiantou que o dispositivo de aeronaves combate a incêndios - que é contratualizado pela Força Aérea mas gerido pela ANEPC - tem 72 meios, entre helicópteros e aviões, “num total de 75 ou até um pouco mais”. Ainda assim, a ministra desvalorizou uma eventual carência de meios. O problema, disse, era o “caráter extremamente acidental da orografia” e as dificuldades de acesso que tal situação causa. Então, “a existência de 72, 76 ou 80 meios aéreos” de combate a incêndios teria pouco impacto na luta contra as chamas.No entanto, ao início da tarde o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima queixou-se da falta de aeronaves, que não estavam no teatro de operações devido a “falta de disponibilidade”. Segundo Carlos Lima, esta informação foi-lhe transmitida pela Proteção Civil, numa altura em que o incêndio tinha quatro frentes ativas, pedindo um reforço “de meios pesados” para o combate aéreo.Questionado sobre estas queixas, o comandante nacional da ANEPC disse que “é normal” que haja queixas de falta de meios e que “nunca nenhum comandante, em qualquer parte do mundo, ficou satisfeito com o que tem”, tal como os autarcas que se veem envolvidos nesta situação. Porém, a Proteção Civil já se “habitou a trabalhar com o que tem”. Com isto, tentou clarificar as palavras de Maria Lúcia Amaral, dizendo: “Este trabalho é de complementaridade. Ou seja, os meios aéreos por si só não resolvem o problema. Nós trabalhamos com o que temos à disposição. Não há qualquer contradição nas palavras da senhora ministra nem nos pedidos dos autarcas. O trabalho tem de ser feito com as duas perspetivas: meios aéreos e terrestres. Nenhum deles resolve, per se, o combate, complementando-se.”Apesar desta perspetiva, o jornal Público noticiou, na edição desta terça-feira, que a ANEPC “confirmou” que “atualmente, estão em falta cinco helicópteros ligeiros”. Esta contratação, como já foi referido, compete à Força Aérea, que a garante por concurso público internacional. “Ainda não foi concretizada, uma vez que os concorrentes do procedimento inicial se recusaram a celebrar o contrato ou não reuniam as condições necessárias para a sua assinatura”, disse ao jornal fonte da ANEPC.O procedimento concursal já foi aberto, contudo, a 10 de julho, para cinco helicópteros em falta, tendo sido recebidas propostas válidas para duas aeronaves, “cujo início de operação está previsto” para a próxima sexta-feira, dia 1 de agosto..Fogo em Ponte de Lima com frente de seis quilómetros que ameaça habitações. Esperadas hoje máximas até 40º C.Incêndios: Mais de 160 operacionais e quatro meios aéreos dominam fogo em Alcanede

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