A presença de imigrantes numa determinada zona diminui a criminalidade, o que contraria as perceções da opinião pública, alertou esta quinta-feira, 25 de dezembro, a investigadora norte-americana e recém-vencedora do maior prémio mundial de criminologia Charis Kubrin.Em entrevista à Lusa, a criminóloga explicou que “todos os relatórios mostram que a criminalidade é sempre inferior entre os imigrantes em relação aos nativos”, pelo que, “numa análise contínua de dados”, o que a “imigração em massa para uma zona causa é a diminuição do crime”.O prémio Estocolmo 2026 foi atribuído à investigadora da universidade californiana de Irvine por uma meta-análise de dados que juntou todos os estudos feitos e dados recolhidos sobre a relação entre imigração e criminalidade, com conclusões claras que contradizem as perceções e os discursos mais populistas.A sua análise foi feita apenas nos Estados Unidos, mas Charis Kubrin acredita que os dados podem ser extrapolados para o caso europeu, salientando que a desigualdade ou a exclusão social contribui mais para a criminalidade do que a nacionalidade dos autores dos crimes.“O meu trabalho examina o modo como a criminalidade e imigração estão relacionados e tenho estudado este tópico ao longo dos últimos 25 anos”, mas a relação entre os dois temas “é estudada há quase um século, desde os anos 1930”.“O primeiro relatório é de 1931 e aqui vai um spoiler: já então se concluiu que não há relação entre mais imigrantes e mais crimes”, recordou a investigadora.Nos últimos 20 anos, verificou-se um “aumento sem precedentes na investigação deste tema e as conclusões são sempre as mesmas”, conforme a meta-análise feita que agora lhe deu o prémio Estocolmo, anunciado em novembro.“Revimos todos os estudos feitos sobre a relação entre criminalidade e imigração e de todos os tipos de crime. Com algumas exceções pontuais, a imigração e a criminalidade não seguem lago a lado”, explicou.Contudo, “há uma enorme diferença entre aquilo que as pessoas acreditam ou julgam perceber e os dados”, e é necessário que a ciência seja ouvida pelos políticos, mas também pela sociedade.“As pessoas sentem que estes são tempos sem precedentes”, mas os “EUA têm um grande histórico de culpar os imigrantes pelos problemas da sociedade, particularmente crime” e essa visão permanente acaba por “alimentar uma retórica que pressiona os políticos a acusarem os estrangeiros de esgotarem os recursos da sociedade”.Os EUA sempre tiveram problemas relacionados com o “nativismos, xenofobia e racismo” e, hoje, a questão racial é “mais evidente, porque a “maioria dos imigrantes tem a cor mais escura”.Por isso, o discurso anti-imigrante está mais relacionado com racismo ou xenofobia do que com uma efetiva preocupação com os problemas sociais.“Isto não tem nada de novo porque há sempre esse sentimento latente” contra o estrangeiro, que se quer “culpar pelos problemas da América”, como a “desigualdade ou criminalidade”.“É muito fácil acusar os imigrantes e criar a narrativa de que estes são os responsáveis dos problemas e capitalizar os suportes políticos para esse argumento”, uma estratégia em que os media são cúmplices.“Os media desempenham um grande papel nesse discurso e ampliam os preconceitos e propagam falsas narrativas, porque se um imigrante cometer um crime nos EUA isso será espalhado em todo o lado”, mas tal já “não acontece se for um nativo”.Por isso, é “necessário que a ciência entre no discurso público e ajude a definir políticas públicas”, considerou a investigadora de Irvine, que diz tentar fazer a sua parte nesse processo.“O que eu tento é tentar envolver-me com políticos e autores de políticas públicas”, procurando “parcerias com instituições e organizações que se preocupam com os factos enquanto desenham políticas para os imigrantes”, explicou.“É uma gota no oceano, mas é o que sinto que posso fazer neste contexto”, acrescentou ainda.Além de Charis Kubrin, o prémio Estocolmo foi atribuído a Mark Lipsey, pela sua investigação sobre o papel da reabilitação nos reclusos.