A equipa de obstetrícia do Hospital do Barreiro vai ser mobilizada, por despacho, para garantir as escalas na urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada, noticia esta sexta-feira, 19 de setembro, o jornal Expresso. Uma decisão que o bastonário da Ordem dos Médicos veio entretanto dizer ser "absolutamente lamentável".Segundo o Expresso, que cita fonte do gabinete da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a transferência forçada deverá ocorrer logo que o Governo avance com a concentração das urgências de obstetrícia na margem sul em Almada, tal como anunciou esta semana no parlamento. Na altura, Ana Paula Martins disse que para a concentração da urgência no Hospital Garcia de Orta, em Almada, com o apoio do Hospital de Setúbal (a receber casos enviados pelo INEM e pelo SNS 24), seriam necessárias sete equipas completas para o Hospital Garcia de Orta e três de prestação de serviço.Contudo, os sindicatos, ouvidos pelo Expresso, defendem que tal só será possível em regime de voluntariado ou relativamente aos médicos em dedicação plena, que são obrigados a garantir urgências que distem até 30 quilómetros do hospital a que pertencem.“O despacho só depende da assinatura da ministra e não exige negociação. Está já com os juristas”, explicaram ao Expresso os assessores de Ana Paula Martins..Em declarações à agência Lusa, Carlos Cortes considerou a decisão “absolutamente lamentável”, sublinhando que “a Ordem dos Médicos censura qualquer tipo de intervenção colocada, logo à partida, desta forma”.“Em primeiro lugar, temos de garantir sempre a segurança clínica”, que não deve ser imposta “por decreto”, mas com a tomada das opções técnicas mais adequadas.O bastonário defendeu que é necessária uma reorganização das urgências de ginecologia obstetrícia na península de Setúbal, que, segundo disse "tem tido uma "história de sucessivos falhanços", e avisou que “esta postura de querer fazer as coisas à força, obrigando, sem dialogar, sem falar, sem explicar os objetivos, sem explicar como é que as coisas vão ser feitas, sem ouvir também outras opções, outras possíveis soluções, pode levar a mais um falhanço”.O bastonário lembrou que já houve tentativas em todo o país de obrigar médicos a deslocarem-se para outros locais, “contra aquilo que é a razoabilidade técnica, a evidência técnica”, o que acabou com a saída dos médicos como aconteceu no Hospital Santa Maria, em Lisboa, de onde saíram sete obstetras.“Temos esta experiência em Portugal, por isso é que eu acho este anúncio lamentável. É de alguém que não conhece a realidade de Portugal”, vincou.“Tudo aquilo que é feito à força, posso-lhe garantir, não vai correr bem e nunca terá o apoio da Ordem dos Médicos”, declarou. Esta forma de transferir equipas já ocorreu no verão de 2023, no Hospital de Santa Maria, aquando do fecho da maternidade para obras e construção da nova unidade. Na altura, Ana Paula Martins estava na administração do Santa Maria.A mudança forçada de profissionais - para o Hospital São Francisco Xavier - foi justificada com a superior proteção da saúde pública, mas a situação não correu bem e, na altura, sete obstetras decidiram rescindir com o Serviço Nacional de Saúde.A junção de profissionais na urgência de São Francisco Xavier durou cerca de um mês.Em declarações ao Expresso, o ex-ministro da ministro da Saúde, Manuel Pizarro, chamou a atenção para as diferenças para com a concentração na margem sul: “Não foi fácil e alguns médicos nunca chegaram a sair do Santa Maria. Mas havia um motivo de força maior, o fecho da maternidade para obras, e por isso a urgência [estava impedida] de continuar a assegurar cuidados. E tinha um caráter temporário.”Mas já antes, em maio de 2023, o anterior Governo conseguiu a partilha de escalas de urgência em obstetrícia com elementos dos hospitais das Caldas e de Leiria, mas neste caso dispensou qualquer despacho pois a alteração ocorreu de forma voluntária.Os sindicatos garantem que, à exceção dos médicos em dedicação plena, não vai ser possível obrigar as equipas a mudarem de local de trabalho contra a sua vontade pois “os acordos coletivos protegem os médicos da deslocação do seu local de trabalho”, disse a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá.A dirigente sindical explica que a concentração dos cuidados “foi possível entre o Santa Maria e o São Francisco Xavier porque estão no mesmo concelho”.O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Nuno Rodrigues, não tem dúvidas de que a “mobilização dos médicos terá de ser em regime voluntário”.Diz que o sindicato apoia a ideia de uma urgência metropolitana, mas com quatro garantias: “A adesão voluntária, a existência de equipas completas e incentivos remuneratórios e não remuneratórios, porque se os médicos vão trabalhar mais também têm de descansar mais.”.Ministra confirma que urgência regional para Ginecologia-Obstetrícia na Península de Setúbal avança em breve.Médicos tarefeiros faltaram no Garcia de Orta e Península de Setúbal ficou sem urgências de Obstetrícia