A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) defendeu este sábado, 30 de agosto, que a reforma do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) é “um significativo ataque à escola pública” cujo objetivo final é “desmantelar o sistema público de ensino”.“Estamos perante um processo que consubstancia um significativo ataque à escola pública, realizado por uma direita política cuja pretensão é – e sempre foi – desmantelar o sistema público de ensino para poder redesenhar um conveniente sistema de ensino privado, devidamente suportado pelo erário público”, sustenta a Fenprof em comunicado.Alertando que este é “o início de um impiedoso retrocesso civilizacional”, a federação apela à concentração de esforços na "defesa intransigente do papel do Estado na realização das suas funções sociais” e na "concretização dos mecanismos que travam os quadros geradores de desigualdades”.“A educação não pode ser reduzida a um problema de gestão de recursos humanos e financeiros. As reformas estruturais no setor só podem ser construídas com diálogo efetivo com professores, estudantes, famílias e investigadores”, sustenta.Em causa está a reforma do MECI, aprovada em 31 de julho em Conselho de Ministros e entretanto promulgada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. .Marcelo promulga decreto que cria Agência para a Gestão do Sistema Educativo, com reservas sobre o fim da FCT. No âmbito desta reforma, o ministério - atualmente com 18 entidades e 27 dirigentes superiores entre os serviços do sistema educativo não superior e do ensino superior, ciência e inovação - passará a contar com apenas sete entidades e 27 dirigentes superiores, com a integração das entidades extintas em novas entidades.O sistema educativo não superior vai sofrer a maior redução: Das atuais oito entidades setoriais, que incluem três direções-gerais, passarão a existir duas grandes agências: o Instituto de Educação, Qualidade e Avaliação e a Agência para a Gestão do Sistema Educativo (AGSE).No comunicado deste sábado, a Fenprof reitera a sua “profunda preocupação” com as medidas anunciadas.Criticando, desde logo, “a anunciada redefinição do papel do MECI como mero regulador do funcionamento das escolas, através da delegação de responsabilidades de gestão a entidades locais e regionais", alerta também para "a chamada transformação digital do sistema educativo e a promoção do investimento público no ensino privado”.Relativamente à criação da AGSE, destaca que esta “superestrutura” terá “o estatuto de instituto público e um regime especial", que dota esta agência de "autonomia administrativa e financeira, com património próprio e integrada na administração indireta do Estado”.Ora, adverte, esta figura jurídica “diferencia-se da administração direta por permitir uma maior autonomia e flexibilização na execução das suas funções, que incluem a possibilidade de alienação de património”.Adicionalmente, a Fenprof alerta que a AGSE terá trabalhadores “que funcionarão com um sistema de incentivos por desempenho, atribuídos em função da melhoria do serviço prestado por esta entidade”, cujas principais competências serão a gestão de pessoal, aquisições, organização e funcionamento das escolas, validação das ofertas educativas e constituição de turmas, celebração de contratos de financiamento com o ensino privado, gestão da atribuição de cursos profissionais e de educação e formação a este subsistema e a gestão do sistema de formação contínua de professores, "entre muitas competências agora transferidas”..Fim da FCT. Universidades consideram nova agência "oportunidade ganha" se "aproximar inovação e conhecimento". Debaixo das críticas dos professores está também o “conjunto alargado de competências” atribuídas às comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR), no que diz ser um “processo de desresponsabilização do MECI”.Para a federação, o diploma de reforma do MECI formaliza um processo iniciado “há décadas” de “continuado desinvestimento nos serviços públicos e de desvalorização dos trabalhadores da Administração Pública”, colocando a educação “no balão de ensaio da aprovação desta legislação, para prosseguir este processo que o Governo espera concluído em todos os ministérios até final do primeiro semestre de 2026”.Ao mesmo tempo, a Fenprof lamenta que o processo tenha decorrido “sem envolver ou dialogar com os profissionais, sindicatos, estudantes, associações de pais ou investigadores", impondo "uma reorganização de cima para baixo, apressada, tecnocrática e com previsíveis impactos negativos para o futuro da escola pública e da educação em Portugal"..Nova Estratégia de Educação para a Cidadania publicada em Diário da República: o que mudou, afinal?