Dezoito anos depois, Mário Nogueira prepara-se para abandonar uma das mais longas e marcantes lideranças sindicais. A sucessão na liderança da Fenprof será oficializada durante o 15.º Congresso Nacional da estrutura que reúne alguns dos principais sindicatos de professores, nos próximos dias 16 e 17 de maio, em véspera das eleições legislativas, mas a Fenprof apresentará já esta quinta-feira, em conferência de imprensa, o nome que os seus órgãos dirigentes irão propor para suceder ao histórico secretário-geral, bem como os nomes propostos para o Conselho Nacional e Conselho de Jurisdição.Esta conferência será o primeiro passo formal para a transição de liderança na maior estrutura sindical de professores do país, num momento em que o setor enfrenta grandes desafios e exigências de renovação.Francisco Gonçalves, um dos coordenadores do Sindicato dos Professores do Norte (SPN) e secretário-geral adjunto da Fenprof, destaca o papel histórico de Mário Nogueira: “Foi uma figura marcante, um líder carismático nestes 18 anos que coincidiram com momentos muito altos da luta dos professores. Mas a Fenprof é um coletivo, e o Mário soube representar esse coletivo nas escolas, junto dos docentes, sempre presente e atento às suas insatisfações.”A liderança de Nogueira atravessou períodos particularmente críticos, desde os “ataques à carreira docente em 2005” até aos “protestos massivos” nos últimos anos. Gonçalves sublinha que, mesmo em momentos difíceis, foi a Fenprof que “conseguiu reunir unidade” no setor e manter o foco na defesa da escola pública. Mário Nogueira, reforça, foi o rosto deste tempo, “com momentos difíceis, com picos de luta muito significativos, que responderam àquelas que foram as solicitações da classe”. Renovar sem perder identidadeA sucessão, mais do que uma mudança de rosto, representa também um desafio de fundo, destaca Francisco Gonçalves: o rejuvenescimento da estrutura sindical, num contexto em que o corpo docente e sindical está envelhecido. “Temos de fazer uma transição geracional necessária. A nova direção terá de refletir isso, preparar o futuro e garantir que os professores de hoje sejam os dirigentes de amanhã”, reforça o sindicalista.Apesar das incertezas no setor a nível governativo, com novas eleições agendadas para o dia seguinte ao congresso eletivo da Fenprof, há confiança no caminho que está a ser traçado. As orientações estratégicas estão em debate e serão consolidadas no congresso, aponta o dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Norte. O objetivo é claro: “manter a força da Fenprof como espaço de unidade e ação, respeitando o legado e preparando uma nova geração de lideranças”.A Fenprof foi constituída em 1993, teve três secretários-gerais até ao momento “e todos eles tiveram um período com algum significado”, sublinha, certo de que “a federação vai saber encontrar “os rostos e os dirigentes certos para as lutas dos próximos tempos”.Diretores esperam novo estiloDo lado dos diretores escolares, há reconhecimento pelo papel combativo de Mário Nogueira, mas também apelos a um novo estilo de liderança. Filinto Lima, presidente da ANDAEP, espera que o novo ou nova secretário/a-geral da Fenprof traga “diálogo” e evite conflitos com as lideranças das escolas: “Reconheço o trabalho [de Mário Nogueira] em prol da defesa dos professores, mesmo quando foi duro com a Escola Pública. Respeito-o pela garra e determinação. Agora, o que espero do próximo secretário-geral é que priorize a melhoria das condições de trabalho dos docentes e a defesa efetiva da Escola Pública, mas com mais diálogo com os diretores.”A conferência de imprensa desta quinta-feira, às 11.00 no Fórum Lisboa, marca, assim, o início de uma nova etapa para a Fenprof, que, depois de quase duas décadas sob o mesmo comando, prepara-se para virar de página. Além do nome que será apresentado, outros poderão candidatar-se, mas tentou-se um “consenso alargado” em redor do nome apresentado, diz uma fonte ao DN. A sucessão será então formalizada durante o 15.º Congresso Nacional da Fenprof, agendado para os dias 16 e 17 de maio.