A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) anunciou esta sexta-feira uma greve à correção das provas-ensaio, que começam a 10 de fevereiro. A organização sindical acrescentará a atividade na lista das que já integram pré-avisos diários (greves ao sobretrabalho). O sindicato considera a utilização de uma “bolsa solidária de professores classificadores” uma “aberração” que “tudo tem de trabalho forçado”. “Quando se fala em respeito pelos professores, fala-se da carreira, das condições de trabalho, mas também se fala destes abusos a que os professores continuam sujeitos, face a uma tutela que não respeita o trabalho dos profissionais”, afirma a Fenprof. Num guião enviado às escolas esta semana, o MECI informou que a correção das provas será feita por uma “bolsa solidária de professores classificadores”, o que gerou insatisfação entre a maioria dos docentes.Também para a Missão Escola Pública (MEP – um movimento apartidário de professores) “esta medida parece ser mais um exemplo de como a classe docente continua a ser desvalorizada e desconsiderada”. “Além disso, o termo ‘solidária’" não só é infeliz e inadequado, como é provocatório. Os professores não são missionários; são profissionais que merecem ver o seu trabalho reconhecido e devidamente valorizado”, sublinha Cristina Mota, porta-voz da MEP. A responsável diz ainda lamentar tratar-se de um trabalho acrescido não remunerado que “vai decorrer durante o período letivo, aumentando ainda mais a carga de trabalho de quem já se encontra sobrecarregado, principalmente pela burocracia que tem tendência a crescer”. “Este ano, muitos professores estão a realizar horas extraordinárias cuja remuneração está longe de compensar o desgaste associado. Para agravar a situação, esta tarefa surge numa altura crítica, para muitos professores, coincidente com as avaliações internas e a preparação das avaliações de período, momentos que tradicionalmente já representam um enorme volume de trabalho”, sublinha.Para Cristina Mota, os professores classificadores deveriam ser “devidamente renumerados”, pois retirar, por exemplo, trabalho letivo aos docentes não poderia ser solução “dado o comprometimento das aprendizagens dos alunos”. “Seria injusto e imoral exigir isso dos professores que continuam sobrecarregados. Retirar professores das suas aulas prejudicaria os alunos, sobretudo num momento em que muitos ainda recuperam aprendizagens atrasadas”, sustenta.Professores não querem classificação das provas-ensaio com ponderação na nota internaA Missão Escola Pública manifesta-se também contra a “injustiça” de que os alunos poderão ser alvo caso as escolas optem por considerar a classificação das provas-ensaio na ponderação da nota de final de período, já que o MECI deu autonomia às escolas para decidir se o resultado será ou não tido em conta. “A eventualidade de as escolas optarem por utilizar as classificações das provas para fins de avaliação interna é falaciosa. Os professores não têm conhecimento prévio sobre os conteúdos da prova, nem sobre os domínios e competências que serão avaliados, o que torna impossível substituir um instrumento de avaliação interna cuidadosamente pensado e ajustado às aprendizagens e competências específicas que se espera que os alunos desenvolvam”, explica a porta-voz. Cristina Mota lembra ainda que nem todos os alunos estão a trabalhar os mesmos conteúdos, “o que torna ainda mais inadequado e injusto utilizar essas classificações como substituto de uma avaliação que deveria refletir o percurso individual de cada estudante”.