15 mortos e 23 feridos no descarrilamento do elevador da Glória. "Lisboa está de luto", diz Moedas
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15 mortos e 23 feridos no descarrilamento do elevador da Glória. "Lisboa está de luto", diz Moedas

Cinco feridos estão em estado grave. Marcelo espera que acidente seja "rapidamente esclarecido". Carris diz que última reparação foi em 2024. Governo declara luto nacional para esta quinta-feira.
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Há 15 mortos confirmados no descarrilamento do elevador da Glória, em Lisboa, que ocorreu às 18h05 desta quarta-feira, 3 de setembro, quando a composição, que descia do miradouro de São Pedro de Alcântara em direção aos Restauradores, ficou desgovernada e chocou com um prédio da rua da Glória.

Já foram retiradas todas as pessoas dos destroços, pelo que no balanço final, ainda registo para 23 feridos, dos quais cinco em estado grave, sendo que um deles é uma criança -- um número revisto ao início da madrugada por João Oliveira, diretor da Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa e Vale do Tejo, em declarações na SIC Notícias.

O Hospital de São José recebeu nove feridos, dos quais os cinco em estado grave, que foram encaminhados para a urgência geral polivalente deste hospital. Esta unidade recebeu uma criança de três anos ferida, que se encontra estável, mas por uma questão de precaução será transportada para o hospital D. Estefânia, acompanhada pelo pai, enquanto a mãe da criança, que se encontra grávida, foi admitida na urgência com ferimentos ligeiros e foi transferida para a Maternidade Alfredo da Costa.

Outros oito feridos, um deles em estado grave, bem como uma criança sinalizada como ferido ligeiro, foram encaminhados para o hospital de Santa Maria.

Três mulheres, uma delas em estado grave, foram conduzidas ao Hospital São Francisco Xavier, sendo que outros feridos foram direcionados para os hospitais Amadora-Sintra e Cascais.

O Governo decretou dia de luto nacional para esta quinta-feira, enquanto a Câmara de Lisboa decretou três dias de luto municipal pelas vítimas deste acidente.

O Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) ativou a equipa de desastres de massa em Lisboa, pretendendo ter realizadas as autópsias dos 15 mortos no acidente com o elevador da Glória até quinta-feira de manhã.

Com a ativação da equipa de desastres de massa foi decidido reforçar a equipa permanente da delegação Sul (Lisboa) com duas equipas, das delegações do Porto e de Coimbra, esta última incluindo elementos de Tomar.

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Até ao momento não se sabe qual a causa do descarrilamento, algo que de acordo com o porta-voz da Proteção Civil será alvo de uma investigação por parte da Polícia Judiciária, que já isolou o local até à conclusão dos trabalhos.

"Lisboa está de luto", disse Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que se deslocou ao local assim que soube do acidente. "É uma tragédia que nunca aconteceu na nossa cidade. O momento é de ação e ajudar. Agradeço a todos pela resposta em pouco minutos. A única coisa que posso dizer é que é um dia muito trágico", acrescentou, prometendo para mais tarde mais comentários sobre a situação "por respeito às famílias" das vítimas.

Mais tarde, o autarca mandou suspender as operações dos ascensores da Bica e do Lavra e do Funicular da Graça para os equipamentos serem inspecionados.

Carris diz que última reparação foi feita em 2024

Em comunicado, a Carris lamentou a existência de vítimas no descarrilamento e fez saber que abriu um inquérito para apurar as causas do acidente, garantindo estar "a acompanhar a situação”.

A Carris disse ainda que “foram realizados e respeitados todos os protocolos de manutenção” e que a última inspeção foi realizada no ano passado. De acordo com a empresa, a manutenção geral que ocorre a cada quatro anos, ocorreu em 2022 e a última reparação intercalar, que é concretizada de dois em dois anos, foi feita em 2024. “Têm sido escrupulosamente cumpridos os programas de manutenção mensal, semanal e a inspeção diária”, afirmou.

A empresa disse ainda que “abriu de imediato um inquérito em conjunto com as autoridades para apurar as reais causa deste acidente”.

Refira-se que esta será a segunda vez que o elevador da Glória descarrilou, de acordo com uma notícia do jornal Público do dia 17 de maio de 2018, registou-se um incidente a 7 de maio desse ano, mas dessa vez a composição apenas saiu dos carris e não tombou, pelo que não se registaram feridos.

Manutenção entregue a privados. Sindicato defende que volte à Carris

Entretanto, Manuel Leal, dirigente sindical da Fectrans e do STRUP, revelou que os trabalhadores da Carris têm apresentado queixas sucessivas sobre a necessidade de manutenção dos elevadores, incluindo o da Glória. O sindicato lembra que a manutenção está a cargo de uma empresa externa privada e defende que a manutenção deve voltar a ser responsabilidade da Carris.

"Os próprios trabalhadores iam reportando, de facto, estas diferenças em termos daquilo que a manutenção que há uns anos era feita pelos trabalhadores da Carris e as diferenças para a manutenção que é feita hoje, nomeadamente com queixas sucessivas dos trabalhadores que lá laboram quanto ao nível de tensão dos cabos de sustentação destes elevadores", adiantou à Lusa.

Na perspetiva de Manuel Leal, o descarrilamento do elevador da Glória, "lamentavelmente, [...] veio dar razão a estas queixas dos próprios trabalhadores e deve levar o Conselho de Administração, perante um inquérito rigoroso a estas causas, a reequacionar a entrega a privados desta manutenção", fazendo com que a manutenção volte à responsabilidade da qualidade com que os trabalhadores das oficinas da Carris têm sempre colocado na manutenção do material circulante.

Gabinete especializado a investigar estes acidentes só tem um investigador

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) vai abrir uma investigação ao descarrilamento do elevador da Glória, em Lisboa, que causou esta quarta-feira vítimas mortais e vários feridos, alguns com gravidade.

“O GPIAAF irá abrir uma investigação [ao acidente], mas devido à limitação de meios [humanos] na área ferroviária, apenas amanhã de manhã [quinta-feira] iniciará a recolha de evidências no local”, adiantou à agência Lusa fonte deste organismo público.

Fonte do setor ferroviário disse à Lusa que, desde agosto de 2023, que o GPIAAF apenas dispõe de um investigador para este setor.

Segundo a mesma fonte, desde março deste ano, que este organismo aguarda que o processo de admissão de um segundo investigador tenha autorização por parte do ministério das Finanças.

PR quer rápido esclarecimento. Governo promete averiguações em devido tempo

Numa nota publicada no site oficial da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou "profundamente o acidente" em particular "as vítimas mortais e os feridos graves, bem como os vários feridos ligeiros".

"O Presidente da República apresenta o seu pesar e solidariedade às Famílias afetadas por esta tragédia e espera que a ocorrência seja rapidamente esclarecida pelas entidades competentes", acrescenta a nota.

Em comunicado, o Governo ​e o primeiro-ministro Luís Montenegro lamentam "profundamente o acidente" e exprimiram a sua "profunda consternação e solidariedade às vítimas e suas famílias".

"O Governo está, desde os primeiros momentos, a acompanhar a situação e a resposta das diversas autoridades públicas de emergência médica, unidades de saúde, proteção civil, forças de segurança e transportes, a quem foram transmitidas orientações para prestação de todo o apoio necessário", adianta o Executivo, acrescentando que "o Governo está também em contacto permanente e articulação estreita com a Câmara Municipal".

Nesse sentido, o Governo diz que "a prioridade imediata" é "o socorro às vítimas", sublinhando que "as autoridades competentes realizarão no devido tempo as averiguações necessárias ao apuramento das causas deste lamentável acidente".

Entretanto, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes assegurou em comunicado que vai realizar "nos próximos dias" uma ação de supervisão ao descarrilamento do Elevador da Glória, pretendendo divulgar os resultados "com a maior celeridade possível".

O elevador da Glória liga a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto e é uma das principais atrações turísticas de Lisboa e transporta anualmente mais de três milhões de passageiros.

Foi inaugurado a 24 de outubro de 1885, depois de ter sido construído pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard. É constituído por dois carros, ligados por um cabo subterrâneo, que sobem e descem alternada e simultaneamente ao longo de duas vias de carris de ferro.

Em fevereiro de 2002 foi classificado como monumento nacional.

Com RSF

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Ascensor da Glória: viagem tipicamente lisboeta de uma guarda-freio

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