Liga a famosa Praça dos Restauradores ao emblemático Bairro Alto, mais propriamente ao Miradouro de São Pedro de Alcântara. Inaugurado a 24 de outubro de 1885, o Ascensor, ou como é conhecido, o Elevador da Glória, transporta milhares de residentes e turistas todos os dias. Ana Cristina Oliveira é uma das guarda-freios que conduz o elevador mais movimentado de Lisboa..Com 24 anos de experiência em veículos elétricos, apenas começou a conduzir o ascensor há cinco. "Conduzo todos os veículos de modo elétrico da empresa. Conduzo tanto o Ascensor da Glória como o da Bica, que é ainda mais bairrista. E conduzo os outros elétricos como o 8, o 12 e o 15", explicou ao DN durante uma das viagens..Se entre as 07.00 e as 10.00 horas o vagão se enche, sobretudo, de portugueses a caminho do trabalho, ao final da tarde são mais turistas que preenchem a histórica composição da Carris, principalmente na subida, já que o ascensor tem como destino um dos pontos turísticos mais concorridos da cidade, o Miradouro de São Pedro de Alcântara, que oferece uma espetacular vista panorâmica sobre Lisboa. O preço de uma viagem é 1,45 euros; duas são 3,70..Ainda assim, são muitos os rostos que se repetem diariamente nesta viagem e que se tornaram familiares para Ana Cristina. "É algo diário, tudo à mesma hora e porque estas pessoas vão para o trabalho ou para a escola. É mesmo algo mais familiar do que em relação aos outros elétricos", explica a guarda-freio ao DN..Ana Cristina recorda, com carinho, o dia em que um dos passageiros lhe trouxe um sumo fresco. Um gesto simples, mas que lhe ficou gravado na memória. "Aqui faz muito calor. Uma vez, num desses dias de verão, uma senhora saiu do ascensor e voltou mais tarde para me trazer um sumo fresco para refrescar. Foi assim um mimosinho.".Crianças todos os dias entusiasticamente pedem a Ana Cristina para tocar à campainha e perguntam sobre o "volante de metal", que é na realidade um travão manual do vagão. "Pensam sempre que é para guiar e eu costumo mostrar como funciona", conta..O ascensor mantém várias das suas características originais, como os bancos longitudinais, mas a forma como é movido foi evoluindo com a passagem do tempo. O modelo inicial elaborado pelo engenheiro português com origens francesas Raoul Mesnier du Ponsard funcionava com um sistema de contrapeso de água. Depois passou a ser movido a vapor e, a partir de 1914, foi eletrificado..As viagens noturnas e a iluminação dentro da cabine eram feitas com velas e o carro tinha dois andares. Em 2002, já centenário, foi classificado como Monumento Nacional..Apesar da atividade de várias mulheres na Carris e a conduzirem os ascensores, a presença de Ana Cristina ainda espanta alguns passageiros. "As pessoas ficam surpreendidas por ser uma mulher a conduzir e pensam que seja um pouco difícil. Mas não é, é tudo uma questão de prática. Nós temos uma formação", vai explicando, revelando também outra "missão" muito frequente no seu dia a dia. "Também me tiram muitas vezes fotografias, mas eu não me importo", salienta, acrescentando ainda que, apesar de não falar outra língua para além do português, consegue desenrascar-se nas conversas com os turistas com o básico que já sabe de francês, inglês e espanhol..Nos últimos cinco anos em que a guarda-freio Ana Cristina Oliveira trabalhou no ascensor, foi assistindo às mudanças na capital portuguesa. O número de turistas aumentou, assim como o trânsito que existe em Lisboa, mas a profissional da Carris não hesita em dizer que, assim, "Lisboa parece mais bonita". Depois de dois anos de pandemia, a movimentação no Ascensor da Glória já voltou a ser a mesma. A lotação atual do carro é de 42 pessoas em pé e sentadas, um limite que não pode ser excedido para deixar o elétrico subir. Só da parte da manhã a guarda-freio faz a viagem 40 vezes..Durante os cerca de 260 metros de trajeto, que se faz em cerca de cinco minutos, os passageiros podem também observar sete grandes painéis da Galeria de Arte Urbana, desenhados por sete artistas de diferentes nacionalidades e que tornam a paisagem mais enriquecedora: "Faz também com que as pessoas conheçam os autores e as suas obras. Fica uma paisagem mais bonita do que propriamente um muro danificado e pintado"..mariana.goncalves@dn.pt