Nos últimos meses tem sido referido por muitos, incluindo corporações de bombeiros, que o número de partos em ambulâncias está a aumentar. E, de facto, estão. Os números disponibilizados pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, no final da sua audiência desta quarta-feira, 17 de setembro, na Comissão Parlamentar, comprovam-no: 32 já este ano face a 28, em 2024, a 18 em 2023, e 25 em 2022. Mas se juntarmos a estes os nascimentos em via pública, na sua esmagadora maioria realizados por ou no INEM, até setembro deste ano, temos mais 18 (ao todo, 50), sendo que, em 2024, há que juntar mais 17, em 2023, mais 15 e, em 2022, mais 18. Ou seja, neste período de três anos e nove meses -- embora a ministra tenha salvaguardado que tais dados possam ter erros por serem fornecidos por várias fontes (bombeiros, INEM e hospitais) -- nasceram 103 bebés em ambulâncias e 58 na via pública. No entanto, registe-se que os dados disponibilizados pelos bombeiros relativamente só aos partos em ambulâncias são diferentes. Como o DN noticiou, até setembro já foram realizados 57, o último na passada segunda-feira, em Santarém, pela corporação de bombeiros do distrito que este ano já realizou 11, dois este mês. .Já nasceram 57 bebés em ambulâncias, mas urgência regional de Ginecologia-Obstetrícia na Margem Sul divide médicos. Os números têm levado a oposição política e até estruturas sindicais a responsabilizar o fecho de urgências pelo aumento dos nascimentos em ambulâncias, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, e uma ronda pelas situações noticiadas, nos últimos três meses, indica precisamente casos ocorridos no Seixal, Moita, Barreiro e Montijo, Vila Franca de Xira, Carregado, Santarém, Moura, no Alentejo, Aveiro, Coimbra, e Sourões, em Vila Nova de Foz Côa. Mas a ministra rejeitou essa ideia, contrapondo que “este ano houve menos urgências encerradas do que há um ano ou dois”, argumentando até que uma das suas grandes preocupações é “o aumento do número de partos em casa”, que “nunca são seguros”. Aliás, “alguns “só não tiveram desfechos fatais, porque os profissionais do INEM responderam” às situações.. Os dados transmitidos aos deputados indicam que, nos mesmos três anos e nove meses, realizaram-se em Portugal 513 partos no domicílio, sendo que este ano já foram contabilizados 103, em 2024 foram 144, em 2023, 140, e, em 2022, 126. Estes dados são uma preocupação mas, para Ana Paula Martins, nada têm a ver com o encerramento das urgências de Ginecologia-Obstetrícia nalgumas regiões, mas sim com uma “opção” e “tendência”. “O parto em casa nunca é seguro. É uma opção, (…) mas é preciso dizer que alguns (…), felizmente, não têm tido desfechos fatais porque o INEM chega a tempo, é acionada a SIV [ambulância] e faz o parto na ambulância. Senão, teríamos tido desfechos fatais”, disse a ministra no Parlamento.Ao DN, Caldas Afonso, o coordenador da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, a qual tem vindo a desenhar a reforma da rede de cuidados na área materno infantil, corrobora esta ideia, dizendo que “não tem nada a ver com as urgências fechadas”, mas sim com “uma tendência” retirada de outros países, nomeadamente da Holanda, onde é feito partos em caso há muitos anos, mas com outros meios, se necessário para colocar uma ambulância com suporte de vida à porta de casa, para transportar a mulher e o recém-nascido para o hospital, no caso de o parto apresentar riscos. Em Portugal, não é assim. A própria ministra assumiu ontem faltarem mais de metade dos especialistas necessários para assegurar toda a atividade na área da Ginecologia-Obstetrícia no SNS.Caldas Afonso reforça ainda a sua argumentação com o facto de cerca de “80% dos partos serem de baixo risco, mas nunca se sabe quando um parto pode tornar-se de risco. Há situações inesperadas que surgem e que precisam de cuidados que só podem ser prestados nos hospitais, tanto à mulher como ao recém-nascido”, considerando que esta tendência “é um claro retrocesso nos cuidados que já é possível disponibilizar nesta área”. .Ministra confirma que urgência regional para Ginecologia-Obstetrícia na Península de Setúbal avança em breve. Na audiência, a ministra destacou várias vezes a falta de recursos humanos no SNS, sobretudo na área materno-infantil, admitindo que os três hospitais da Península de Setúbal vivem uma situação “muito difícil”. Por isso mesmo, a solução encontrada é a da criação de uma urgência regional que irá concentrar os profissionais das três unidades no serviço do Hospital Garcia de Orta (HGO), por este ser o mais diferenciado, e para se manter uma urgência na região aberta 24 horas os sete dias por semana. A ministra não deu prazos, mas disse que será em breve, porque “não há mais tempo”. Segundo explicou, esta urgência será assegurada por sete equipas, dos quadros do SNS e três de prestadores de serviço. No entanto, esclareceu, e apesar do reforço de profissionais no HGO, a urgência de Setúbal irá manter-se sempre a funcionar, “nem que seja como referência ao CODU”.O Hospital do Barreiro mantém o serviço de Ginecologia-Obstetrícia a funcionar, até para dar cuidados de retaguarda às suas parturientes, mas sem urgência. Ana Paula Martins disse que esta solução foi concertada com os conselhos de administração e Direção Executiva - depois do último episódio de encerramento simultâneo das três urgências no sábado no passado - e que está já a ser preparada uma portaria com a vita à atribuição de incentivos remuneratórios às equipas que tenham de se deslocar do Barreiro e de Setúbal para Almada. A ministra anunciou ainda que o Centro Materno Infantil para a Margem Sul também avançará, mas levará mais tempo. O lançamento do concurso será no início de 2026 para a concretização de obras e que estas deverão levar pelo menos dois a três anos. Recorde-se que a ministra da Saúde foi ouvida ontem na Comissão Parlamentar no âmbito de requerimentos apresentados ainda em junho pelos partidos da oposição, IL, Chega, PS e PCP, para responder a ainda a dúvidas existentes sobre a produção adicional no serviço de dermatologia do Hospital Santa Maria e sobre a situação no INEM.