A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, vai estar esta quarta-feira, dia 17, a partir das 09:00 na Comissão Parlamentar da Saúde, a pedido de vários partidos da oposição, IL, Chega, PS e PCP, para responder aos deputados sobre produção adicional no Serviço de Dermatologia da Unidade Local de Saúde Santa Maria, sobre o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e sobre os constrangimentos e encerramentos nos Serviços de Urgência de Obstetrícia e Ginecologia. Este último tema aqueceu os últimos dias o setor da Saúde, devido a mais um encerramento em simultâneo das três urgências da Península de Setúbal, depois de a ministra ter assumido politicamente que tal não voltaria a acontecer a partir de 1 de setembro. E o assunto foi abordado no seu discurso durante a cerimónia que assinalou os 46 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na Maternidade Alfredo da Costa, na segunda-feira, elogiando os profissionais e as administrações que cumprem, criticando quem não o faz. Fontes do setor comentaram ao DN que tais afirmações se dirigiam, sobretudo aos Conselhos de Administração dos hospitais da Margem Sul (Almada, Barreiro e Setúbal) e, a verdade, é que ao final da tarde já tinha convocado os mesmos para discutirem a situação que diz ser “insustentável”. . E, segundo apurou o DN, tudo aponta para que a solução encontrada seja a criação de uma urgência regional na área da Ginecologia-Obstetrícia para a região. Ou seja, a concentração de recursos dos três hospitais num só, neste caso, no Garcia de Orta, por ser “o mais diferenciado nesta área”, explicaram-nos. No entanto, a solução, que pode ser anunciada já esta quarta-feira pela ministra em Comissão Parlamentar da Saúde, continua a dividir a classe médica. Para a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), a confirmar-se “é uma solução de recurso e não estrutural”, e que vai “afastar os cuidados de proximidade das utentes”. Para o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) “é a única solução a curto prazo”. Mas tanto um como outro, dizem estar disponíveis para discutir soluções com a tutela. “Uma urgência regional não é idêntica à Metropolitana que existe no Porto”Se a solução para a Margem Sul for uma urgência regional, a presidente da Fnam diz que, “mais do que penalizar os médicos, vai penalizar as utentes, porque isto é dizer às utentes que vão deixar de ter, de forma permanente, cuidados de proximidade, sobretudo às que vivem nos concelhos do Barreiro e de Setúbal”. Portanto, acrescenta, “certamente, que vamos continuar a ter bebés a nascerem nas autoestradas e em maternidades improvisadas, ambulâncias”. Joana Bordalo e Sá sustenta a sua posição ainda com o facto de esta região ser extensa geograficamente, com muitos quilómetros entre os concelhos, e ter uma população carenciada dependente sobretudo dos cuidados do SNS. Ou seja, “uma urgência regional não pode ser a solução, porque não é uma solução igual para todos os utentes do país”, afirma. E explica: “Tem-se tentado fazer crer que uma urgência regional é idêntica à urgência metropolitana do Porto, mas não é. Uma coisa é a urgência metropolitana do Porto que divide hospitais ou concelhos que estão a 8 ou a 10 quilómetros, no máximo, de distância, como Vila Nova de Gaia, dos hospitais São João ou Santo António, onde estão concentradas urgências de oftalmologia, otorrino, gastroenterologia".Na opinião da médica, "aqui não há grande prejuízo para o utente, porque em dez ou 15 minutos tem acesso a cuidados na urgência. Mas não é disto que estamos a falar em relação à criação da urgência regional de Ginecologia-Obstetríciana Margem Sul, porque os hospitais de Setúbal e do Barreiro, bem como as suas utentes, estão a uma distância de 36 a 27 quilómetros de Almada, no mínimo”. . A dirigente sindical sublinha ainda: “Há uma grande diferença. E, portanto, esta solução não tem a ver com o agradar aos médicos ou não, ou se os médicos destes hospitais aceitam ou não fazer urgência no Garcia de Orta. Tem a ver, sobretudo, com o acesso das utentes aos cuidados.” Por isso mesmo, defende, que “a solução deveria estar a ser negociada com quem, de facto, a tutela deveria negociar, nomeadamente com a Fnam, de forma afincada, séria e estrutural para se dar mais condições aos médicos e estes regressarem ao SNS. Esta deveria ser a prioridade”. Até porque, explica a sindicalista, “os médicos com contratos de função pública podem recusar fazê-lo, os que têm Dedicação Plena, eventualmente, poderão ser deslocados para uma urgência metropolitana”. No entanto, reforça Joana Bordalo e Sá: “Qualquer solução de recurso vai manter o SNS como está, depauperado de médicos”, destacando que a Fnam se mantém disponível para negociar, mas que até hoje “não nos chegou qualquer diploma sobre este tema para analisarmos e discutirmos”..Ministra da Saúde diz que Garcia de Orta vai ter resposta de obstetrícia 24 horas por dia a partir de setembro. Os encerramentos simultâneos das urgências de Ginecologia-Obstetrícia da Margem Sul marcaram este verão, a tal ponto que a ministra prometeu que a situação mudaria em setembro e a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) Almada-Seixal, que integra o Garcia de Orta, anunciou até que seriam contratados mais sete médicos para assegurar as urgências 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Mas, muitos dos que tinham sido convidados acabaram por declinar o convite, “precisamente pela carga horária nas urgências, segundo explicaram alguns ao DN na altura. Na primeira semana, a urgência não fechou porque os médicos do quadro fizeram turnos de 24 horas quase dia sim dia não, mas na segunda, dizem, “já não dava para aguentar o mesmo ritmo”. E, nas noites de quinta e sexta-feira, 11 e 12 de setembro, a urgência já teve de ficar aberta só para emergências do CODU e, no sábado, fechou mesmo porque os médicos prestadores de serviços escalados não compareceram. Ao DN, Joana Bordalo e Sá diz não estar por dentro do que aconteceu, mas uma coisa é certa: “Ninguém aguenta fazer turnos de 24 horas três vezes por semana. A responsabilidade não é dos médicos é do Governo de Luís Montenegro, porque se os médicos dos quadros hospitalares fossem suficientes não era preciso estar-se na dependência dos prestadores de serviço. O caminho é este, o de ter quadros completos, mas para isso são precisas alterações estruturais”. . “A curto prazo urgência regional é a única solução”Para o secretário-geral do SIM, Nuno Rodrigues, a criação de uma urgência regional na área da Ginecologia-Obstetrícia na Margem Sul parece ser um mal menor. Ao DN, assume mesmo que “a curto prazo é a única solução”. Ou seja, “perante o número de elementos que neste momento estão a ser disponibilizados para cada um dos serviços é a única solução de forma a evitar que as grávidas continuem a ter bebés em ambulâncias”, mas a longo prazo, defende também, “o objetivo traçado deve ser aumentar a formação médica, quer em ginecologia-obstetrícia, mas também em anestesiologia, pediatria e neonatologia, porque, às vezes, uma maternidade encerra por não haver especialistas destas áreas”. Mas não só. Nuno Rodrigues argumenta que para atrair mais médicos ao SNS “é preciso acabar com a desigualdade que existe neste momento em termos de carga fiscal sobre o trabalho médico”, quer este seja realizado por um médico do quadro ou por um tarefeiro. Por exemplo, “as horas extras que são feitas por médicos dos quadros são taxadas a 40%, as horas feitas por um médico tarefeiro são a 1%. Tudo isto cria disparidades, que se não forem resolvidas não conseguiremos ter equipas estáveis no SNS”. O dirigente do SIM reforça a necessidade de políticas de incentivos para atrair colegas destas áreas, as quais podem não ser remuneratórias, mas dias de férias. O importante, a longo prazo, é que “seja encontrado um modelo que seja estável e para vários anos, não um modelo que seja aberto só para resolver a situação num ano”. Bombeiros de Santarém ajudam a nascer 57.º bebé numa ambulânciaEste ano, e de acordo com a contabilidade feita pelos próprios bombeiros, já nasceram 57 bebés em ambulâncias. O último foi na madrugada de segunda-feira, 15 de setembro, dia em que se assinalou os 46 anos do SNS, a caminho de Santarém, no Bairro do Girão, freguesia da Portela das Padeiras, com a ajuda dos Bombeiros de Santarém, que, este mês, já é o segundo parto que realizam, sendo o 11.º este ano. Mas, em setembro, as corporações de Rio Maior, Salvaterra de Magos e Aveiro também já realizaram partos em ambulância. No entanto, uma boa parte destas situações foram vividas por grávidas e corporações da Margem Sul de Lisboa, duas acabaram por ter um desfecho fatal, embora o diretor executivo do SNS, Álvaro Almeida, já tenha vindo esclarecer que nada foi apurado quanto a qualquer relação direta entre a morte dos bebés e a deslocação das mães para outras unidades - ambas saíram da Margem Sul em dias de julho para serem deslocadas até ao Hospital de Cascais, onde tiveram vaga para internamento. Nesta altura do ano, o número de partos realizados em ambulâncias já ultrapassou o total dos realizados em 2024 (50 até dezembro), segundo refere uma notícia do jornal Expresso, sendo que 42 tinham ocorrido até ao final do mês de agosto. Este ano, até julho tinham sido 46, agora já há 57 bebés nascidos em ambulâncias, e não se sabe quantos mais poderão nascer. Após discurso de ministra, haverá demissões?“Foi muito penalizador para mim ter assumido politicamente uma solução que me foi garantida e vê-la desfeita sem sequer perceber porquê”. A declaração é de Ana Paula Martins e foi proferida durante a cerimónia que assinalou os 46 anos do SNS. Mas bastou isto para que fontes do setor a interpretassem como tendo sido dirigida ao presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde Almada-Seixal (ULSAS), nomeado por ela para o cargo, em fevereiro deste ano, havendo até quem projete a sua demissão, ou por vontade própria ou por decisão da ministra. A frase de Ana Paula Martins visava o encerramento da urgência de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital Garcia de Orta no sábado depois de ter prometido que não voltaria a acontecer após setembro, e depois de lhe ter sido garantido e anunciado pelo CA que seriam contratados mais sete médicos para assegurarem a urgência - a de 1 de setembro havia um médico contratado, que foi para o cargo de diretor de serviço. Dias depois, foram contratados mais três médicos que, segundo garantiram ao DN fontes hospitalares, já faziam trabalho de prestadores de serviço naquela urgência, o que significa que, “afinal, e, na prática, não há novos médicos, há quatro que já faziam serviço na urgência”. O DN questionou o hospital sobre o presidente do CA teria colocado o lugar à disposição depois do episódio de sábado, mas a resposta foi remetida para as palavras do Diretor Executivo, após a reunião ao final de segunda no ministério com todos os CA da Margem Sul. “Tivemos uma reunião de trabalho e demos à senhora ministra os elementos necessários para que ela possa tomar decisões e ela depois anunciará as decisões que entender tomar”, afirmou Álvaro Almeida recusando comentar eventuais demissões. Ao gabinete da ministra foi perguntado se haveria demissões, mas não obtivemos resposta até ao fecho desta edição.