“A principal diferença em relação a outras ocasiões foi que a linha que deu origem à trovoada estava muito bem organizada e era muito extensa", destaca a meteorologista Paula Leitão
“A principal diferença em relação a outras ocasiões foi que a linha que deu origem à trovoada estava muito bem organizada e era muito extensa", destaca a meteorologista Paula LeitãoOMM [a imagem não é relativa às trovoadas observadas em Portugal]

"Como a temperatura é mais elevada, há mais energia disponível e existirão mais condições para que as tempestades sejam violentas"

Meteorologista do IPMA explica ao DN que a intensidade das trovoadas observadas na madrugada desta quarta-feira não é comum no país, mas sublinha que alterações climáticas podem criar condições mais propícias a este fenómenos.
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As trovoadas da madrugada surpreenderam Portugal pela sua intensidade e duração. Foram registadas mais de 47 mil descargas elétricas em 24 horas, com maior incidência durante a madrugada, deixando milhares de consumidores sem eletricidade pelo país.

Este cenário, considerado incomum pelos meteorologistas, poderá vir a tornar-se mais frequente devido às alterações climáticas. “Os cenários apontam que, com as alterações climáticas, vai haver mais energia disponível. Como a temperatura é mais elevada, há mais energia disponível e existirão mais condições para que as tempestades sejam violentas”, explica ao Diário de Notícias a meteorologista Paula Leitão, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Segundo a profissional, o outono é a época do ano mais propícia a este tipo de fenómeno. “É a altura em que a água do mar está mais quente, a atmosfera ainda está quente e acumula a energia durante todo o verão. Há muita água disponível na atmosfera, porque foi evaporando do mar ao longo do verão”, explica.

Essa combinação pode dar origem a mais trovoadas e precipitação.
“Temos uma massa de ar muito húmida e quente, com alguma instabilidade já próxima do outono. Isso transforma-se em tempestades mais violentas, que dão origem a muita precipitação e trovoada”, acrescenta.

Contudo, a intensidade observada na última madrugada não é comum no país. “São situações que não são muito frequentes”, sublinha. Nesta ocasião, os raios apresentaram-se de forma organizada, de acordo com a meteorologista. “A principal diferença em relação a outras ocasiões foi que a linha que deu origem à trovoada estava muito bem organizada e era muito extensa, tendo varrido quase todo o território durante a madrugada e o início da manhã”, destaca.

Atualmente, essa "linha" já se encontra na vizinha Espanha. “Já não nos afeta mais. No entanto, continuam a existir condições para aguaceiros e trovoadas, agora mais dispersos e ocasionais, que deverão persistir na região do litoral Norte e Centro até ao início de amanhã”, antecipa.

Precauções

Em Portugal, não existem estatísticas oficiais sobre o número de pessoas atingidas por raios, mas trata-se de um perigo real. “As descargas elétricas podem ser fatais. Se caírem muito perto de uma pessoa, podem causar a morte. Em Portugal é muito raro que isso aconteça — são situações extraordinárias e há muito poucas ocorrências desse género”, refere.

Durante uma trovoada, é importante adotar alguns cuidados.
“Se a pessoa estiver na rua, não deve ficar debaixo de árvores, especialmente se forem isoladas, pois também atraem descargas elétricas”, aconselha. Deve igualmente manter-se afastado da água, como rios ou o mar, uma vez que “a água também conduz eletricidade e não se deve permanecer em zonas molhadas”.

Dentro de casa, é necessário ter cuidado com os aparelhos elétricos.
“Quando a trovoada é muito forte, recomenda-se permanecer em casa e desligar os aparelhos elétricos, porque as descargas podem danificá-los”, alerta.

E o frio?

Neste outono, marcado pela chuva desta semana, as temperaturas ainda não desceram significativamente, pelo menos na região de Lisboa.
“Para já, ainda estamos sob a influência de massas de ar quentes, devido à energia acumulada ao longo do verão e à temperatura do mar, que continua bastante elevada”, sublinha a meteorologista do IPMA.

Uma descida de temperatura consistente ainda não está prevista.
“Agora, gradualmente, com os dias a tornarem-se cada vez mais curtos, começaremos a ser afetados por massas de ar mais frio, mas para já ainda não temos uma descida consistente da temperatura”, analisa.

A exceção é a Serra da Estrela, o ponto mais alto de Portugal Continental.
“Amanhã já se prevê uma descida da temperatura, e estamos à espera de neve na Serra da Estrela”, antecipa.

O frio começa também a fazer-se sentir noutras zonas, mas de forma intermitente. “Há tendência para algumas descidas de temperatura, mas ainda com grandes oscilações — desce, depois volta a subir, e volta a descer. Será uma descida gradual ao longo das próximas semanas”, conclui.

amanda.lima@dn.pt

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