A vítima é um adolescente que foi esfaqueado na casa onde vivia com a mãe, também britânica.
A vítima é um adolescente que foi esfaqueado na casa onde vivia com a mãe, também britânica.Foto: DR

Assassinato de menino de 13 anos no contexto de violência doméstica comove Portugal e Inglaterra

A Polícia Judiciária está a investigar o caso. Adolescente de 13 anos morreu esfaqueado. A mãe sobreviveu.
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É notícia em toda a Inglaterra que um menino britânico de 13 anos foi assassinado em Portugal no contexto de violência doméstica. Vários sites repercutem o caso, ocorrido em Tomar, na manhã de terça-feira, 23 de dezembro. A vítima é um adolescente que foi esfaqueado na casa onde vivia com a mãe, também britânica.

O suspeito do crime é um cidadão português, ex-namorado da mulher, que faleceu no local, num aparente suicídio. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), quando as autoridades chegaram à casa havia um forte odor a gás, que resultou, instantes depois, numa explosão. A suspeita é que o agressor tenha provocado o sinistro, que deixou um agente da Guarda Nacional Republicana (GNR) ferido.

Ainda segundo a PJ, que investiga os crimes, a mãe da criança conseguiu fugir e pedir socorro. A vítima foi "encontrada pelas autoridades com sinais de ter sido manietada e agredida, tendo sido entretanto encaminhada para a unidade hospitalar mais próxima".

A Judiciária refere ainda que o suspeito já tinha cumprido pena por homicídio. "O suposto agressor tinha já cumprido pena de prisão por homicídio qualificado". Ao mesmo tempo, a família estava "sinalizada" como vítima de violência doméstica. "A família estava sinalizada na sequência de processos de violência doméstica registados em 2022 e 2023".

O caso comoveu o país e também a Inglaterra, com centenas de mensagens de condolências. A morte da criança e a agressão à mãe acrescentam mais uma situação de violência doméstica em Portugal.

A equipa de basquetebol onde o adolescente jogava partilhou no Facebook uma mensagem de luto. "Hoje o SCOCS BASQUETEBOL ficou mais pobre!!! O nosso atleta Alfie faleceu hoje aos 13 anos. Fez o seu último jogo no sábado, jogou tão bem, parecia que ele sabia que era o último jogo dele, mas longe de imaginar... Queremos dizer-te o quanto te amamos e que vais continuar sempre nos nossos corações! Descansa em paz!", lê-se na publicação, acompanhada de uma fotografia do menino e do símbolo de luto.

"Destruir emocionalmente a vítima"

O psicólogo António Castanho, especialista em violência de género, analisou que este é um caso extremo. "Não é um drama familiar, nem um ato impulsivo: é a forma mais extrema de dizer à vítima adulta 'se não és minha, destruo aquilo que mais amas'", afirmou numa reflexão partilhada no LinkedIn.

De acordo com o especialista, vencedor do Prémio Luta Contra a Violência, o homicídio de crianças pode ser visto como vingança por parte do agressor. "Muitos homicídios de crianças em contexto de violência doméstica acontecem como extensão da violência contra a mãe, em momentos de separação, conflito de guarda ou vingança".

Há estudos que apontam este risco acrescido, sendo as crianças um alvo para "destruir emocionalmente a vítima" nestes casos. "Há um dado especialmente perturbador: as crianças que não são filhas biológicas do agressor (padrastos, ex-companheiros da mãe, novos parceiros) surgem em vários estudos como estando em maior risco de serem mortas em incidentes de violência de parceiro íntimo. São crianças que, aparentemente, não eram o alvo do agressor, mas que se tornam o seu meio mais eficaz de destruir emocionalmente a vítima".

O especialista defende que a proteção deve abranger toda a família. "A morte de uma criança nestas circunstâncias não é uma fatalidade nem um acidente trágico e imprevisível. É, muitas vezes, o resultado de um histórico conhecido de violência e controlo coercivo que não foi interrompido a tempo, de sinais ignorados, de risco subavaliado. Proteger verdadeiramente as vítimas de violência doméstica exige olhar sempre para o risco sobre os filhos, especialmente sobre aqueles que o agressor insiste em dizer que nunca lhes faria mal".

amanda.lima@dn.pt

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