Apesar da tempestade, há uma tendência "de menor precipitação no sul da Europa e na região do Mediterrâneo"
“Houve um período em que essas tais depressões andavam pelas latitudes mais elevadas e ainda não vinham descarregar a água aqui na Península Ibérica”, lembra ao DN o geofísico Filipe Duarte Santos, acrescentando que este ano tem sido “muito húmido”. O professor catedrático referia-se à deslocação para sul do Anticiclone dos Açores – um centro de ação de alta pressão atmosférica –, que, tendo em conta esta mudança de posição, já não está a servir de bloqueio às depressõe que vêm do norte.
Apesar dos avanços tecnológicos, “não há capacidade de saber como será o próximo ano”, completa o catedrático.
“Aquilo que temos é uma tendência, provocada pelas alterações climáticas, de menor precipitação no sul da Europa”, diz o professor, assegurando que esta tendência, indicada pelos modelos, “tem-se observado desde a década de 60, sobretudo quando se faz a precipitação anual média por década”.
Ainda que nada garanta que haja chuva intensa nos anos vindouros, Filipe Duarte Santos aponta uma certeza: “Os eventos extremos estão a tornar-se mais frequentes e mais intensos.”
“Enquanto continuarmos a lançar para a atmosfera grandes quantidades de gases com efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono, mas também o metano, isso provoca ou aumenta a temperatura média global da atmosfera”, explica, dando como exemplo de alterações climáticas as chuvas em Valência, Espanha, em novembro de 2024, quando “em 24 horas choveu mais do que chove, em média, durante o ano todo”.
Questionado sobre as consequências daquele evento, com centenas de mortos, e sobre a reação das populações, o professor afirmou que “houve avisos” por parte das autoridades, como o equivalente ao IPMA em Espanha, “mas aparentemente as pessoas não ligaram”.
“É necessário, quando se fazem estes avisos, que as populações acreditem”, alerta o professor.