Deslocação para sul do Anticiclone dos Açores na origem do temporal que deixou rasto de destruição em Portugal
"Agora, durante a tarde [desta quinta-feira], já estão a aproximar-se umas linhas de instabilidade e, portanto, vamos ter um agravamento do estado do tempo nas regiões centro e sul", explicou ao DN a meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) Alexandra Fonseca, advertindo que, para esta sexta-feira, as regiões que serão mais afetadas serão as do norte e centro, também num regime de aguaceiros". O mau tempo deverá manter-se até sábado.
De acordo com a meteorologista, as milhares de ocorrências da madrugada desta quinta-feira são consequência da depressão Martinho, que, por sua vez, é consequência da deslocação para sul do Anticiclone dos Açores.
Resumidamente, continua Alexandra Fonseca, este sistema de alta pressão (o Anticiclone dos Açores) está numa posição "mais a sul do que o habitual – que é nos Açores, por isso o nome que se lhe dá – o que permite que depressões que habitualmente se formam no Atlântico Norte façam o seu trajeto um pouco mais a sul e influenciem o estado do tempo na Península Ibérica ou em Portugal Continental".
Por agora, é previsível que "estes aguaceiros sejam fortes, podendo ser de granizo, acompanhados de trovoada", detalha a meteorologista, acrescentando que estas condições já são observáveis.
No que diz respeito à depressão Martinho, Alexandra Fonseca assegura que se está a afastar e já está a perder intensidade, "no entanto, haverá dois períodos com alguma cautela: hoje [esta quinta-feira] à tarde e durante o dia de amanhã [sexta-feira], até sábado de manhã".
"Serão períodos de vigilância", garante.
Questionada sobre se é expectável que mais depressões como a Martinho ocorram em Portugal, a meteorologista explica que "isto são sistemas dinâmicos e, portanto, depressões estão sempre a formar-se, tal como os anticiclones também existem sempre e fazem o seu trajeto natural".
Deste modo, durante as próxima semanas, "pode ainda haver esta formação de depressões mais a sul do que é o habitual". "Tudo depende da posição do anticiclone [dos Açores] nas próximas semanas. Se continua na posição em que se encontra neste momento ou se faz o seu trajeto um bocadinho mais para o norte", referiu.
Neste último cenário, se o Anticiclone dos Açores se deslocar mais para norte, "então aí fará um bloqueio a estas depressões".
Apesar de todas as previsões, o aviso da meteorologista passa também por notar que "a Primavera é sempre uma altura do ano em que, à a mínima mudança destes sistemas atmosféricos, há uma mudança muito grande" no tempo.
Sobre a possibilidade deste estado do tempo estar associado a alterações climáticas, Alexandra Fonseca defende que é sempre "possível falar de alterações climáticas, até porque cientificamente está provado que elas estão a acontecer".
"Todos nos lembramos de que já existiram invernos destes, tão rigorosos e com estas tempestades tão intensas. O que é que nós sabemos das alterações climáticas? Não é uma questão de haver mais em frequência, mas a sua intensidade ser maior. E consequentemente também os estragos e as consequências serem maiores. Portanto, podemos sempre falar disso. Não podemos falar de um evento isolado, mas de situações que poderão acontecer com mais frequência a nível da sua intensidade, da sua destruição", avisa.