A morte de três cães, eletrocutados perto de postes de iluminação pública, em Lisboa e Odivelas, num intervalo de dois dias, continua a gerar inquietação e pedidos de explicações. No caso da capital, depois das perícias técnicas e das notas oficiais da Câmara Municipal de Lisboa e da E-Redes ao DN, começam agora a surgir reações políticas, com os partidos a exigir esclarecimentos urgentes e medidas de prevenção. A vereadora socialista, candidata à presidência da câmara Municipal nas autárquicas de 14 de outubro, sublinha que o caso demonstra falhas inaceitáveis num serviço essencial. Considera o caso “grave” e afirma que a manutenção da iluminação pública é uma responsabilidade central da autarquia, exigindo transparência e respostas imediatas do executivo municipal. “É fundamental esclarecer este incidente. A segurança no espaço público, incluindo a manutenção da iluminação, é uma responsabilidade central da Câmara Municipal de Lisboa e um requisito para proteger quem circula na cidade, pessoas e animais.” A socialista defende que o apuramento das causas tem de ser “rigoroso” e acompanhado de ações imediatas: “É importante apurar as causas com rigor e tomar medidas que previnam novas ocorrências. Os vereadores do PS vão procurar obter respostas junto do executivo municipal — mesmo com o regimento agora aprovado, que diminui o escrutínio democrático — pelo direito a informação transparente e a um espaço público seguro.” Também o Partido Comunista Português reagiu, classificando a situação como “grave” e exigindo esclarecimentos formais ao presidente da Câmara. “O PCP tomou conhecimento desta situação, que consideramos grave. Iremos a partir de agora proceder às necessárias diligências, nomeadamente através do questionamento imediato do presidente da CML, tendo em vista um cabal apuramento do sucedido e das responsabilidades envolvidas, assim como do risco de ocorrência de outras situações similares.” Do Livre recebemos a seguinte nota: “O Gabinete do Vereador do LIVRE na CML vai pedir esclarecimentos urgentes e ação imediata ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, para apurar as causas que terão estado na origem deste grave incidente. O LIVRE quer conhecer também as medidas de prevenção e de manutenção que estão a ser adotadas, para evitar que a situação se repita e para que a população se possa sentir segura. Para o LIVRE, este tipo de ocorrências não é admissível - Lisboa tem de garantir condições de circulação em segurança no espaço público para pessoas e animais". Ao DN, a vereadora Carolina Serrão, do Bloco de Esquerda defende a necessidade de “uma investigação”, “mais ainda porque a CML tem responsabilidade acrescida, pois, a confirmar-se, representa um perigo muito significativo para animais, mas também para as pessoas, mais ainda para crianças”. Segundo a bloquista, o partido “vai enviar requerimento formal a Carlos Moedas sobre a situação”. As reações políticas surgem após a divulgação do relatório dos Sapadores Bombeiros, que confirmou a presença de 117 volts no solo junto ao poste de iluminação onde um dos cães morreu no Parque das Nações. Especialistas alertam que a mesma descarga poderia ter atingido uma criança ou um adulto. Com os partidos a acompanhar de perto o desenrolar do caso, cresce a pressão para que sejam apurados responsabilidades, reforçadas inspeções e garantido que o espaço público é seguro para todos — incluindo aqueles que nele passeiam diariamente. O que falta explicar A Câmara Municipal de Lisboa afirma não ter registo de situações semelhantes, mas ainda não esclareceu se existem denúncias anteriores de tensões de contacto no espaço público. O DN explica-lhe tudo o que falta saber.- Onde ocorreu a falha - se a montante ou jusante do equipamento-, de maneira a determinar a quem pertence a responsabilidade - edilidade ou E-redes e o que provocou o acidente? O relatório dos bombeiros aponta para “corrente elétrica no chão, possivelmente por um cabo em más condições no subsolo”, ou foi falha no equipamento. -Como está a ser feita a inspeção? A autarquia afirma estar a realizar uma perícia conjunta com a E-Redes, mas não divulgou prazos, metodologia ou se será feita uma avaliação alargada a outros pontos de iluminação na cidade. -Qual a periodicidade das manutenções? Há quanto tempo ocorreu a última realizada aos postes de iluminação pública? Não foi ainda comunicado quando foi a última inspeção ao poste envolvido, nem qual o intervalo real entre manutenções preventivas. -A câmara está em condições de tranquilizar os lisboetas e garantir que não existem riscos semelhantes noutros locais? Especialistas alertam que tensões de contacto podem não ser detetáveis sem medição. Falta saber se a CML planeia uma verificação adicional a zonas com pavimento molhado, obras ou infraestruturas antigas. - O que dizem os manuais de boas práticas relativamente a inspeções de equipamentos de iluminação pública? Ainda não foi esclarecido se as normas técnicas — nomeadamente ligação à terra, isolamento e verificação periódica — estavam a ser cumpridas no equipamento envolvido. -Que medidas vão ser tomadas de imediato? Não foram ainda anunciadas ações preventivas, reforço de inspeções ou alterações nos procedimentos para garantir que não se repetem descargas elétricas no espaço público.