Na sexta-feira, dia 14 de novembro, em Patameiras, Odivelas, Soraia Silva esperou que a chuva abrandasse para levar os seus dois cães, Luna e Ozzy, a passear. “Por volta das 20h25, passámos junto do candeeiro. O mais pequenino deu um ganido enorme. Pensei que se tivesse cortado. De repente, ambos caíram, sem vida”, recorda, ainda abalada e sem dúvidas: “Foram eletrocutados”. Luna tinha 12 anos; Ozzy, apenas quatro meses.Segundo Soraia, não havia poças no local, mas o pavimento encontrava-se molhado. O candeeiro está instalado num parque infantil atualmente rodeado por obras da Câmara Municipal de Odivelas. No local estiveram a Proteção Civil, a PSP, os Sapadores Bombeiros, um piquete da E-Redes (a empresa responsável pela rede de distribuição e pelo transporte de energia elétrica até às nossas casas) e uma ambulância, chamada para assistir a tutora, que entrou em colapso emocional. “O espaço foi cercado com uma fita, mas não está completamente protegido. Temos de poder andar na via pública em segurança. Não podemos estar num campo minado. É um jardim público agora transformado em parque de estacionamento devido às obras, mas com muita frequência”, lamenta. “Foram os meus cães, mas podia ser uma criança.”Soraia apresentou queixa na Esquadra de Odivelas. “Vou exigir responsabilidades, embora saiba que perdi para sempre os meus meninos. Mas isto não pode voltar a acontecer.” Segundo testemunhas, Ozzy, com 15 quilos, foi o primeiro a morrer. Luna, com 30, tombou logo depois. . Menos de um dia mais tarde, no sábado, 15 de novembro, um novo caso ocorreu, agora no Parque das Nações, em Lisboa. Eram 18h30 quando o cão de uma família local, que passeava com o filho do tutor, pisou uma poça de água junto a um poste de iluminação pública e terá recebido uma descarga elétrica fatal. De acordo com o relatório dos bombeiros, o animal terá sido atingido por cerca de 117 volts. O cão, de 21 quilos, ainda tentou levantar-se após o primeiro impacto, mas caiu de seguida, já sem vida. Moradores chamaram de imediato os Sapadores Bombeiros, a PSP e um elemento da Junta de Freguesia do Parque das Nações. O DN apurou que, quando os bombeiros chegaram ao local, pouco depois das 19h00, o poste “ainda fumegava”. Quando o tutor do animal, Nuno Lopes, chegou, já perto das 20h00, aquele candeeiro - ao contrário dos restantes na mesma rua - encontrava-se desligado. A PSP abriu uma investigação. A família do animal afirma estar “em choque” e já contactou um advogado. “Queremos saber o que aconteceu, quem responde e como é possível que um poste de iluminação pública mate um cão”, dizem em declarações ao DN. Contactada pelo DN, a E-Redes confirma que teve conhecimento de duas situações na zona de Grande Lisboa que vitimaram três cães. “Situação que desde já lamenta. Em ambos os casos, a E-Redes mobilizou equipas técnicas para o local, com vista a averiguações e à garantia da segurança da rede. Os processos encontram-se atualmente em análise interna com vista ao apuramento das causas. Eventuais responsabilidades apuradas serão assumidas pela empresa. A E-Redes trabalha diariamente para garantir a distribuição da eletricidade em segurança”, assegurou fonte oficial da empresa. . Ao contrário do que acontece em Odivelas, onde a E-Redes é responsável por toda a manutenção da iluminação pública, no caso da capital, a partir do momento em que a energia chega aos equipamentos, a responsabilidade recai sobre a Câmara Municipal de Lisboa, soube o DN junto de fonte camarária.Entretanto, os dois candeeiros envolvidos nas ocorrências foram isolados e encontram-se fora de serviço. As famílias das três vítimas - Luna, Ozzy e o cão do Parque das Nações - temem que outros acidentes possam ocorrer. “Isto não pode acontecer mais. Nem com animais, nem com pessoas”, desabafa Soraia.Fonte oficial da PSP diz ao DN “que os autos serão encaminhados para o Ministério Público”. Os animais serão autopsiados. O DN não conseguiu receber, até à hora do fecho desta edição, resposta da Câmara Municipal de Lisboa às perguntas enviadas.