Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou o professor Sampaio da Nóvoa com a Grã-Cruz da Ordem de Camões
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou o professor Sampaio da Nóvoa com a Grã-Cruz da Ordem de CamõesMIGUEL A. LOPES/LUSA

Sampaio da Nóvoa garante que não está a pensar nas presidenciais neste momento

Na cerimónia de jubilação de António Sampaio da Nóvoa, o Presidente da República condecorou o professor com a Grã-Cruz da Ordem de Camões.
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O professor Sampaio da Nóvoa garantiu esta quinta-feira não estar a pensar em candidatar-se às presidenciais neste momento, após um discurso programático em que apresentou uma visão de futuro e defendeu os ideais da liberdade e direitos humanos.

Na sua cerimónia de jubilação, que decorreu na Aula Magna, em Lisboa, Sampaio da Nóvoa afirmou que hoje encerra "o ciclo maior da sua vida" e, a partir de agora, passará a estar focado "em duas obrigações: o futuro e os direitos humanos".

Num discurso em que apresentou a sua visão sobre o mundo e o país, o ex-candidato presidencial defendeu que a política se deve abrir à sociedade civil, considerando que "nenhum dos grandes problemas de Portugal se resolverá no circuito interno, fechado da política".

"Os partidos serão melhores, para bem de todos, se souberem abrir-se à sociedade, se forem abertura e não fechamento, se forem participação e não isolamento. As ditaduras nascem sempre do enfraquecimento dos partidos", avisou.

Depois, abordando a temática da liberdade, Sampaio da Nóvoa defendeu que não se pode "continuar a viver asfixiados no meio de pessoas que estão absolutamente certas de terem razão", frisando que, "nelas, cresce sempre, mais cedo ou mais tarde, o vírus das ditaduras".

"Não necessitamos de quem ponha o país na ordem. Precisamos de educação, de conhecimento, de ciência, de cultura, de pessoas despertas, curiosas e atentas. Não, não precisamos de guerra, nem de espíritos bélicos, precisamos de diplomacia e de paz, porque procurar a paz não é uma escolha ou uma opção, é um dever, uma responsabilidade coletiva", disse.

Sobre os Direitos Humanos, Sampaio da Nóvoa frisou que, muito para além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, há hoje "novos direitos que marcam os grandes desígnios" desta época, referindo-se aos "direitos da terra", "os direitos do digital comum", "os direitos das liberdades", "os direitos das diversidades", "os direitos dos trabalhos e do ócio" e "os direitos de uma vida longa".

Perante uma plateia composta por várias personalidades - como a vice-presidente do PSD Leonor Beleza, o ex-coordenador do BE Francisco Louçã, o ex-presidente Ramalho Eanes ou o Capitão de Abril Vasco Lourenço, e durante uma cerimónia na qual intervieram o Presidente da República e o presidente do Conselho Europeu, António Costa -, Sampaio da Nóvoa defendeu que "é destes temas que se deveria estar a falar".

"São eles que nos deviam pré-ocupar, que nos deviam preocupar e ocupar", frisou.

Sampaio da Nóvoa pediu que não se fique "à espera que os outros façam o que cada um de nós tem a obrigação de fazer", acrescentando que, "esteja onde estiver, no lugar mais simples ou no mais alto cargo da Nação, a cidadania não tem medida, é de igual responsabilidade para todos".

"O presente é uma passagem, o futuro é um caminho. Nunca me escondi, nem antes nem depois de Abril, na luta pela liberdade, na defesa da universidade e da escola pública, no esforço para construir um país com menos desigualdades e mais futuro, na dedicação ao trabalho por uma humanidade comum. Agora já não tenho emenda", disse.

"Como todos perceberam, isto não foi uma lição e muito menos a última. Foi, é, uma continuação", disse.

Depois deste discurso, em declarações aos jornalistas, Sampaio da Nóvoa foi questionado se tenciona candidatar-se às eleições presidenciais de 2026, tendo garantido que, neste momento, não está a pensar nesse assunto.

"Não é assunto no qual eu pense no dia de hoje. (...) Neste momento, o que me interessa é concentrar-me no que disse aqui hoje", disse, afirmando que hoje só quis "chamar a política, os cidadãos a um debate que tenha como temas a liberdade, o futuro e os direitos humanos".

Sampaio da Nóvoa foi candidato independente nas presidenciais de 2016, tendo obtido na altura 22,88%, numas eleições que foram ganhas na primeira volta por Marcelo Rebelo de Sousa, com 52%.

Marcelo condecorou Sampaio da Nóvoa com Grã-Cruz da Ordem de Camões

O Presidente da República condecorou o professor António Sampaio da Nóvoa com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, elogiando "um cidadão do universo", que teve "vagar e inventiva para projetar Portugal no mundo".

Num discurso na cerimónia de jubilação de António Sampaio da Nóvoa, o chefe de Estado considerou que uma personalidade com as características de Sampaio da Nóvoa "nunca termina um 'cursus honorum', nunca encerra uma vocação, nem um combate por causas, nem um dever de serviço nacional".

No entanto, o Presidente da República considerou que, tendo em conta o que Sampaio da Nóvoa "já concebeu e realizou pela educação, pela cultura, pela língua" portuguesa, além do seu "vagar e inventiva para projetar Portugal no universo", não "pode deixar de receber a gratidão desse Portugal".

"Hoje e aqui, por isso, lhe vou entregar as insígnias da Grã-Cruz da Ordem de Camões, em nome de todos os portugueses", anunciou Marcelo Rebelo de Sousa.

No seu discurso, o chefe de Estado aludiu ao período em que António Sampaio da Nóvoa foi reitor da Universidade de Lisboa, entre 2006 e 2013, para salientar que foi "essencial para mudar o paradigma vindo da Universidade Clássica de Lisboa" e se revelou um "prospetivo visionário, fazedor de universidades".

"Pensando em grande numa pátria tantas vezes - vezes demais - habituada a satisfazer-se com o pequeno, com o trivial, o habitual, com o viver normalmente com segurança, mas sem risco nem rasgo", afirmou.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa - que foi candidato presidencial em 2016 e conselheiro de Estado - é "um cidadão que nunca se demitiu, nem se demite, de o ser, em todos os combates, académicos, culturais, cívicos e políticos".

"Tão depressa arauto de Abril, das suas raízes e sonhos, como notável conselheiro ao serviço do Estado, que o mesmo é dizer dos portugueses. Sem hesitações, nem desfalecimentos, nem jubilações cívicas, que nunca o seu sentido de responsabilidade as autorizará", afirmou.

Depois, referindo-se ao facto de Sampaio da Nóvoa ter sido embaixador da Portugal na UNESCO, de 2018 a 2021, Marcelo considerou que teve um "brilhantíssimo desempenho" nessas funções, elogiando "um cidadão do universo e, nele, de Portugal nesse universo".

É "um homem de caráter forte, de personalidade vincada, de convicções arreigadas, de resistências ilimitadas, conhecedor de passados, companheiro de luta de presentes, desbravador de futuros", afirmou..

Nesta cerimónia, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, também interveio, através de uma declaração em vídeo, recuando aos tempos em que era autarca de Lisboa para salientar que trabalhou "de perto com o professor Sampaio da Nóvoa num dos processos mais importantes, inovadores e que mais contribuiu para o fortalecimento do nosso sistema académico e científico, a fusão da antiga Universidade Clássica com a Universidade Técnica de Lisboa, dando lugar àquilo que é hoje a realidade da Universidade de Lisboa".

Para Costa, esse foi "um facto em si muito importante, do ponto de vista académico e para a criação de uma base científica" para o futuro de Portugal.

"Mas é sobretudo relevante num país onde eu costumo dizer que todos nós trazemos uma espécie de minifúndio na cabeça e onde cada um quer preservar o seu pequeno espaço. O desafio que o professor António Sampaio da Nova, com o apoio do professor António Cruz Serra, se lançaram foi precisamente o inverso daquilo que é típico entre nós: foi juntarem-se para ganhar escala, dimensão, de juntos fazerem mais e melhor", elogiou.

Por sua vez, o ex-presidente da República Ramalho Eanes também interveio nesta cerimónia para salientar que Sampaio da Nóvoa é um cidadão que se "habituou a admirar pelas suas qualidades, pela sua nobreza de espírito, de saber e responsabilidade social, pelo seu exemplo de cidadania e interesse".

"Considero, pois, o professor Sampaio da Nóvoa um cidadão de rara excelência", elogiou.

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