André Ventura, presidente do Chega, apontou esta sexta-feira o caminho que o primeiro-ministro deve fazer depois de ter sido noticiado pelo Expresso que o grupo Solverde paga 4500 euros por mês à empresa da família de Luís Montenegro, a Spinumviva. Ou apresenta a "demissão" ou avança para "uma moção de confiança no Parlamento", defendeu.
"A menos que o primeiro-ministro esteja confortável em ser o novo José Sócrates da política portuguesa, só há um caminho para Montenegro sair disto com o mínimo de credibilidade e integridade", começou por escrever André Ventura nas redes sociais.
Luís Montenegro "deve apresentar hoje a demissão ao Presidente da República ou uma moção de confiança no Parlamento", defende na mensagem publicada na rede social X.
Depois de Ventura, foi o presidente da Iniciativa Liberal (IL) a reagir a esta nova polémica envolvendo o chefe de Governo. "Tem de decidir se quer ser primeiro-ministro ou quer ter atividade empresarial. Já percebemos que as duas coisas não são acumuláveis, e o primeiro-ministro já devia ter percebido", afirmou Rui Rocha.
O líder dos liberais propõe um "plano de três pontos", caso Montenegro queira continuar como primeiro-ministro.
Em primeiro lugar, Rocha diz que Luís Montenegro deve "pedir desculpa aos portugueses pela falta de transparência na condução desta matéria" e depois "explicar tudo".
Para o presidente da IL, o primeiro-ministro deve explicar quem são os clientes da empresa familiar, os trabalhos concretos que foram feitos para esses clientes, quanto é que Spinumviva recebe "e, sobretudo, explicar quem é que, depois de 2024, prestou os serviços a estes clientes". Ou seja, já depois de tomar posse como primeiro-ministro.
Por último, Rui Rocha considera que Montenegro "tem de desligar-se completamente desta empresa, seja por via direta, seja por via de participações de familiares".
"Cabe a Montenegro decidir o que quer fazer: continuar a ser primeiro-ministro ou continuar a ter uma atividade empresarial", reforçou.
O presidente dos liberais considera urgente que o chefe do Governo apresente explicações sobre este caso.
Rui Rocha refere que o problema não está relacionado com um potencial conflito de interesses com a lei dos solos, mas com o facto de a empresa em causa estar "ligada diretamente a Luís Montenegro". "Ninguém contrataria esta empresa se não tivesse lá presente o passado e o nome do primeiro-ministro".
E o problema também se deve à "atividade" da empresa "sobretudo em 2024 e 2025 porque é ao mesmo tempo em que Luís Montenego é primeiro-ministro", acrescentou Rocha.
Reiterou que se Montenegro quer ser primeiro-ministro "tem que extinguir esta empresa ou desfazer-se dela, mas para bem longe de si próprio e da sua família". "Não é possível acumular rendimentos de uma atividade empresarial enquanto se é primeiro-ministro. As pessoas têm de tomar opções", defendeu.
O porta-voz do Livre defendeu esta qunta-feira que o primeiro-ministro deve divulgar em breve ao país quais são os clientes da sua empresa familiar e ponderar vender a Spinumviva ou entregá-la a uma gestão privada.
No parlamento, Rui Tavares reagia à notícia, hoje divulgada pelo Expresso, de que o grupo de casinos e hotéis Solverde, sediado em Espinho, paga à empresa detida pela mulher e os filhos do primeiro-ministro, Spinumviva, uma avença mensal de 4.500 euros desde julho de 2021, por "serviços especializados de 'compliance' e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais".
Na ótica do deputado do Livre, o primeiro-ministro deve convocar uma conferência de imprensa ou fazer uma comunicação ao país o mais breve possível para esclarecer o tema e divulgar quais são os clientes desta empresa.
"Não deve fazer, como fez aqui na moção de censura, que é dizer «os clientes que o digam». (...) Os clientes que foram clientes da empresa de Luís Montenegro tiveram uma relação económica com ele, mas ele agora tem uma relação de lealdade para com os portugueses e essa relação é mais importante do que tudo", argumentou o parlamentar.
Para o Livre, a resolução para esta situação passa por ou vender a empresa ou entregá-la a uma "gestão completamente profissional com a qual não tem nenhum contacto", e só saber se lucro ou prejuízo "quando deixar de ser primeiro-ministro".
Rui Tavares afirmou não ter "confiança institucional" em Luís Montenegro para que seja o próprio a "determinar quando é que deve ou não pedir escusa" de determinados assuntos tratados pelo Conselho de Ministros, considerando que o líder do executivo não foi transparente quando perguntado sobre quais eram os seus clientes.
"Não se pode preservar confidencialidade com os antigos clientes, ao mesmo tempo dizendo que se foi transparente com os portugueses, porque aquilo que o senhor primeiro-ministro fez foi um exercício de ofuscação aqui no debate da moção de censura", acusou.
Para o porta-voz do Livre, Luís Montenegro atirou aos deputados "uma montanha de informação para os olhos, acabando por esconder aquilo que era mais importante", ou seja, eventuais conflitos de interesses.
"E não sabemos se ele já pediu escusa alguma vez, quando é que pedirá ou com que critério", salientou o deputado.
Tavares realçou ainda que, o grupo de casinos e hotéis Solverde, cliente da empresa familiar de Luís Montenegro é especializado numa "área específica que tem um impacto social muito grave", alertando para o vício dos jogos 'online'.
O deputado anunciou que o seu partido vai antecipar a apresentação de iniciativas para regular e reduzir a publicidade neste tipo de jogos, e quer ver como é que os partidos que suportam o Governo, PSD e CDS-PP, bem como o próprio executivo, se posicionam na matéria.
Segundo o Expresso, o grupo Solverde paga à empresa da família do primeiro-ministro, a Spinumviva, uma avença mensal de 4500 euros desde julho de 2021 a troco de um conjunto de “serviços especializados de compliance e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais”.
O atual primeiro-ministro trabalhou para o grupo de casinos e hotéis sediado em Espinho entre 2018 e 2022, como representante nas negociações com o Estado que resultaram numa prolongação do contrato de concessão dos casinos de Espinho e do Algarve, contrato esse que termina no final deste ano, pelo que será o Governo de Montenegro a decidir o que fazer. O líder do executivo vai pedir escusas no geral, mas não revela a lista de incompatibilidades, refere o jornal.
O acordo de consultoria entre a Solverde e a Spinumviva foi celebrado seis meses depois de a empresa ter sido registada com a morada de casa e o número de telemóvel pessoal de Montenegro.
Durante dez meses, até maio de 2022, a Solverde pagou serviços jurídicos no valor de 2500 euros por mês à sociedade de advogados, da qual Montenegro saiu quando foi eleito líder do PSD. Daí para cá, a avença é de 4500 euros mensais, indica a mesma publicação.
A Solverde recusa revelar quem exatamente presta serviços em nome da empresa detida pela mulher e pelos dois filhos do primeiro-ministro, que não têm competências técnicas para o fazer, mas assegura que se tratam de “profissionais qualificados” e que os montantes pagos se enquadram nos valores de mercado.
O grupo de casinos e hotéis adianta ao semanário que a Spinumviva assegura o “suporte técnico e consultivo necessário, incluindo o exercício da função de encarregado de proteção de dados interno e a implementação integral das exigências do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados e da legislação aplicável”.
Montenegro afirmou na Assembleia da República, durante o debate da moção de censura apresentada pelo Chega, que a Spinumviva faturou um total de 179 mil euros no ano passado, o que significa que os 54 mil euros anuais pagos pela Solverde representaram cerca de um terço do volume de negócios da empresa.