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Vasco Lourenço diz que Governo deve envergonhar-se de comissão de “fachada” para o 25 de Novembro

Capitão de Abril insistiu nas críticas comissão criada para celebrar os 50 anos do 25 de Novembro, considerando que se trata de uma "palhaçada" e pedido ao Governo que se envergonhe desta decisão.
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O capitão de Abril Vasco Lourenço disse esta quarta-feira, 12 de novembro, que o Governo deve envergonhar-se de criar uma comissão de "fachada" para o 25 de Novembro, lamentando ver o "amigo" Alípio Tomé Pinto à frente do organismo.

Na sessão de lançamento do seu livro "O 25 de Novembro" - Memórias de um Capitão de Abril (Âncora Editora), que decorreu esta tarde na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa, Vasco Lourenço insistiu nas críticas comissão criada pelo Governo para celebrar os 50 anos do 25 de Novembro, considerando que se trata de uma "palhaçada" e pedido ao executivo que se envergonhe desta decisão.

"Têm a lata de dizer que é uma comissão independente, apartidária, mas estão a brincar com quem? E, como eu digo, olhem para o espelho e envergonhem-se da cara que veem refletida no espelho. (...) Não são pessoas de bem", atirou.

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Vasco Lourenço disse também não poder "olhar para a Assembleia República como idónea e responsável" quando nomeia "três representantes para esta comissão de fachada".

O militar de Abril lamentou ainda que o "amigo" Alípio Tomé Pinto presida a comissão organizadora da data que marcou o fim do PREC, revelando que lhe enviou uma mensagem transmitindo o seu lamento por vê-lo envolvido nesta iniciativa do Governo.

Vasco Lourenço revelou ter sido convidado para uma homenagem dos elementos do chamado 'grupo dos nove' que ainda estão vivos, mas que já transmitiu à organização que não marcará presença.

O coronel sublinhou que, apesar das divisões que seguiram à Revolução dos Cravos, a "barreira do 25 de Abril" é, para si, "muito superior à barreira do 25 de Novembro", e lembrou uma história com o histórico socialista Mário Soares para explicar a sua posição.

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"Quando nós criamos a Associação do 25 de Abril, de que ele é sócio de honra (...), ele contestava a nossa existência e dizia-me: 'mas Vasco Lourenço, você no 25 de Novembro estava de um lado e os comunistas do outro e você agora está com eles na Associação'. E eu disse-lhe: 'Mário, no 25 de Abril, você estava de um lado e os fascistas estavam do outro e você já fez um Governo com o partido mais à direita do espectro, um que, teoricamente, pelo menos estarão os fascistas", contou.

Antes, Vasco Lourenço falou do que é relatado na sua obra, como a tese de que Otelo Saraiva de Carvalho, na verdade, e ao contrário do que é muita vezes referido, ter sido traído pelo PCP no 25 de Novembro.

O capitão de Abril referiu também a ideia, que diz persistir ainda entre "muitos comunistas", de que o antigo secretário-geral do partido, Álvaro Cunhal, terá sido um traidor no 25 de Novembro.

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"Ainda hoje, há muita gente, muitos comunistas, a chamarem traidor ao então secretário-geral Álvaro Cunhal, os próprios comunistas chamam, porque ele recuou a certa altura, depois de ter mandado avançar, recuou. E, como eu digo no livro, o Álvaro Cunhal justificou-se dizendo que 'o Careca borregou'. O Careca era o Rosa Coutinho. Porquê? Porque eles fizeram mal a leitura da situação, contaram que iam ter a intervenção dos fuzileiros, avançaram, e depois isso não aconteceu", detalhou.

Vasco Lourenço admitiu também ter sido obrigado a ler outras obras para escrever este livro de memórias porque "havia teorias que lhe tinham passado ao lado", embora ele tivesse estado no "centro dos acontecimentos".

"Por exemplo, a teoria do Pires Veloso e do Pinheiro de Azevedo que defendem, a pé juntos, que o 25 de Novembro foi um golpe dirigido pelo PCP através do Melo Antunes e do Ramalho Eanes. Essa nunca me tinha passado por cabeça. Mas o que é facto, isso está escrito nos livros deles", exemplificou.

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Participaram nesta sessão, além do autor, a historiadora Maria Inácia Rezola, que lidera a Comissão Comemorativa do 50.º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, e o coronel Aniceto Afonso.

Os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, em que forças militares antagónicas se defrontaram no terreno, e sobre os quais não há uma versão consensual, marcaram o fim do chamado Processo Revolucionário Em Curso (PREC).

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