Rui Rocha: “Se tivéssemos ido para o Governo já estaríamos fora ou com um enorme problema”

Tal como acontece sempre que um líder partidário procura reeleger-se, o resultado vai depender muito do balanço que os membros do partido fazem do mandato anterior. Perante isso, tem razões para estar absolutamente confiante na sua vitória?Penso que o balanço final deste mandato é muito positivo. Com Carlos Guimarães Pinto, a Iniciativa Liberal (IL) elegeu o primeiro deputado, com João Cotrim de Figueiredo teve pela primeira vez oito deputados na Assembleia da República, neste mandato elegemos em todos os parlamentos que faltavam e tivemos o melhor resultado de sempre em eleições. Se não são resultados positivos... E podia falar na forma como marcamos a agenda, como propomos coisas que os outros não têm coragem de propor, como temos abrangência nas medidas que avançamos neste mandato, com pacotes para a habitação, para a saúde e para a energia e o ambiente. E as questões de segurança, onde estamos neste momento a falar à moda da IL, com dados. São marcas muito significativas, muito presentes e muito vincadas deste mandato. . Escolher o seu antecessor, João Cotrim de Figueiredo, como cabeça de lista nas eleições europeias foi a sua melhor decisão?Creio que houve muitas boas decisões. Desde logo, a de irmos sozinhos às eleições legislativas. Parece-me que foi a decisão certa, incompreendida no momento. Fomos muito criticados, sobretudo por quem entendia que a mudança de ciclo poderia ficar prejudicada. Creio que foi um momento de coragem e um momento muito útil e positivo para a afirmação da IL. E a decisão de não irmos para o Governo depois das eleições pelos motivos certos, porque não havia condições para uma verdadeira mudança e não trocámos as nossas ideias por cargos políticos. E de votarmos contra o Orçamento do Estado da AD, quando poderia haver benefício da dúvida, tratando-se do primeiro, numa decisão também corajosa e totalmente justificável. Houve muitas boas decisões tomadas, que preservam a autonomia estratégica da IL, e reforçam a sua autonomia política.E qual foi o maior erro? Creio que a IL deveria ter começado a falar mais cedo de questões que preocupam os portugueses, nomeadamente a segurança. Antes do verão, a seguir às eleições europeias, teria sido o momento para contribuir para a discussão, pois a que tem havido é absurda, no sentido de que é feita sem dados. É fútil e não leva a lado nenhum. Teria começado mais cedo este caminho de a IL propor soluções para a discussão sobre segurança se fazer com dados. Parece-me absolutamente fundamental.Embora até nos dados se possa escolher aqueles que mais interessam...É um exercício político natural haver determinadas abordagens, como vimos acontecer com os dados sobre Lisboa. É o problema de estarmos a falar sobre dados parcelares. O contributo da IL para esta matéria é uma discussão com dados, a mesma coisa que fazemos em muitas outras áreas. Com factos, de forma científica. É essa discussão que queremos também nesta matéria.Os adversários que derrotou em 2023, Carla Castro e José Cardoso, acabaram por se desfiliar, tal como boa parte dos seus apoiantes. Se for reeleito, o que é que está disposto a fazer para que Rui Malheiro, e os que estiverem com ele, não sintam necessidade de sair também?Há algo que é preciso esclarecer: cada um toma decisões livres e que não têm nada a ver com nenhum tipo de atitude ou comportamento que eu ou esta direção tenhamos tomado. As pessoas são livres de continuarem vinculadas a um determinado projeto ou se desvincularem, mas é uma decisão delas. Farei exatamente o que tenho feito, que é ter abertura total para a discussão e o debate. Rui Malheiro é um excelente exemplo. Conheço-o desde a Convenção de 2021, sempre a criticar, na altura João Cotrim de Figueiredo, agora também com atitude muito crítica em relação à atual direção. Mas tomou a decisão de continuar no partido, não saiu nas últimas eleições, porque esse vínculo ao projeto existe. Aquilo com que pode contar o Rui Malheiro, e quem quer que seja, é total abertura às críticas e total abertura a que todos contribuam, independentemente da sua posição sobre o partido.E há ou não necessidade de uma reconciliação interna na IL?Nestes dois anos de mandato, a IL cresceu cerca de 20% em número de membros. Bem estaria o país se crescesse 20% em aspetos essenciais. E em núcleos territoriais cresceu também cerca de 30%. A narrativa de que a IL não cresce, ou não está a crescer, é completamente falsa. Está a crescer em número de membros de forma muito significativa, a ter capacidade de atrair pessoas, está a crescer em votantes e também a crescer na sua expansão territorial e na sua presença no país. Tal como dizia há bocado, é preciso falar com factos.Quantos membros saíram da IL e quantos entraram?Não tenho os dados presentes, mas obviamente muito mais entraram do que saíram. Os dados são positivos, são de crescimento. E, volto a dizer, não houve nenhuma alteração estratégica significativa no partido, nenhuma mudança da sua visão política. Aliás, tivemos na Convenção Estatutária uma discussão do programa político da IL, que mereceu a adesão de noventa e muitos por cento dos liberais. Do ponto de vista político há uma consistência grande, mas quem está num partido liberal tem liberdade de voto. Se não se revê no projeto, porque houve um resultado eleitoral que lhe desagradou, já não é algo que eu possa resolver. Há pessoas que gostaria que se tivessem mantido no partido? Gostaria que todos aqueles que saíram se pudessem ter mantido. Obviamente não faço distinção entre pessoas, mas gostaria que se tivessem mantido, na medida em que esta visão política, praticamente unânime, como demonstram os resultados da votação sobre o programa político, correspondesse à sua visão. Se não corresponde, no mesmo princípio de liberdade de escolha, eventualmente devem procurar outras propostas onde se revejam.O único debate que fez com o outro candidato à liderança da Comissão Executiva, Rui Malheiro, foi um mau pronúncio para a Convenção Nacional? Não, estou absolutamente convencido de que a Convenção Nacional será um momento globalmente de festa para o partido, de celebração dos seus resultados, de celebração da eleição em que tivemos o melhor resultado de sempre, de celebração do crescimento permanente que a IL tem tido, e o lançamento para mais um ciclo de crescimento e de clarificação. Uma clarificação também interna sobre como as pessoas veem o futuro do partido. Estou muito confiante. Obviamente haverá momentos de crítica. Isso faz parte, e nos liberais é ainda mais normal que a crítica exista, mas creio que o balanço global desta Convenção será de clarificação e de celebração da trajetória da IL e da capacidade de influenciar o futuro.Estando confiante na sua reeleição, existe a possibilidade de não correr como espera, e de Rui Malheiro ser eleito presidente da Comissão Executiva. Caso isso suceda, pode garantir que continuará no partido, e se manterá deputado na Assembleia da República?Posso garantir que é um cenário que não considero. Se tal acontecesse poder-se-ia repetir o que aconteceu no CDS quando Francisco Rodrigues dos Santos...(interrompe) Não faço nenhuma comparação entre a IL e o CDS, que são realidades completamente diferentes. Esse cenário é um cenário que não considero de todo. Não perdi um minuto da minha vida a pensar nesse cenário, mas devo dizer que se há significado profundo deste mandato, nos dois últimos anos, é o meu compromisso permanente e a minha disponibilidade total para o partido, a presença física sempre que possível, em variados pontos, regular e constante. O partido sabe que este presidente esteve mais presente do que qualquer outro nos diversos pontos onde a IL está representada. A minha disponibilidade pessoal, em circunstâncias às vezes muito complicadas, é um testemunho deste mandato.Há dois anos, no encerramento da Convenção Nacional, apontou para a meta dos 15% nas legislativas seguintes, disse que o PS estava “politicamente morto” e empenhou-se em acabar com o bipartidarismo, que considerou “nefasto para Portugal”. Cumprindo-se o diagnóstico do fim do ciclo socialista, o que falhou para a IL ter tido um terço dos votos que pretendia e para ser o Chega a protagonizar o tripartidarismo? É preciso considerar um conjunto de condições. Foram eleições muito complicadas para a IL.Em boa verdade, as legislativas aconteceram muito antes do que estava previsto.Estávamos num momento ainda de afirmação da liderança, que tinha sido eleita há poucos meses, num encurtamento muito grande do ciclo político, com o qual não se podia contar. A IL sofreu as consequências do voto útil de quem considerava que era importante fazer uma mudança de ciclo, um voto que se dirigiu mais ao PSD, mas noutros casos com uma dimensão de protesto.Também temos de considerar as circunstâncias em que a queda doGoverno acontece, com acusações de corrupção. Foi um momento particular, no qual a IL terá sido penalizada sobretudo por esse voto útil e estou absolutamente convencido que temos hoje muitos portugueses que se sentem algo lesados pelo voto que confiaram à AD e que não resolveu nenhum dos problemas que acreditavam que esta alternativa, ou alternância, poderia resolver. Esse resultado permite agora que a IL se afirme como uma verdadeira e única alternativa reformista, não só ao PS, que era a realidade já conhecida, mas também à AD, que tem demonstrado incapacidade de resolver os problemas essenciais do país.Entre as críticas feitas pelo seu adversário, a que mais o irrita é a da “irrelevância política” da IL?As críticas têm sido muito pouco construtivas, e têm sido dirigidas a aspetos que não são verdadeiros e não são suportados em factos. É óbvio que dizer que o partido é irrelevante não é um ataque a mim, e sim um ataque ao partido. As pessoas que estão nos núcleos territoriais sabem que todos os dias, em todo o país, são abordadas para integrar coligações, pois a IL tem hoje um peso que é determinante, mas pelos seus princípios e pela sua posição apresentar-se-á sempre que possível, desejavelmente sempre, com os seus próprios candidatos. Isso é um exemplo de como essa crítica é pouco fundamentada, porque não só temos a relevância de haver tantas solicitações pelo país todo, como temos a capacidade de dizer que queremos ir sozinhos, o que significa que não precisamos de nada nem de ninguém. É o contrário da irrelevância. Tal como as críticas sobre falta de transparência, quando é certo que esta Comissão Executiva levou ao Conselho Nacional a relação de todos os funcionários e das grelhas salariais aplicadas. A transparência é apresentada onde deve ser, no Conselho Nacional, onde estão todas as sensibilidades da IL. Quando dizemos que devemos combater o populismo fora do partido, devemos também combatê-lo dentro. E é disso que se trata. . O que realça no trabalho do grupo parlamentar da IL no início desta legislatura?Desde logo, uma continuidade das políticas, medidas e visão da IL em matéria económica e fiscal. Continuou a defender uma visão de sociedade em que o crescimento económico é determinante para resolver, ou começar a resolver, a generalidade dos problemas que enfrentamos em Portugal. Recentemente, temos a questão da Segurança Social, que ganhou atualidade. Não há sistema, seja aquele que temos hoje, seja outro que a IL defende, que resista a anos e anos de estagnação, a anos e anos de fraco crescimento económico. Somos o único partido que faz a defesa intransigente de que precisamos de menos Estado, de um Estado mais eficiente e mais focado nas suas competências essenciais, que saia de muitas áreas onde hoje está, com prejuízo para os portugueses. Continuamos a defender uma descida de impostos, que tem de ser para todos, quer para famílias, quer para empresas. Veja-se a novela orçamental em que se discutia a descida de um ponto percentual de IRC, o que revela que PSD e PS estão totalmente fora da realidade. Num momento em que o mundo acelera, estamos aqui focados numa questão tão pequena. No episódio mais recente das freguesias, fomos o único partido que votou contra a desagregação, porque estamos a falar de uma contra-reforma, protagonizada pelo PSD contra o PSD de Passos Coelho. E, em rigor, de mais cargos políticos, nomeações e gastos. A IL calculou o custo desta medida em 30 milhões de euros. Isto permitiria que 700 mil portugueses tivessem médico de família.Nos últimos tempos, o partido está mais atento a questões de segurança e imigração, defendendo ser preciso uma abordagem moderada a esses problemas. Mas a oposição interna diz que se trata de uma concessão a agendas de outros partidos.É uma visão que corresponde a uma ansiedade dos portugueses. Sabemos que temos problemas muito sérios no país, em matéria de economia, carga fiscal, saúde e habitação. Estivemos nessas discussões todas, mas não podemos ignorar que as questões da segurança são hoje uma preocupação. Como é que fazemos? Propondo que haja dados na discussão e, conseguindo que haja mais dados do que temos hoje, políticas concretas que possam assegurar a vontade dos portugueses de terem uma sociedade mais segura do que aquela que eventualmente sentem ter hoje.Os dados são inimigos do Chega e dos partidos de esquerda? Os dados são sempre inimigos do populismo. A discussão sem dados tem propiciado que, de um lado e do outro, tenhamos quem diga que determinados grupos são sempre culpados, e outros digam que determinados grupos são sempre inocentes. Qualquer um percebe que a culpa ou inocência se decidem pelo comportamento individual de cada um. Não faz nenhum sentido imputações coletivas de culpa ou de inocência, e essa discussão não leva a lado nenhum, a não ser ao ruído e à criação de uma perceção de insegurança, ou de segurança, que não correspondem à realidade.A comunicação do partido tem feito tudo para combater ideias que podem travar o crescimento eleitoral, como a IL querer baixar impostos aos milionários e privatizar todos os serviços públicos, e desde logo a saúde?A comunicação do partido é reconhecida externamente como uma comunicação diferenciadora e que marcou a política portuguesa, mas temos de perceber que está hoje em mais sítios e em mais cenários onde não estava antes destes últimos anos. Saiu hoje [na quarta-feira] o top dos protagonistas políticos de 2024 e fiquei em 6º lugar. Antes, com o João Cotrim de Figueiredo, não aparecíamos no top 10. O número de horas de exposição na comunicação social, de mim próprio, do partido, e até de comentadores que temos em canais televisivos, de forma permanente, e que não existiam no passado, implica uma diversificação muito grande da capacidade de a IL chegar a diferentes públicos e reforçar a sua mensagem. Estamos menos dependentes da comunicação que tínhamos, que era praticamente exclusiva das redes sociais. O trabalho de combater essas perceções já não está só na comunicação do partido, mas em todos estes protagonistas que hoje estão presentes na comunicação social. Já agora, creio que a comunicação tem de ser feita pela positiva, e não tanto numa lógica de combate, de pôr em causa coisas que nos atribuem, porque os portugueses já nos conhecem e sabem que isso não cola. Não temos de dizer que não somos aquilo que outros dizem. Temos é que dizer o que somos e o que queremos.Não lhe aparecem pessoas a dizer que quer baixar impostos a milionários e privatizar tudo?Creio que aparecem menos do que no passado. Especialmente pelo trabalho de comunicação que está a ser feito, em diferentes momentos e canais, parece-me muito evidente que já sabem melhor o que a IL propõe.É injusto dizer que a IL está acantonada aqui na Assembleia da República e na sede nacional? Isso é de quem não acompanha a realidade do partido. Revela desconhecimento e é uma enorme injustiça para os membros e para os núcleos, para a sua capacidade de estar no terreno a fazer política liberal.No grupo parlamentar, que manteve oito deputados, com Cotrim de Figueiredo e Carla Castro a saírem, e Mariana Leitão e MárioAmorim Lopes a entrarem, foi noticiado o desconforto do ex-líder Carlos Guimarães Pinto com a forma “desmazelada” como a equipa de comunicação divulgava as suas participações nas redes. O problema foi ultrapassado? O Carlos já teve oportunidade de dizer que ele próprio o considerava ultrapassado. É óbvio que no grupo parlamentar procuramos que haja a capacidade mais ampla possível de comunicar e os meios estão ao dispor de todos os deputados. Queremos que o Carlos esteja bem, confortável e motivado. Creio que ele já esclareceu que tem toda a motivação para estar no projeto, nós também temos muito gosto em que esteja e obviamente a cada dia procuramos melhorar as condições de trabalho de cada um, sendo que não são perfeitas. Quanto às acusações de supostos tiques socialistas, com Rui Malheiro a apontar o fechamento num núcleo duro da sua liderança e da liderança anterior, como as contraria?Fico espantado pela acusação de tique socialista, que nem consigo em rigor perceber. Há continuidade na equipa, mas também renovação. Na eleição anterior houve algumas pessoas que continuaram da equipa de João Cotrim de Figueiredo, mas já na altura houve renovação. Neste caso, creio que não estou errado se disser que a Comissão Executiva que apresento a votos tem uma renovação de cerca de 40%, que não é coisa pouca. Temos pessoas que estiveram em muitas batalhas da IL, que felizmente continuam disponíveis para o combate político e têm enorme responsabilidade também, juntamente com os núcleos e membros, no caminho de enorme sucesso que temos. Ter sucesso não pode ser uma coisa má. Ter sucesso é bom e há muitas pessoas que felizmente continuam, outras tiveram outros desafios e, entre renovação e continuidade, fundamental é que continuemos a ter capacidade de atrair novos membros e de alargar o espaço de influência da IL. Analisando os últimos dez meses, não encontra nenhuma desvantagem em não haver participação da IL neste Governo?Para ser totalmente sincero, não. Creio que foi uma excelente decisão irmos sozinhos a eleições e foi uma excelente decisão não integrarmos este Governo. Haverá circunstâncias de composição parlamentar que justificam algumas insuficiências da governação da AD, mas devo confessar que não vejo capacidade reformista, capacidade de transformar o país num momento em que o mundo muda tanto que já não chega fazer mais ou menos o mesmo, sendo preciso mesmo acelerar o país. Não se pode governar apenas para os sindicatos. E aquilo que a AD fez durante estes dez meses foi governar para os sindicatos. Haverá muitos portugueses que se perguntam: “Eu votei na AD, mas o que é que de relevante a AD fez para que a minha situação pudesse mudar?” Veja-se as pessoas com mais de 36 anos, que olham para as promessas de descida da carga fiscal e não encontram nenhuma, pois do pouco que desceu uma parte significativa dessa alteração que houve nos últimos meses deve-se ainda ao governo de António Costa. No caso das empresas, falamos de uma descida de um ponto percentual no IRC, com muito poucos sinais no sentido da desburocratização e da aceleração da economia que seria necessário promover. Mesmo no IRS Jovem, veja-se a situação dos portugueses que começaram a trabalhar cedo, porque acumularam estudos com trabalho, porque tinham necessidade ou vontade de ter autonomia. Esses, provavelmente, já não podem sequer, tendo 29 ou 30 anos de idade, se começaram a trabalhar aos 18 ou 19. Veja-se bem a mensagem que se está a passar.Se tivesse havido ministros liberais neste Governo, fariam melhor em sair?Não estariam, seguramente, satisfeitos, e teríamos um enorme problema neste momento nas mãos, porque estas políticas não são as que a IL quer para o país, mesmo que um entendimento no Governo implicaria excedências de parte a parte. Estão tão longe desse espírito de transformação que a IL deseja que estaríamos, ou já fora, ou com um enorme problema para resolver. A AD falhou nos alunos sem professor, nos planos de emergência da saúde há um falhanço rotundo, e também nas políticas de habitação as políticas desequilibradas, só pelo lado da procura, aqueceram um mercado que já estava numa crise profunda. Como é que a IL poderia estar incluída numa solução que falha tão redondamente, porque não assume as políticas reformistas que são necessárias para o país?Tal como em 2023 não era suposto haver eleições no ano seguinte, nada impede que a Assembleia da República seja dissolvida no mandato da próxima Comissão Executiva. Se for presidente, pode garantir que a IL irá a votos com listas próprias?É a minha convicção. Nas próximas eleições, se acontecerem ainda no mandato da próxima Comissão Executiva, a IL deve apresentar-se a eleições com a sua visão para o país, os seus candidatos e as suas propostas. O que é justo que aconteça nas próximas eleições, aconteçam quando acontecer? Que a AD seja avaliada pela sua governação. Se os portugueses considerarem que governou bem, é justo que tenha uma compensação por essa melhor governação que fez. Se os portugueses estiverem desiludidos com a governação da AD, é justo que tenha também a compensação negativa pelo trabalho que fez. A IL não deve ser parte desta avaliação. Se for possível formar um Governo maioritário com a AD, além da manutenção da linha vermelha com a Chega, quais são as exigências inultrapassáveis que a IL deve fazer?Para nós é muito importante que haja descida de impostos generalizada para todos. Cavaco Silva fez um desafio, há uma semana, e parece que não foi acolhido por ninguém. Mas quero dizer que a IL vai apresentar uma proposta de reforma fiscal para quando formos a eleições outra vez. Essa reforma fiscal é a gémea da reforma do Estado. Uma depende da outra, porque é preciso libertar recursos para que seja possível baixar impostos. Nestes próximos anos, até às próximas eleições, a IL deve desenvolver um conjunto de propostas reformistas. Só a IL tem capacidade, energia e desprendimento de clientelas. Porque queremos ser reformistas, temos de nos apresentar às eleições com esta visão e não com outra qualquer.. As próximas eleições são daqui a poucas semanas, na Madeira. Como se consegue ter mais do que um deputado único? Tivemos duas eleições recentemente, temos uma ideia clara dos problemas da Madeira e estamos convencidos de quais são as mensagens que é preciso reforçar. Há que falar de autonomia e de impostos aos madeirenses, mas há algo que me parece evidente, respeitando a autonomia do núcleo da Madeira, que tem a responsabilidade de conduzir a campanha, pois parece-me que as questões de transparência são determinantes. Terminamos este mandato de Miguel Albuquerque com uma parte significativa dos seus secretários regionais arguidos em processos criminais. Quando houve tantas saídas do Executivo de António Costa criou-se um questionário, aplicado também ao Governo de Luís Montenegro. Se o questionário fosse aplicado ao Governo Regional de Miguel Albuquerque, quantos estariam em condições de continuar em funções?Está totalmente fora de questão que um, dois ou mais deputados da IL possam dar apoio parlamentar a um novo governo de Miguel Albuquerque? Não faz nenhum sentido. A decisão da Madeira é legítima e temos de respeitar, mas não estamos condicionados a suportar soluções com as quais temos uma enorme divergência. Aliás, perguntei no Parlamento ao primeiro-ministro, que se prepara para apresentar um pacote anticorrupção, se esse pacote será aplicável na Madeira.Portanto, estando também excluída a viabilização de um executivo regional socialista, a ILserá oposição na Madeira.E faremos com determinação, defendendo as nossas ideias. É algo a que estamos habituados, que fazemos também na Madeira com intensidade, com desafio, com propostas constantes. Seremos sempre parte das soluções, mas das soluções em que acreditamos, e não das soluções em que não acreditamos.Um dos partidos da vossa família política, o FDP da Alemanha, integrou uma coligação com os socialistas do SPD. E um dos dois partidos liberais dos Países Baixos, o VVD, integra um executivo liderado pelos nacionalistas do VVV. Isto é ser pragmático ou oportunista?Não faço juízes de valor sobre as decisões que esses partidos tomaram. É preciso dizer também que as circunstâncias são diferentes, e que as famílias políticas dos partidos que cita são conhecidas, mas não quer dizer que as suas propostas sejam iguais às dos partidos correspondentes no espaço político português. Dito isto, a IL tem uma visão muito vincada daquilo que é o seu papel e os seus objetivos. Para nós está totalmente posto de parte qualquer tipo de entendimento com extremismos à direita e com visões socialistas da sociedade. Já agora, também não são assim tão diferentes. Tem sido notório nesta legislatura que há muitas votações em que há alinhamento entre o PS e o Chega. É a circunstância de, em matéria económica e do Estado, terem visões muito semelhantes. Não precisam de combinar nada. Encontram-se, muitas vezes, no caminho de mais despesismo, mais Estado, mais intervenção e menos sociedade civil e iniciativa privada. Se for reeleito, qual será o grau de autonomia dos núcleos territoriais na negociação de coligações autárquicas? Estamos em condições de ir sozinhos onde quer que estejamos e os núcleos estão perfeitamente à vontade para tomar a decisão que entenderem, com o conhecimento que têm do terreno. Com a garantia de que, se o nosso resultado eleitoral for um pouco menos veemente do que poderia ser se entrássemos em coligações, estou disponível para aceitar o custo disso. O trabalho de autonomia política, financeira e estratégica feito neste mandato põe-nos nessas condições. Não dependemos de ninguém, não temos de ir com ninguém, não há nenhuma questão que limite a liberdade de o partido tomar as suas decisões.Além das políticas liberais que teriam que ser implementadas, é ou não verdade que o peso relativo da IL em relação ao CDS, parceiro tradicional do PSD, pode ser entrave a coligações? Na situação excecional de fazermos algum entendimento, será sempre por ideias e propostas. Para fazer igual, não estaremos lá a fazer nada. E, obviamente, o peso eleitoral da IL tem de ser respeitado, mas esse é um problema do PSD, não é meu. Estou perfeitamente confortável em apresentar as dezenas ou a centena de candidaturas autárquicas que vamos apresentar e irmos sozinhos em todos os concelhos. Os entendimentos entre o PSD e o CDS dizem respeito a esses partidos. Eu quero precisamente o contrário, que haja liberdade de decisão. Mais importante do que chegar a um determinado resultado é a afirmação das ideias liberais no terreno, que pode ser muito útil em futuras autárquicas, e que também nos combates eleitorais a outro nível que o partido poderá ter. Portanto, a mim não me interessa tanto essa matemática de dizer que o objetivo é X ou Y.Se Carlos Moedas quiser manter o atual número de vereadores centristas, não deve contar com a IL, mesmo que haja uma frente de esquerda?Será, nesse caso, um problema de Carlos Moedas. E vê vantagens de Lisboa continuar a ser governada à direita? Há pouco, quando fazia o balanço da governação da AD, entendendo que está muito aquém do que foi prometido, e até do que o país precisa, há visões que são diferentes. Tivemos o exemplo da proposta de habitação de António Costa, que tinha quase coerção sobre a propriedade privada. Nessa matéria, quando a AD entrou em funções, propôs uma visão completamente diferente, que respeita a propriedade privada. Se me pergunta se há diferenças entre uma governação e outra, claro que sim. Se me pergunta se a governação de Carlos Moedas, a nível municipal, e a governação da AD, a nível nacional, estão aquém do que uma e outra realidade precisavam, digo também, obviamente, que sim. Mas não é a IL que tem de ser responsabilizada por essa avaliação. Moedas, se for candidato, o que ainda não foi clarificado pelo próprio, tem de perceber o que quer fazer e o caminho que deseja. A IL não pode ser responsabilizada se vier a ganhar uma solução de esquerda. No limite, se Carlos Moedas está a governar bem a cidade, então deve apresentar-se sozinho. E, se está a fazer bem, deveria ganhar.O que aconteceu a Tiago Mayan Gonçalves, que era o autarca liberal mais mediático, como presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, constituirá uma mancha para o partido? Estou convencido que não. Não nego a gravidade do comportamento em causa, assumido pelo próprio. Mas estou convencido que não, porque o partido teve uma reação evidente de condenação. Aquilo que define a matriz da IL é não haver contemplações neste tipo de situações. Eu próprio, enquanto presidente do partido, tive a obrigação de manifestar, respeitando as competências do Conselho de Jurisdição, a minha repulsa por este tipo de comportamento. Lamentando eu profundamente que tenha acontecido, a posição da IL é absolutamente clara..Se for reeleito, anunciará no domingo o nome do candidato que defende para as próximas eleições presidenciais. É uma escolha prioritária neste momento? Parece-me evidente que sim. Qual é a discussão que temos desde novembro? É sobre candidatos presidenciais. O próprio PS já sentiu que ficar mais tempo em indefinição é prejudicial para o partido. Tivemos o Chega a avançar com o nome do costume, com o André Ventura, também porque houve a perceção de que era importante clarificar. E o próprio PSD também começa a sentir que essa clarificação será necessária. Parece-me óbvio que a IL tem que estar nesta discussão, apoiando um candidato que traga não só uma visão liberal, mas também algo que me parece muito necessário neste momento: a capacidade de acreditar no país. Temos tido uma degradação das instituições, tivemos tempos difíceis e, portanto, creio que será muito importante que o país tenha um candidato que traga frescura, alegria, confiança, e que nos faça acreditar em Portugal. Penso ser minha responsabilidade apresentar-me aos membros da IL como uma equipa que assegura a gestão executiva do partido, com uma visão que consta da moção de estratégia global que apresentei, com um candidato a primeiro-ministro, que sou eu próprio, e com um perfil que possa representar a IL nas eleições presidenciais, mas que possa, ainda mais, representar essa visão de esperança, de confiança e de alegria, que nos tem faltado tanto.

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